O mundo luta contra um inimigo invisível. Há um ano, o Espírito Santo também travava uma batalha contra um inimigo que não era visto. Nesse mesmo período de 2019, os moradores do Estado queriam saber a origem de uma bactéria que já havia levado a vida do Théo, de apenas 2 anos, e deixava outras crianças de uma creche particular, em Vila Velha, internadas em estado grave em hospitais da Grande Vitória.
O caso ficou conhecido como o surto de gastroenterite da creche. Em meio a tantas notícias, uma mulher ganhou a admiração de muitos capixabas, a Katiucia Cosine, a mãe do Théo. Um dia depois de se despedir do filho, ela conversou com a reportagem de A Gazeta e contou que não culpava os donos do local pela perda.
Na última sexta-feira (27), dia em que completou um ano da morte do menino, Katiucia escreveu um texto, contextualizando com os dias de hoje. Veja a mensagem abaixo.
Katiucia Cosine
Mãe do Théo
"Enquanto o mundo está sendo atacado por algo invisível, em lugar de amar uns aos outros, brigam, seja por política, ou se abre ou não, ou mães desesperadas por estarem trancadas com seus filhos em casa, dizendo que não aguentam mais... Eu só queria ganhar mais um beijo seu. Inventar mil maluquices para ficarmos juntos, brincadeiras, desenhos, futebol, bibi... Você também partiu por algo invisível, mas não passou sem ser visto por esse mundo. Deixou um legado de amor muito grande que mamãe e papai, se Deus assim nos permitir, vão continuar semeando por aí em nome de Deus e por você! Hoje um ano da sua partida... Mas tenho certeza que está olhando por nós ao lado do papai do céu! Te amo pra sempre meu filho com muito amor no coração"
Katiucia, que foi criada pelos avós, faz um pedido para que pais e mães aproveitem esse momento em que a maior parte da população está em casa, para aproveitar cada pequena oportunidade ao lado dos filhos. O isolamento não precisa ser familiar.
Nesta segunda-feira (30), ela conversou com a reportagem. Um ano depois, a saudade é grande, mas a gratidão por ter vivido a experiência da maternidade também é enorme. Hoje, a empresária entende que se tornou mãe de um anjo que, quando estava por aqui, adorava beijo, carinho e transbordava amor, como mostra no vídeo abaixo.
Um ano depois, como você está?
As datas mexem muito com a gente. Quanto mais com essa questão de ficar em casa. Aproveitei para limpar o quarto dele. Já tinha doado algumas coisas, mas agora fiz uma limpeza maior.
Tem a saudade.
Deus vai dando sinais a você de que está tudo bem. Sonho com ele, as pessoas sonham com ele sorrindo. Mas não é fácil. Na sexta, nós fomos (ela e o marido) ao cemitério, fizemos uma oração.
Já tinha sonhado com o Théo uma vez. Sonhou de novo?
Sonhei semana passada que ia buscá-lo na creche, mas não cheguei a encontrá-lo. A Neth, que trabalha aqui em casa, é a segunda mãe do Théo e ela está comigo até hoje. Ele a amava e a chamava de tia Neth. Ela sempre sonha com ele. Ele brinca com ela no sonho e depois diz: ‘Agora preciso partir’. A outra moça que ajudava a gente quando ele era menor também já sonhou com ele sorrindo.
Vocês pensam em ter outros filhos?
Meu marido já queria. Eu agora também quero ter. Em um desses sonhos que tiveram com o Théo, eu segurava uma menina no colo (sorriso). Tenho o fator idade. Mas também pensamos em adoção.
Nesse um ano, você reencontrou os donos da creche?
Já, em uma festinha de um amiguinho do Théo, que também ficou internado naquela época. Continuo com aquele mesmo pensamento. O filho deles, que também se chama Théo, estuda na mesma creche. Tinha o meu filho como um irmão. Ficar procurando culpados é andar em um labirinto sem fim.
Além da bactéria E.Coli, um vírus foi encontrado nos exames do Théo. E justamente nesse momento um vírus assola o mundo. Como você vê isso tudo que estamos passando?
É um momento de união, não de ódio. Cadê o amor? Aproveitem o máximo o tempo que vocês têm para ficar um com o outro. O dia de amanhã não pertence a ninguém. A gente pode não estar aqui amanhã. Não perca tempo com bobagens de internet. A internet aproxima, mas, às vezes, as pessoas estão dentro de casa falando com outras que estão na rua e quando estão na rua falam com quem está em casa. Acho que é um momento de união, de demonstrar amor e carinho. É o momento de aproveitar esse tempo que, de certa forma, Deus está nos dando, para ficar em família. Aproveitem o pai e a mãe, a esposa e o esposo, principalmente os filhos. Porque os filhos não são nossos. Enquanto eles estiverem com vocês, aproveitem: brinquem, rolem no chão, façam dancinha, fiquem cansados agora, mas não se arrependam depois de não terem feito, porque é um tempo muito precioso. E as pessoas estão tendo tempo para ficar com os filhos. Aproveitem enquanto é tempo. É o momento de olhar nos olhos e dizer o quanto ama!
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