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Entregador dos Correios diz que não denunciará policiais do ES por medo

Entregador dos Correios diz que não denunciará policiais do ES por medo

A corregedoria da Polícia Civil vai apurar a conduta dos policiais envolvidos em confusão na Reta da Penha, Vitória, durante uma manifestação da categoria

Publicado em 25 de novembro de 2019 às 22:58

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“Já morei em periferia e nunca fui tratado assim. Tenho amigos na Polícia Civil e na Polícia Militar e nunca tive problema com eles”. A declaração é do entregador dos Correios que aparece em um vídeo durante uma discussão com dois policiais civis durante uma manifestação da categoria, na manhã desta segunda-feira (25), na Avenida Nossa Senhora da Penha, em Vitória.

O entregador de 28 anos diz estar com medo devido ao nervosismo dos policiais. Por esse motivo ele preferiu não ser identificado nesta reportagem. Ele afirma que trabalha há sete anos nos Correios. Durante o protesto por melhorias salariais e de condições de trabalho, o grupo de manifestantes, formado por policiais civis e delegados, fechou as três faixas da Reta da Penha no sentido Goiabeiras. Nas imagens, é possível ver o momento em que uma policial grita com o motoboy, que está parado com a moto: “Você cala a sua boca e espera!”. Ela recebe o apoio de outro policial, que vai pra cima do entregador, grita e puxa o braço dele.

Quem grava o vídeo é um motoboy, que também aguardava para passar pela via. A policial tenta tomar o celular dele. O aparelho telefone foi escondido na cueca para que não fosse tomado pelos policiais. O vídeo viralizou por vários grupos de aplicativos de mensagens. 

Segundo o entregador, os policiais chegaram a dar voz de prisão para o colega motoboy, que passou a gravar a cena devido à indignação. O funcionário dos Correios relatou como tudo aconteceu em entrevista à reportagem de A Gazeta.

Para onde você seguia quando tudo aconteceu?

  • Por causa das chuvas, acumulou muito serviço e comecei a semana fazendo entregas nos prédios. Fui para a Enseada do Suá, onde fiz entrega, e voltaria para Goiabeiras, por isso passei pela Reta da Penha.

Como foi quando chegou ao ponto onde ocorria o protesto?

  • Eu parei por causa do protesto. Eles estavam ocupando as três faixas da pista, fui acompanhando eles junto de outros motoqueiros. Até coloquei os dois pés no chão. Um senhor que estava à frente falou: “vai me atropelar não, hein”. Eu disse que não. Já fiz manifestação por causa de trabalho, sei que é direito das pessoas.

E como começou a discussão?

  • O policial do vídeo viu a situação e veio para cima de mim gritando que eu não poderia atropelar as pessoas. Isso antes de o rapaz da moto começar a gravar. O policial disse que iria me prender. Eu perguntei o porquê. e nada dele responder. Ele já tinha me segurado pelo braço e torcido pra trás,. Pedi que pelo menos ele me deixasse sair da moto e deixá-la em um lugar seguro, pois havia produtos de entregas ali. E eu queria saber o porquê de estar sendo preso. 

Foi uma ação coerente?

  • Não. Ele falou  não quero ouvir mais não, o motoqueiro estava do meu lado, pois seguíamos o grupo, achou um absurdo e começou a gravar. Essa mulher não tinha nada a ver com a discussão toda, disse que eu tentei atropelar ela. Veja se eu, com uniforme e moto dos Correios, vou tentar atropelar alguém durante uma manifestação de policiais? 

O que aconteceu depois que o policial pegou no seu braço?

  • Ele colocou a mão em mim e a mulher (outra policial) percebeu que o motociclista estava gravando. Foi aí que os dois foram para cima dele. O motociclista teve que colocar o celular na cueca para não ter o telefone levado, iam prendê-lo. Mas uma pessoa, que se identificou como delegado, disse que era para soltar, explicou o protesto e disse que estavam em más condições de trabalho. 

Você vai registrar queixa contra os policiais?

  • Eu estou com medo. Ouvi áudios de um deles falando que era para ter dado um tiro na minha cabeça. Eu tenho esposa e filho de um ano, nunca tive problema com a polícia. Pelo contrário, tenho amigos militares e civis. Nunca passei por isso na vida. Mas se eu fizer um boletim de ocorrência, vai ter meu nome e meu endereço. Como vou viver assim? Como vou ter paz desse jeito? Não quero problema, não fiz nada para isso tudo. Não estou conseguindo trabalhar mais. 

A Corregedoria da Polícia Civil informou que vai apurar a conduta dos policiais. Por meio de nota, a Polícia Civil confirmou que os envolvidos são policiais e garantiu que "todas as providências cabíveis serão adotadas pela Corregedoria", mas não detalhou quais seriam estas ações. A PC também afirmou que "não compactua com desvios de conduta e que atitudes como as das imagens não refletem o treinamento oferecido aos policiais que ingressam na academia".

Por meio de nota, o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Espírito Santo (Sintect-ES) informou que "está acompanhando a repercussão da agressão a um trabalhador motorizado dos Correios durante a manifestação da polícia civil ocorrida em Vitória nesta segunda-feira (25)."

Na nota, o Sintect-ES chama o ato do policial de "covardia" e faz referência a um áudio que circula nas redes socais. "A covardia de alguns manifestantes, registrada em vídeo que já circula nas redes sociais, evidenciam o completo descontrole daqueles que deveriam zelar pela segurança pública dos capixabas. Os relatos dos envolvidos tampouco contribuem para a apuração do caso. Em um dos áudios, uma das agressoras chega a afirmar que “deveria ter dado um tiro na cara”, além de afirmar de maneira caluniosa e subjetiva que o trabalhador ameaçou atropelar os manifestantes", descreve a nota. 

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O Sintect- ES informou ainda que  tomará as medidas cabíveis para resguardar o trabalhador vítima de agressões, calúnia e exposição. Além disso, o sindicato também reitera o pedido para que a Secretaria Estadual de Segurança Pública e a Corregedoria da Polícia Civil do Espírito Santo atuem de maneira transparente e imparcial na apuração do caso.

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