Zé Botinha anda por vários bairros de Cariacica equilibrado numa perna de pau
Zé Botinha anda por vários bairros de Cariacica equilibrado numa perna de pau. Crédito: Bernardo Bracony

Em cima de uma perna de pau, Zé Botinha é o equilibrista de Cariacica

Com quase 80 anos, morador do bairro Aparecida chama atenção pelas ruas com sua proeza

Publicado em 20/04/2020 às 15h51
Atualizado em 20/04/2020 às 15h51

Ele tem 1,60m de altura, mas se torna um gigante de quase três metros quando está em cima dela. José Henrique de Souza, ou melhor seu Zé, o Zé Botinha, é um senhorzinho de quase 80 anos, morador do bairro Aparecida, em Cariacica, e que está famoso pelas ruas da cidade depois de se aventurar numa perna de pau.

“É uma lembrança de infância mesmo. Eu e meus irmãos brincávamos de andar de perna de pau quando crianças na roça. Aí, há uns dois anos mais ou menos eu resolvi pegar umas varas de bambu, aqui por perto, e fazer umas pernas de pau pra eu voltar a andar. Rodo tudo por aqui, já fui lá nos bairros de Porto de Santana, Itaquari...”, conta ele, todo orgulhoso pela proeza.

Mas não pense que isso é algo fantástico para ele. Tudo é encarado com naturalidade, como se fosse um atleta de circo que se apresenta desde sempre se equilibrando em cima das pernas de pau; descer e subir as ladeiras íngremes de onde ele mora usando a perna de brinquedo, por exemplo, é algo comum para ele. Até ir ao cemitério ele já foi desse jeito.

Zé Botinha sobe na perna de pau sozinho, pegando impulso ao se escorar numa parede. Crédito: Bernardo Bracony
Zé Botinha sobe na perna de pau sozinho, pegando impulso ao se escorar numa parede. Crédito: Bernardo Bracony

“Não tenho medo, é um divertimento. É gostoso de andar. Eu lembro de quando eu era rapazinho novo. Aqui em cima o ar corre mais macio e acaba sendo uma academia, um exercício pra não dar dor nas pernas e é meio de transporte também. O povo usa bicicleta, eu uso perna de pau”, se diverte, enquanto se equilibra e dá entrevista.

A perna de pau que ele usa atualmente, na verdade, é uma perna de ferro, pois a base da perna é feita de ferro. Somente a parte que ele segura com as mãos e que ajuda a equilibrar as pernas é de madeira. Ele costuma andar sempre de chinelo e não há nada que prenda os pés dele à perna, que tem altura de um metro. É tudo na base do equilíbrio mesmo. “Eu subo nelas sem ajuda de ninguém. Costumo escorar minhas costas nas paredes daqui de casa, dar impulso e pronto, já saio andando.”

Zé Botinha usa apenas chinelos para andar na perna de pau. Crédito: Bernardo Bracony
Zé Botinha usa apenas chinelos para andar na perna de pau. Crédito: Bernardo Bracony

“Não adianta, ninguém segura ele. A gente dá conselho: ‘Botinha, não monta nessa perna de pau que isso é muito alto’. Aí, ele fala que não é alto e que ele é que nem criança, que nem menino. Ele trepa nesse bicho e fica pra lá e pra cá, pelas ruas e chega até a dançar. Tem jeito com ele não”, complementa Nilso Amancio, vizinho de Zé Botinha.

CHEIO DE HISTÓRIAS

Seu Zé é mineiro, mas mora no Espírito Santo há 60 anos. É um dos primeiros moradores do bairro Aparecida, ou seja, acompanhou de perto todo o crescimento e desenvolvimento do local. Tanto que praticamente todo mundo na rua o conhece. Inclusive, a história dele faz parte de um projeto nas redes sociais idealizado por um vizinho.

“O projeto foi criado com o intuito de divulgar a história dos moradores daqui, de resgatar essas memórias de quem ajudou a construir a comunidade desde o surgimento do bairro. E seu Zé, logicamente, não poderia ficar de fora”, conta André Oliveira, criador do projeto.

Zé Botinha é figura conhecida em Cariacica. Crédito: Bernardo Bracony
Zé Botinha é figura conhecida em Cariacica. Crédito: Bernardo Bracony

ELE NÃO PARA

Você, leitor, deve estar se perguntando o que o seu Zé faz da vida, além de andar de perna de pau, não é? Pois bem, seu Zé, apesar da idade, não para: ele é uma espécie de faz tudo. Numa oficina na parte de baixo de sua casa, ele conserta bicicletas, faz serviços de pedreiro, artesão e até podagem de árvores. Tudo sozinho.

O apelido Zé Botinha veio de quando ele chegou ao bairro onde mora, décadas atrás. As ruas eram cheias de lama, e, inquieto, ele acabava tendo que usar muita bota. Daí, o “Botinha”. “Enquanto eu puder, enquanto eu tiver forças, eu vou andar na perna de pau. Se eu tiver com 90 anos ainda vou andar nela”, sorri, como se fosse um rapazinho novo mesmo.

Zé Botinha teve seu apelido dado por outro motivo: anos atrás usava muito botas para andar nas ruas cheias de lama. Crédito: Bernardo Bracony
Zé Botinha teve seu apelido dado por outro motivo: anos atrás usava muito botas para andar nas ruas cheias de lama. Crédito: Bernardo Bracony

É um misto de surpresa e tensão ao ver o Seu Zé descendo e subindo as ladeiras de onde ele mora. Dá um frio na barriga só de imaginar a possibilidade de ele cair. Agora, pergunta se ele tem medo? É de dar inveja a disposição dele. Enquanto os vizinhos se dividiam, entre apoiar e/ou conter as “travessuras do seu Zé”, a gente ficou conversando por mais de uma hora, sempre entre subidas e descidas na perna de pau. Ele deve ter feito isso umas quatro vezes, não mostrando nenhum cansaço e nenhuma dificuldade. Parece que pra ele é como andar de bicicleta, algo fácil depois que se aprende e que não se esquece.

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