Um vírus transmitido de animal para seres humanos, capaz de se espalhar rapidamente. A definição pode ser atribuída ao novo coronavírus - que surgiu na China e já se espalhou por quatro continentes -, mas também a vírus como o ebola, a febre amarela, a influenza e até o HIV. Mas, afinal, por que novos vírus, como esses, aparecem?
A resposta tem a ver com a forma como lidamos com a nossa casa: o planeta. Segundo Crispim Cerutti Júnior, infectologista e professor da Ufes, o surgimento de novos vírus está ligado ao que muitos cientistas chamam de "saúde única".
"O equilíbrio do estado de saúde das populações humanas está relacionado às condições ambientais e ao estado de preservação das espécies animais e vegetais. O crescimento excessivo das populações humanas acaba demandando mais recursos do planeta. Lidar com os recursos de forma descuidada gera vírus como esse coronavírus", explica o professor.
De acordo com o professor, desde os anos 1970, o surgimento de "agentes patogênicos", capazes de provocar doenças infecciosas, têm crescido de forma expressiva e preocupante. Para ele, o surgimento de novos vírus e doenças está diretamente ligado ao crescimento da população mundial.
"Na medida em que a população humana aumenta, ela precisa ocupar maiores espaços e, com isso, estabelecer inter-relação com novos ambiente e novas espécies de animais e vegetais. Essas novas relações fazem com que micro-organismos desses novos ambientes e dessas espécies vegetais e animais que os humanos têm contato, acabem se transformando em agentes de doença. Grande parte dos vírus têm sua origem remotamente, ou recorrentemente, nos aninais", afirma.
O crescimento da população e sua expansão para novas áreas geográficas também proporciona que novos vírus, como o coronavírus, se espalhem mais rápido. Mais pessoas vivem em contato próximo com animais selvagens e domésticos, o que possibilita que as doenças passem entre animais e pessoas. Além disso, as pessoas estão, cada vez mais, em deslocamento pelo mundo.
"A população cresce, ocupa mais espaços, invade territórios antes próprios da natureza. E ao lado disso, o deslocamento polucional no mundo tem sido cada vez mais rápido. Doenças que antes ficariam restritas a uma área pequena, hoje ganham alcance internacional. Quantos brasileiros vivem na China? Quantas pessoas a gente conhecem que viajam ou estão fora do país?", avalia.
Com as mudanças climáticas e o aumento do uso indevido da terra, como desmatamento e práticas agrícolas intensivas, a tendência é que novos vírus e doenças continuem a aparecer. Na visão do professor e infectologista, a saída para melhorar esse quadro passa por duas questões fundamentais: desenvolvimento sustentável e responsabilidade social.
"A gente precisa criar formas construtivas de relacionamento com o meio ambiente. Formas de produção necessárias ao ser humano que não desrespeitem a estrutura do meio ambiente. A gente precisa aprender a lidar com o ambiente de forma construtiva", defende.
Até a desigualdade social facilita o surgimento de doenças. "É necessário inclusão social. Pessoas em condições adversas de vida estão mais exposta ao risco, são mais facilmente infectadas por vírus. As coisas vão melhorar à medida que a gente tiver moradias melhores, condições melhores de saneamento e uma forma higiênica de lidar com os alimentos", esclarece.
Em resumo: o planeta é a nossa casa, cuidar dele é cuidar de nós.
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