Verão combina com praia e, no calor, quem resiste a um bom mergulho no mar? No entanto, justamente nesse cenário prazeroso, está "escondido" um fenômeno que gera inúmeros afogamentos: as chamadas "correntes de retorno" — que podem acontecer em várias praias da Grande Vitória. A reportagem de A Gazeta entrevistou três especialistas para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto.
Primeiramente, é importante entender que a corrente de retorno é transversal à praia. Ou seja, ela se assemelha a uma espécie de corredor que se forma na parte mais rasa do mar em direção às regiões mais fundas. Subchefe do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a professora Jacqueline Albino explica como o fenômeno acontece.
"A corrente de retorno ocorre quando há uma convergência de duas ondas. Nesse ponto de encontro, o volume de água vai ser maior, assim como a energia. Então, em vez da energia da onda se dissipar no espraiamento depois da arrebentação, ela retorna. Com essa força, a água é capaz de carregar sedimentos e até uma pessoa", afirma.
Com essa mudança no sentido, a água faz com que a profundidade do mar seja maior nesse "corredor" e quanto maior ela for, maior será a velocidade da corrente. Assim, o banhista pode ser levado para uma área que não dá pé e se desesperar ou cansar na tentativa de nadar de volta para o raso.
Além do encontro das ondas, a especialista explica que há outros fatores que influenciam na formação das correntes de retorno, como a inclinação da praia e a exposição dela. "É preciso ter uma declividade média ou alta depois da arrebentação. Praias que são mais expostas e abertas também propiciam a formação", disse Jacqueline Albino.
Especializado em Oceanografia Física pela Ufes, o mestre João Koppe ressalta que outras variáveis interferem no surgimento dessas correntes, como o movimento da água ao longo da praia, o volume da maré e até a fase da lua. "Quanto menor a maré, maior a probabilidade de retorno, e a maré baixa é intensificada nas luas cheia e nova", esclarece.
Segundo o oceanógrafo, se o vento estiver soprando de forma longitudinal (no sentido do comprimento da praia), o fenômeno também é favorecido. Por outro lado, se a praia for mais acidentada ou tiver pedras (formando o que é chamado de "terraços de abrasão"), a chance de ocorrência é menor.
De acordo com a professora Jacqueline, as correntes de retorno são típicas de algumas praias e podem ser "temporárias associadas" em outras. Isso significa que, em locais em que geralmente não há ocorrência, dependendo do nível do mar, da intensidade e sentido do vento e da ocorrência de tempestades, o fenômeno pode, sim, acontecer.
De acordo com os especialistas ouvidos por A Gazeta, há três formas principais de identificar uma corrente de retorno:
Se você esquecer dos três tópicos acima e acabar caindo em uma corrente de retorno, o primeiro passo é manter a calma. Sem desespero, a orientação do salva-vidas Roberto Emblich é nadar para os lados – jamais contra a corrente, em direção perpendicular à areia da praia.
A orientação, claro, tem embasamento na formação do fenômeno. "Às vezes, a corrente nem leva o banhista para tão longe, mas a velocidade do nado pode ser inferior à da corrente, gerando o cansaço e o afogamento pela fadiga. O segredo é nadar para onde as ondas estão arrebentando e aproveitar o embalo para voltar à praia", complementa Jacqueline.
Lembrando que as correntes de retorno podem acontecer em inúmeras praias, mesmo que sob condições específicas e mais esporádicas, a professora Jacqueline Albino elenca algumas localidades do Espírito Santo em que o fenômeno comum. Entre elas, há várias que são muito procuradas por turistas e capixabas durante o verão:
"Na Serra não tem muito porque as praias têm estruturas duras na região de arrebentação, como é caso de Manguinhos. Praias mais fechadas como a Curva da Jurema (Vitória), Peracanga e Enseada Azul (Guarapari) também não costumam registrar correntes de retorno", conclui a oceanógrafa.
Consciente do fenômeno e de como escapar, você não caiu em uma corrente de retorno, mas vê alguém se afogando em uma: o que fazer? "Quem não é habilitado, que não tem curso de salvamento, pode tentar ajudar e se afogar também. O que essa pessoa pode fazer é jogar uma prancha ou boia e procurar o salva-vidas", orienta Roberto.
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