A missão de um veículo de comunicação não acaba quando ele conta para você, leitor, o que os políticos estão fazendo nas Casas Legislativas, as surpresas preparadas nas negociações econômicas ou o crime cometido na noite passada. Muito além disso, um jornal serve para contar a história de um povo e, há quase um século, A Gazeta faz do capixaba a notícia.
Por isso, em A Gazeta, sempre teve e sempre terá espaço para a história do povo capixaba, que é construída por gente como você. Gente que trabalha, que busca fazer a diferença, que nunca desiste dos sonhos e acaba conquistando muito mais do que pensava. Enquanto houver capixaba fazendo história, nós estaremos aqui para contá-las, como fazemos há 91 anos.
Arte transforma
Há 10 anos, por exemplo, A Gazeta produziu uma série de reportagens com o tema “A Política que se faz no dia a dia”. Uma das histórias contadas pelo repórter, hoje colunista, Vitor Vogas foi a do grupo Facto (Fazemos Arte Com o Teatro do Oprimido), que usava a arte para reproduzir situações vivenciadas pelos jovens do bairro São Benedito e levantar debates sobre soluções para a realidade que viviam.
Abraços calorosos marcaram o reencontro de quatro dos 10 jovens que participavam desse grupo em 2009. Apesar do tempo e da distância, o respeito e admiração se fazem presentes nos olhos marejados e na voz embargada com que falam um dos outros.
Oportunidade
Um dos fundadores do grupo, o então professor de teatro Felipe Dall’Orto, agora com 40 anos, conta que demorou um pouco para o grupo se firmar. “Enfrentamos algumas dificuldades, como meninos que moravam em morros rivais e não podiam comparecer aos ensaios, mas quando o grupo se estruturou, ficamos uns 3 anos juntos”, relembra.
Jairo Santos, de 31 anos, é um dos que se lembra com saudade do tempo em que estiveram juntos e ressalta o quanto a passagem pelo Facto transformou a forma como encarava o mundo. O teatro, relata, deu a ele a oportunidade de perceber as potencialidades que o rodeavam.
Foi lá, também, que ele conheceu Marly Rodrigues, sua companheira, com quem tem um filho de cinco anos.“Depois do Facto, eu tracei novas metas na minha vida, conheci minha esposa e senti o desejo de ter minha formação acadêmica. O teatro mudou, inclusive, a minha perspectiva de família”, conta Santos, que se formou em Pedagogia.
Rodrigues, de 36 anos, narra com emoção os dias vividos em grupo. Ela foi a única mulher que permaneceu do início ao fim. “Era lá que a gente conseguia colocar pra fora tudo que a gente tava sentindo, todos os tipos de opressão que a gente vivenciava, tanto na comunidade e na família, quanto na escola. Era ali que a gente conseguia encontrar meios de lidar com isso no nosso dia a dia”, relembra.
Orgulho
Todos os integrantes do Facto fizeram curso superior. Dall’Orto relata que, quando conheceu aqueles jovens, essa não era a perspectiva. “Um deles, por exemplo, quando chegou ao grupo era pedreiro e nem sonhava em fazer faculdade. A maioria deles, senão todos, foram os primeiros de suas famílias a se formar”, conta com orgulho.
Ao ouvir isso, Rodrigues, que foi além e já fez pós graduação e outros cursos, abriu um sorriso.
Marcus Vinicius Rocha, de 32 anos, foi um dos que encontrou na arte uma vocação para a vida: “O teatro mudou muito o que eu ia fazer dali pra frente, porque foi ali que eu comecei a me interessar por produção audiovisual e me formei em jornalismo”.
Pedagogos, advogados e jornalistas. Incentivados por um professor apaixonado pelo que fazia, aqueles 10 jovens descobriram, aos 20 e poucos anos, que podiam ser mais. “Não existia muita perspectiva. Até então não podia. E aí eles descobriram que eles podem fazer o que quiserem”, assinala Dall’Orto.
Continuidade
A beleza da marca deixada pelo teatro Facto na vida desses jovens fica ainda mais evidente quando se olha para a continuidade dada por eles à missão de usar a arte como intervenção na realidade.
Com o fim das atividades do Facto, por meio do edital do Ministério da Cultura, Santos e Rodrigues, já estavam engajados no trabalho com a comunidade, encabeçaram as atividades da Varal Agência de Comunicação, onde ainda trabalham.
Projeto da Associação Ateliê de Ideias, a agência trabalha com comunicação comunitária e, além de prestar serviços na área audiovisual, atua em capacitação, informação e potencialização do público que compõe o Território do Bem, oferecendo oficinas de fotografia, vídeo, edição e diagramação de jornal. Aulas que os ex-componentes do Facto já ministraram pelo menos uma vez.
Empatia
Tradicionalmente, em dias de Natal, A Gazeta contava a história de capixabas que eram exemplos a serem seguidos. Em 2004, 15 anos atrás, a filha de peixeiros, Olíria Cunha sorria na foto de capa.
Na época, a empresária fazia visitas periódicas às crianças órfãs e alegrava, fantasiada de palhaça, a vida dos pacientes da ala de oncologia do Hospital Infantil. Quem olha a foto de Cunha, sorrindo ao lado das irmãs de Calcutá, não imagina que sua vida passaria por reviravoltas.
Em 2008, quando se separou do ex-marido, Cunha perdeu tudo que tinha e voltou a morar de favor com sua filha na casa de seus pais. “Eu saí da minha casa na Ilha do Boi para morar em um quartinho. Eu tive que juntar forças para me reconstruir”, relembra.
Sucesso
E conseguiu. Cunha abriu um escritório de assessoria financeira e, aos poucos, reconquistou o sucesso. Junto com a melhora da realidade financeira reapareceu, também, a vontade de ajudar os outros.
Dessa vez, depois de enfrentar dificuldades com a saúde emocional da filha, o olhar da empresária se voltou para um público muitas vezes negligenciado. “Comecei a prestar atenção, dentro do meu escritório, como era a vida dos funcionários. O que adianta eu ter um trabalho voluntário na rua se eu não cuido da minha casa?”, pondera.
A contadora passou a conhecer cada um dos seus colaboradores e contratou pessoas que precisavam de uma chance. É o caso de um dos seus funcionários que lutou contra as drogas por muitos anos. “Teve época em que eu faltava trabalho, tinha vergonha de entrar aqui porque, mesmo fazendo aquelas coisas, a Olírica me ajudou com minhas dívidas e manteve meu trabalho”, conta o rapaz, que agora vai assumir o cargo de coordenador de um dos setores da empresa.
Com uma gestão pautada na humanidade e na importância da saúde mental, Cunha desenvolveu um plano de benefícios para seus colaboradores que inclui meditações semanais, ginástica laboral e até login e senha em plataformas de streaming para que todos tenham direito ao lazer. “Eu preciso cuidar desses meninos e reforçar o tempo inteiro o quanto eles são importantes na minha vida”, assinala.
A menina que queria votar
O que o Espírito Santo tem de sobra é mineiro. O Estado está cheio de famílias que começaram nas terras vizinhas mas estão por aqui há muitos anos e se tornam capixabas de coração. Renata Rabelo é uma dessas mineiras que se mudou para Vitória com a família e fez história por aqui.
Em 1994, aos 15 anos de idade, Rabelo escreveu uma carta para o Tribunal Superior Eleitoral lamentando que, como não faria 16 anos até a data limite estabelecida por lei para o alistamento, ela não poderia votar.
A resposta veio por meio de uma ligação do próprio presidente do TSE Sepúlveda Pertence. Não só ela foi autorizada a votar, como toda a legislação eleitoral foi alterada para que todos os jovens que fizessem 16 anos até o dia 3 de outubro (a regra anterior era até o dia 31 de maio) pudessem comparecer ao pleito.
Embora a família continue morando em Vitória, a advogada se mudou para Belo Horizonte para fazer faculdade e, desde 2013, mora em São Paulo com o marido e dois filhos.
Sua relação com a política também não mudou. Embora tenha recebido convites para participar de partidos e movimentos estudantis depois da exposição na época, Rabelo nunca quis se envolver.
Na reportagem anterior, a estudante já esboçava uma decepção com a classe política e seus privilégios. “Engraçado que já se passaram tantos anos e não dá pra dizer que a fama da classe política melhorou em nada. Mas ainda acompanho de perto, voto assiduamente e passo para os meus filhos a responsabilidade que temos por tudo que está a nossa volta”, ressalta.
HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO E VITÓRIAS PASSAM POR AQUI
Desde a costureira que é corredora de rua até a revelação capixaba que acabou se tornando a melhor triatleta do Brasil, A Gazeta contou a trajetória de diversos capixabas que tiveram grandes conquistas por meio do esporte, e muitos dos patrocínios chegaram até eles por causa da exposição na mídia.
32 anos de corrida e Prêmios
As paredes da casa em que Lusia Guimarães mora há quase três décadas no Morro do Cruzamento são tomadas por folhas de jornal em que ela apareceu, e, no corredor de entrada, medalhas e troféus se acumulam.
Entre as manchetes está A Gazeta em que ela foi capa no ano de 2001. “Devo ter umas três mil medalhas e além desses tem muito troféu guardado ainda, em caixas, porque não tem mais lugar pra colocar”, conta enquanto aponta para as prateleiras de troféus que se acumulam até o teto. Seu grande sonho, agora, é fazer uma prateleira de vidro.
Agora com 57 anos, Xuxa capixaba, como é conhecida, conta que os 32 anos de corrida de rua trouxeram para ela muitos prêmios. “Fiz tudo isso aqui com dinheiro de corrida”, relata, mostrando a casa reformada.
A renda que ganhava como costureira era pouca e foi pela premiação das primeiras colocações que alcançou que ela conseguiu comprar e reformar seu lar. O filho Bruno dos Santos, que também aparecia na foto da capa em 2001, na época com 11 anos, foi grande beneficiário dessas conquistas.
Foi com o dinheiro das competições que Xuxa, que se separou do ex-marido quando o filho tinha 2 anos, pagou a faculdade e cursos técnicos para que Bruno fosse contador.
Quando saiu na Gazeta, a atleta se preparava para correr a São Silvestre, ainda com o sonho de chegar entre as 50 primeiras. Agora já acumula 18 edições da corrida paulista.
Revelação do esporte capixaba
No dia 19 de outubro de 1999, o rosto de Pâmella Oliveira, com 12 anos, aparecia na capa do jornal A Gazeta pela primeira vez sendo apresentada como a maior revelação da natação capixaba daqueles anos.
O texto contava das dificuldades enfrentadas por ela e a mãe para se sustentar. O repórter Peter Falcão relatava que a atleta recebia cestas básicas e doações de amigos para se manter.
O tempo foi generoso para a capixaba. Vinte anos depois, a atleta acumula premiações em grandes competições e vive uma das melhores fases de sua carreira. Enquanto a nadadora de 12 anos sonhava com uma Olimpíada, a representante brasileira no triatlo, esporte que ganhou seu coração desde 2007, já acumula duas edições. “Brinco que nunca mudei de sonho, só mudei a estratégia para conseguir. Eu queria ir para os Jogos Olímpicos e para o Pan-Americano e o triatlo me trouxe isso”, afirma.
Oliveira se lembra do primeiro patrocínio que conquistou. O tio dela pediu dinheiro para algumas empresas com o objetivo de mandar a sobrinha para o campeonato brasileiro de natação em Belém, dois anos após a reportagem. “Quando passou o campeonato, eles perguntaram dos resultados e meu tio disse que eu tinha brilhado na competição”, relembra. Assim conseguiu, aos 14 anos,o patrocínio que durou cerca de 12 anos.
Apesar de receber convites para treinar fora do país desde pequena, a atleta, que não queria sair de perto da mãe, só saiu do Estado em 2009, quando mudou para o interior de São Paulo para se dedicar à nova modalidade.
De lá, foi uma das oito selecionadas para morar e treinar em Portugal durante seis anos, já mirando as Olimpíadas. A triatleta foi bronze no Pan-Americano em Guadalajara, em 2011; e depois marcou presença em Londres, em 2012; em Toronto, em 2015; e no Rio em 2016.
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Agora, se dedicando exclusivamente a competições de longa distância, fez história com o primeiro lugar no Ironman 70.3 do Rio de Janeiro e o top 4 no Ironman 70.3 World Championship na África do Sul. Foi o melhor resultado já obtido entre homens e mulheres no campeonato mundial. “Resultados que me fizeram acreditar que eu fiz uma boa escolha”, assinala.
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