Crianças ganham óculos de projeto social em escola da Serra
Crianças ganham óculos de projeto social em escola da Serra. Crédito: Vitor Jubini

Projetos ajudam a tratar de doenças e empreender por meio da união

Mais de 200 projetos e ações sociais das cooperativas do Espírito Santo ajudaram a mudar a realidade de pessoas da região  em que estão inseridas

Publicado em 01/11/2019 às 21h33

“Mãe, cadê os meus óculos”. São essas as primeiras palavras da estudante Stephane Victoria Lima dos Santos, de 9 anos, ao acordar. Com dificuldade de enxergar as coisas de forma nítida e, até então, achar que é normal, ela conseguiu entender o problema pela primeira vez ao usar os óculos. Desde então, o objeto se transformou em seu principal aliado. A mudança ocorreu em julho deste ano, depois que a pequena participou do projeto social "De Olho no Futuro - Dr. Ubirajara Moulin de Moraes", realizado pelo Instituto Unimed Vitória.

O programa foi criado para identificar e atuar na correção de problemas visuais em alunos matriculados no ensino fundamental da rede pública municipal. Os atendimentos são feitos nas escolas por oftalmologistas cooperados da Unimed Vitória e médicos residentes do Hospital Santa Casa de Vitória, que atuam como voluntários em mutirões realizados durante o ano. Foi na visita deles à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professora Áurea Maria Andrade Silva Felício, no bairro Novo Horizonte, na Serra, que Sthefane foi diagnosticada com hipermetropia, tendo que usar óculos com lentes de 4.6 graus no olho direito e 5.75 no olho esquerdo.

A mãe da menina, a garçonete Patrícia Lima Pimentel, de 44 anos, conta que a filha não tira mais os óculos do rosto. Até mesmo ao sair do banho ela passou a pedir primeiro o objeto, antes mesmo da toalha. Ela acrescenta que a professora a havia alertado sobre um possível problema na visão de sua filha, mas, desempregada e tendo despesas com os dois filhos pequenos, ela se viu numa situação de querer resolver a situação, sem conseguir devido à situação financeira. “Depois que ela passou a utilizar os óculos, teve mais qualidade de vida”, comenta.

Crianças ganha óculos de projeto social em escola da Serra. Crédito: Vitor Jubini
Crianças ganha óculos de projeto social em escola da Serra. Crédito: Vitor Jubini

A pequena Stephane só comemora por conseguir enxergar a vida de forma mais clara. Aniversariante do mês de julho, ela considerou que esse foi seu presente de aniversário. “Sem os óculos eu vejo tudo pequeno e embaçado, não conseguia enxergar direitinho. Outro dia minha avó estava do outro lado do passeio e eu achei que estava longe, só percebi que não quando minha mãe explicou onde ela estava”, contou.

TRANSFORMAÇÃO

Os mais de 200 projetos ou ações sociais das cooperativas do Espírito Santo transformaram a vida de Sthefane como também a realidade de milhares de capixabas. Essas iniciativas estão presentes em diversos municípios, impactando positivamente os cooperados, a comunidade e os negócios de onde estão inseridas. Há programas que beneficiam crianças e adultos, no campo e na cidade.

A assistente administrativa da área de Formação Profissional e Promoção Social do Sistema OCB-ES, Bianca Rocha, explica que um dos princípios do cooperativismo diz respeito ao interesse pela comunidade. Seguindo essa premissa, a promoção de projetos sociais se enquadra no papel da cooperativa como uma instituição propulsora para o desenvolvimento da comunidade em seu entorno.

“O cooperativismo tem sete princípios e um deles é justamente o interesse pela comunidade, ou seja, contribuir para o desenvolvimento sustentável da comunidade ao redor da cooperativa. Quem vive no ambiente cooperativista conhece e sabe a importância da cooperação e do cooperativismo como propulsor de mudanças e transformação, mas sentimos que é preciso levar essa mudança positiva e sustentável para toda a sociedade”, comenta.

A produtora rural Helen Barboza Lima Livramento, de 49 anos, mora numa propriedade rural desde 2014. A intenção de sair da cidade para o campo foi para investir no próprio negócio. Nesse mesmo período, os filhos, que já estavam crescidos, foram seguir as próprias vidas e passaram a morar longe dela. O seu pensamento era que, por já ter cuidado da família, seu papel na vida já havia sido cumprido, algo que passou a deixá-la triste. O que Helen não imaginava era  que sua vida passaria a ter um novo significado através do projeto social da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), em Muqui.

Da direita para a esquerda: Helen, Daiana, Janete e Zeli. Crédito: Matheus Martins
Da direita para a esquerda: Helen, Daiana, Janete e Zeli. Crédito: Matheus Martins

Após a realização de um curso, ela conheceu o grupo de mulheres e começou a frequentá-lo após se tornar uma cooperada em 2016. Conhecido hoje como “Póde Mulheres”,  o projeto tem o mesmo nome do café produzido pelas mulheres, que chegou ao mercado em 2018. Esse grupo teve início em 2012 devido a um projeto social da cooperativa para dar mais autonomia às mulheres através de diversos cursos de qualificação. 

O grupo hoje é formado por cerca de 25 mulheres, que se tornaram cooperadas, se uniram no trabalho e estabeleceram uma grande amizade. “Eu consegui entender que estava apenas começando uma nova fase na vida. Em 2014, eu estava me tratando de Lúpus. Depois de entrar na cooperativa o médico disse que eu havia melhorado. Posso dizer que eu fui curada por essa nova vida pela qual optei. Esse grupo foi para muito bom, porque me despertou diversas motivações”, contou.

Seja em qual for o ramo que a cooperativa esteja inserida, há sempre uma história de transformação. A microempresária Marilza Viguini, 49 anos, possui comércio há 25 anos, mas começou a participar de cursos do Sicoob há cinco anos. O último foi o projeto "Associado ao Negócio", de capacitação de micro e pequenos empresários cooperados. O objetivo é que os participantes possam gerir melhor os seus negócios.

Desse tempo para cá a microempresária conseguiu contratar três funcionárias, aprendeu a fazer estoque, colocar preço, realizar balanço, informatizou e passou a fazer vendas pela internet. Com toda essa mudança, ela viu sua loja de roupas íntimas dar um salto: o faturamento aumentou, a qualidade de vida cresceu e ela se tornou referência na área de roupas íntimas em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado.

“Foi maravilhoso. O curso me fez ter visão de negócio e saber onde investir. Aprendi a fazer coisas que eu nem imaginava. Com a contratação de funcionários, penso em aumentar cada vez mais a loja. Atualmente a região conhece a loja Vigui Íntima. Vem gente de Marataízes, Itapemirim, Vargem Alta, Itaoca e Presidente Kennedy ao município para comprar. Me orgulho em dizer que tenho tudo que as pessoas procuram”, destacou.

 A microempresária Marilza Viguini conseguiu melhorar o seu negócio. . Crédito: Matheus Martins
A microempresária Marilza Viguini conseguiu melhorar o seu negócio. . Crédito: Matheus Martins

Essas transformações são sentidas tanto pelos próprios contemplados quanto por quem os segue de perto. Na vida da pequena Stephane, quem enxergou essa mudança foi a diretora do colégio, Eliceia Deoclecio de Souza Bianchi. Somente na escola foram 36 pessoas que precisaram e ganharam os óculos de grau.

“As mudanças foram significativas no desenvolvimento das crianças, foi expressivo no desenvolvimento cognitivo e na autoestima delas. Foi um diferencial enorme, todos os professores avaliaram a ação positivamente. Os professores cobravam um desempenho melhor, mas a criança não conseguia oferecer devido aos problemas de visão. Tivemos caso de quase cegueira”, concluiu.

COOPERATIVAS REALIZAM MAIS DE 200 PROJETOS E AÇÕES SOCIAIS

Ao menos 50 cooperativas possuem projetos ou ações sociais, elas estão distribuídas em 23 cidades do Espírito Santo. Juntas, são responsáveis por mais de 200 programas que atingem todo o Estado.  O número de projetos e ações sociais foi mapeado pela reportagem de A Gazeta com as cooperativas e pelo Sistema OCB-ES. (Veja no mapa abaixo ao clicar no município).  

A assistente administrativa do Sistema OCB-ES avalia que a atuação social das cooperativas tem crescido no Estado. Ela diz que o Sistema OCB-ES, nos últimos três anos, tem incentivado, principalmente, que as cooperativas realizem ações contínuas, que agregam valor à vida das pessoas.

Para tentar levar esse espírito social para as cooperativas do Brasil foi criado o Dia de Cooperar, conhecido como Dia C. É um movimento nacional de estímulo às iniciativas voluntárias, diferenciadas, contínuas e transformadoras, realizadas por cooperativas, que ocorre sempre no primeiro sábado do mês de julho, quando é comemorado o Dia Internacional do Cooperativismo.

No Estado, iniciativas do Dia C vão garantir até o final do ano que 370 mil pessoas sejam beneficiadas, direta e indiretamente, no Estado. Estão previstas 128 ações de responsabilidade social de 47 cooperativas capixabas com mais de 5 mil voluntários envolvidos, entre cooperados e funcionários das cooperativas.

“Além do Dia C, o Sistema OCB-ES procura fomentar e mobilizar as cooperativas a participarem de eventos de responsabilidade social no decorrer do ano. Também temos uma parceria com o Sicoob e Unimed Vitória em alguns projetos sociais, um deles com o Instituto Sicoob é o Cooperativa Mirim, que tem por objetivo desenvolver por meio de práticas pedagógicas uma educação comprometida com os valores da cooperação, promoção da cidadania, empreendedorismo e liderança em crianças e jovens” concluiu.

ABRANGÊNCIA

Algumas cooperativas conseguem ter atuação em todo o Estado, como o Sicoob. A supervisora de desenvolvimento humano do Sicoob ES, Giovanna Barelli, explica que a instituição executa os próprios projetos, a maioria das ações é direcionada a toda a comunidade, gerando impactos positivos nas localidades onde são realizadas.

“O Sicoob entende que ao investir na comunidade promove o desenvolvimento dela e cresce junto com ela. É um ciclo, a gente ensina o cooperado a gerir melhor o seu negócio, ele cresce, cria oportunidade de emprego e faz a economia girar”, comenta.

O Instituto Unimed Vitória também é responsável por realizar seus próprio projetos. A coordenadora socioambiental do Instituto Unimed Vitória, Milene Amorim Roncato Melo, explica que, por meio do instituto, a Unimed Vitória realiza e apoia diversos projetos sociais em comunidades do entorno de seu hospital e outras regiões. O instituto possui duas fontes de receitas: recursos provenientes do estacionamento do Hospital Unimed Vitória e também do RIR, que é o Programa de Redirecionamento de Imposto de Renda.

“A cada ano, a gente busca evoluir, busca mais recurso. O projeto "De Olho no Futuro” já atende mais de 11 mil pessoas. Muitas vezes as crianças nem sabem que têm problemas e isso traz consequências. Cerca de 25% dos estudantes deixam a escola por problemas visuais”, ressalta.

Na Cafesul, o eixo social foi direcionado para dar mais autonomia às mulheres. A coordenadora do grupo Póde Mulheres, Natércia Bueno Vencioneck, explica que foi num evento para aumentar a participação das mulheres na Cafesul que o grupo se reuniu pela primeira vez em 2012. “Conseguimos fazer com que esposas e filhas de cooperados conseguissem ter o reconhecimento do próprio café e desenvolver a sua própria renda”, finalizou.

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