"Tento levar minha vida com bastante força, fé e esperança de que vou encontrar esse doador compatível de medula óssea. Acredito que a cura de qualquer doença do corpo, começa na mente. Temos que estar com a cabeça legal, fazer o que gostamos. A doença não pode nos definir. Temos gostos, vontades, hobbies. Tento manter tudo isso até que o meu doador chegue". São essas as palavras de perseverança da médica Ana Carolina Cavalieri Milanez, diagnosticada este ano com uma doença rara, a anemia aplástica. Ana precisa encontrar um doador compatível para realizar um transplante e ser curada.
Em entrevista à Rádio CBN Vitória (92,5 FM), Ana contou como foi receber a notícia da doença e quais foram as mudanças na vida dela após o diagnóstico. A médica, que vive com restrições tendo que evitar traumas, cortes, ou ficar próxima a pessoas doentes e sem se expor ao sol disse que não esperava a repercussão de toda a história que mudou a vida dela.
A anemia aplástica, também conhecida como aplasia medular, é uma rara doença hematológica que limita a produção de células sanguíneas na medula óssea, afetando diretamente os elementos que compõem o sangue: os glóbulos vermelhos, brancos e também as plaquetas. No Brasil, a doença acomete 1 a cada 1 milhão de pessoas.
"Eu tinha uma vida saudável. Trabalhava, estudava, vivia ao lado do meu marido e estava me especializando. Como médica, estou acostumada a dar os diagnósticos e não a ser diagnosticada, ainda mais com uma doença rara. Foi um choque quando descobri, pois inicialmente achava se tratar de uma infecção ou uma enfermidade menos impactante", disse Ana Carolina.
De fato, a médica tinha motivos para não acreditar inicialmente que não fosse algo grave, visto os primeiros sintomas.
"Eu tive uma infecção intestinal, passei mal, fui ao médico e fiz alguns exames, entre eles um hemograma. Minha plaqueta estava em 100 mil, quando o normal para uma pessoa saudável é ter, no mínimo, 150 mil plaquetas por milímetro cúbico de sangue. Isso foi já em fevereiro, mas até então não me assustou, acreditava ser uma infecção comum que, entre os outros efeitos, também diminuiu as defesas do corpo", disse.
Nesse período, Ana passava um período de férias, em Vitória, e dias depois retornou a Campinas. Por lá, a doença evoluiu e a médica apresentou um quadro de anemia. Em busca de um diagnóstico preciso, ela passou por novos exames, entre eles uma biópsia de medula pelo quadril. Na análise do material coletado da medula e do fragmento ósseo, veio o diagnóstico certo.
Com a confirmação do quadro clínico, a médica se viu forçada a deixar o trabalho e também a residência médica. "No fim de maio, eu tive de me afastar. Não poderia mais manter minha rotina em um hospital, pois corria o risco de contrair uma infecção hospitalar, pois minha imunidade está muito baixa, minhas plaquetas agora estão em 20 mil. De um dia para o outro, tive de arrumar minhas coisas e voltei para Vitória. Felizmente, meu marido conseguiu transferência para cá. Foi uma mudança brusca, porém necessária", detalhou.
Por ser jovem e nunca ter feito transfusão de sangue, Ana Carolina tem boas chances de se curar caso encontre um doador compatível.
Enquanto não encontra um doador, Ana já analisa o outro caminho apontado pela equipe médica que a assiste, feito por meio de medicação. "A outra possibilidade de tratamento é através de um remédio, a linfoglobulina de cavalo, que é importada. Não há essa medicação no Brasil. Minha saúde ainda está boa, embora em alguns momentos sinta fadiga, fraqueza e apareça com alguns hematomas pelo corpo. Ainda tenho uma segurança em aguardar por um período até encontrar um doador. Caso não, devo partir para essa outra opção. Caso faça o transplante de medula, minhas possibilidades de cura são de 95%", destacou.
Para ser um doador de medula óssea é preciso ter idade entre 18 e 54 anos. Ao realizar o cadastramento, é coletado um tubo de sangue (5 ml) para o teste de compatibilidade, conhecido como Histocompatibilidade (HLA).
Não é necessário estar de jejum, como em outros procedimentos médicos. Não há distinção para homossexuais. As contraindicações são por questões de saúde, como: doenças hematológicas, doenças autoimunes, infecciosas ou oncológicas.
1 - Por punção. Nâo corta, não dá ponto. O líquido é retirado do ossinho do quadril, não é na coluna vertebral. É feito no centro cirúrgico. O doador é anestesiado.
2 - Coleta por aférese. O doador vai tomar medicação, que vai estimular a migração dessas células da medula óssea para a corrente sanguínea e ele vai coletar através de um acesso venoso por uma maquina chamada de aférese.
De acordo com a responsável pelo setor de medula óssea do Hemoes, Maria Cristina França, a escolha de qual tipo será feito é decisão médica. Para cada tipo de doença, segundo ela, a resposta é melhor quando coletada de uma maneira ou de outra.
"Para coleta da medula e transplante, paciente recebe medula como se fosse bolsa de sangue. A coleta e o transplante são feitos no hospital, na grande maioria, e quando é em outro país, somente a medula é coletada a nível nacional e encaminhada. No ES, ainda não temos hospital público que faça coleta ou transplante", disse.
Ela explica, ainda, que o custo é todo do Ministério da Saúde, que repassa o dinheiro para o Governo do Estado. O doador tem direito a acompanhante, hospedagem, alimentação, a viagem, transporte todo é custeado pelo governo.
Ela conclui pedindo que as pessoas já cadastradas no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) mantenham o cadastro atualizado. "Atualize para que você seja localizado, para que a gente possa unir esses dois pontos para salvar vidas. É um ato que você faz em vida. Não depende do parente. Esse você faz com autonomia. É uma realização pessoal, é como conceber a vida", finaliza Maria.
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