A caminho da escola, Isabela acompanha as notícias da CBN Vitória pelo rádio do carro, enquanto recebe notificações de jornais na tela do celular. Humberto abre os aplicativos para saber o que está acontecendo na política, enquanto Henrique escuta podcasts a caminho do trabalho ou da faculdade.
As novas gerações querem que a notícia chegue até a palma da mão e esteja ao alcance com o menor número de cliques possível. É isso o que terão, a partir de amanhã, todos os leitores que até hoje esperavam para ler as novidades no jornal em papel: informações em um novo site e em outras plataformas digitais.
Hoje as pessoas fazem mais tarefas em menos tempo. O consumo de informação acaba acontecendo ao mesmo tempo em que fazemos outras atividades. Por isso, A Gazeta passa a chegar, amanhã, em boletins de notícias (newsletters), aplicativos de mensagens, assistentes de voz e podcasts.
Experiências
O resultado é prático, mas também pode ser preocupante. O pesquisador Sergio Denicoli, doutor em comunicação digital, explica que isso só é possível graças à coleta de dados feita a partir das pesquisas e publicações na internet. Quando empresas têm acesso aos dados, ganha-se em praticidade enquanto perde-se em privacidade e liberdade.
A personalização do conteúdo ainda fortalece bolhas virtuais, ou seja, as pessoas só trocam mensagens e informações dentro de uma mesma rede de contatos. O diálogo com outras visões de mundo fica mais difícil.
Cristiano Aguirre Lobato, 15, acompanha futebol e se informa pelas redes sociais. Depois de pesquisar preços de uma nova chuteira em um buscador online, percebeu uma mudança nas suas redes: “Começou a aparecer um tanto de anúncio de chuteira que nunca tinha aparecido antes”.
O conteúdo acessado nas redes sociais é útil para o trabalho da Ingrid da Rocha Ricardo, 23, fotógrafa e graduanda de artes. No futuro, ela quer que a informação chegue em quem não chega hoje: “Temos que pensar não só em digitalizar, mas também em como as pessoas vão acessar o mundo digital”.
Já Mônica da Silva Madeira, 26, espera que acabem as manchetes e títulos sensacionalistas. “Na internet, às vezes, o título não tem nada a ver com a realidade da reportagem, é para ganhar clique”, critica a estudante de curso técnico em multimídia.
Outra preocupação das novas gerações são notícias falsas. Frederico Guilherme Pimentel Neto, 15, gostaria de poder confiar mais nas informações online: “Seria bom encontrar maneiras de verificar fake news”.
A credibilidade da fonte é um diferencial que se mantém no futuro: Ana Clara Oliveira Costa, 14, costuma receber notícias em grupos de mensagens, mas sempre pesquisa antes de acreditar no conteúdo.
Inteligência artificial pode mudar relações pessoais
Imagine ter um amigo virtual que organiza suas listas de músicas, indica novos filmes que você provavelmente vai gostar e seleciona as notícias que você quer ver para te mostrar no celular. Em 2025, a tecnologia terá a capacidade de perceber se pessoas estão tristes ou felizes, quais jornais gosta de acompanhar, que filmes gosta de ver, que conteúdos gosta de consumir e, assim, poderá conduzir o usuário ao que pode interessá-lo ou fazê-lo se sentir bem.
A inteligência artificial estará tão evoluída quanto a mente humana. Segundo Victor Hugo Korting, especialista em informática na educação, nos próximos anos deve se tornar realidade o uso de avatares assistentes pessoais virtuais. Eles vão cumprir as tarefas mais simples da rotina para seus usuários.
Anna Helena Schneebeli, 14, faz a mesma previsão. “Acho que, cada vez mais, vão criar ferramentas para você não precisar fazer quase nada. Vão ter tecnologias, tipo assistentes, para você pedir para fazer coisas por você”, imagina.
Organizador
A estudante de jornalismo Cássia Rocha, 21, acredita que essa é a tecnologia do futuro. “O celular já nos acompanha o tempo todo e a gente corre cada vez mais e se atenta cada vez menos às pequenas coisas do dia, então acho que vamos ter uma assistente pessoal no aparelho que organize processos para a gente”, avalia.
Por outro lado, a futura jornalista se preocupa com o acesso e a inclusão nas ferramentas que estão para surgir: “Precisa acontecer um real processo de democratização da internet para que a gente consiga fazer uma integração maior da população através desses recursos. Gostaria que pudéssemos usar a internet para evidenciar problemas sociais e trabalhá-los em conjunto”.
Uma consequência forte do avanço da inteligência artificial para a sociedade será o fim de uma série de profissões, acompanhado do surgimento de novas demandas. Mas até que ponto assistentes virtuais e máquinas podem ocupar o lugar de pessoas? Maria Brandt de Oliveira Faria, 14, também vê com cautela essa substituição. “Um robô nunca vai ter a sensibilidade e a humanidade de uma pessoa para lidar com outras pessoas”, ela reflete.
O estudante Humberto Camargo Brandão Neto, 17, acredita que o trabalho humano continuará relevante. “Por trás de uma máquina sempre está a pessoa que a criou. Não tem como a tecnologia substituir o toque, a criatividade. Cabe a nós valorizarmos a essência do trabalho humano e não deixar a sociedade perder a essência humana”, acredita.
Para Korting, no futuro, as pessoas poderão passar mais tempo na virtualidade que na realidade, inclusive para ganhar dinheiro. “Em 2050, teremos uma geração que trabalha virtualmente para chefes virtuais produzindo resultados virtuais. Tudo está sendo automatizado, ao ponto de a economia mundial um dia ser organizada e dividida pelas máquinas”, ele prevê.
Por outro lado, Sergio Denicoli, doutor em comunicação digital, afirma que analistas de dados, linguistas e sociólogos serão profissões muito requisitadas nos próximos anos. “Vamos precisar ainda mais de pessoas capazes de interpretar dados, analisar tendências, identificar como a sociedade pensa e traduzir isso”, relata.
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