O Espírito Santo é um dos berços da cultura pomerana no mundo. Para se ter uma ideia da força dessa cultura em solo capixaba, mais da metade dos pomeranos do Brasil estão no Estado. Agora com descendentes espalhados por diversos municípios, as gerações lutam para manter viva essa tradição.
Em Vila Pavão, no Noroeste capixaba, uma banda completa 15 anos, sendo a única do Estado a fazer versões de músicas de sucesso em pomerano.
A Up Pomerisch, que traduzido significa “em pomerano”, surgiu durante a principal festa da cidade, a Pomitafro, que ocorre sempre em agosto e promove a união e integração de pomeranos, italianos e africanos.
Jovens do município foram desafiados a cantar músicas na língua pomerana. Estava formado o grupo, que não parou mais. A primeira versão cantada foi a de "As mocinhas da cidade", clássico do sertanejo raiz.
Atualmente, a banda é composta por 10 pessoas, entre novatos e anfitriões. "Até então, a língua pomerana nunca tinha subido em um palco em Vila Pavão. Os pomeranos daqui nunca tinham sido aplaudidos como artistas, sempre aplaudiram artistas de fora", reflete um dos fundadores do grupo, Jorge Kuster Jacob, sobre a importância da iniciativa.
Sergio Schultz
Um dos criadores e atual integrante da banda
"O pomerano estava se perdendo, as crianças iam para escola e tinham vergonha de falar a língua, porque eram zoadas quando conversavam. Então, surgiu a ideia de a gente fazer músicas em pomerano para poder ajudar a resgatar essa língua, que é tradicional"
Segundo um dos criadores, a banda também é destaque mundial pela quantidade de versões em pomerano. Seria dela o maior número de traduções no mundo da música para essa língua. São 25 letras pomeranas de hits como "Ai, se eu te pego!" (Michel Teló), "Festa no apê" (Latino) e "Pipoca" (Ara Ketu) e até sucessos recentes capixabas como "Fica Amor" (Alemão do Forró). O responsável por essa tradução é Osmar Folz, vocalista da banda há 12 anos.
"Não é fácil. Mas a gente vai ouvindo as músicas que estão na boca do povo, e dessa forma vou tentando passar para o pomerano. O tempo que gasto para traduzir depende muito de cada letra. Quando tenho dúvida em alguma palavra, recorro à minha avó, que só fala em pomerano."
Confira a versão da música "Ai, se eu te pego!", de Teló, para o pomerano:
"Nanuu, nanuu (Nossa, nossa)
Soo maechts du mij dout (Assim você me mata)
Soo maechts du mij dout (Assim você me mata)
Ah wen ik die Grijppa dau (Ai, ai se eu te pego!)"
MÚSICAS AUTORAIS
Apesar de seus 15 anos, a banda só tem uma música autoral, "Rato no coador", que ganhou até clipe. Mas, para este ano, o grupo se prepara para lançar um álbum completo só de canções autorais, focando em manifestações pomeranas.
Serão 12 músicas ao todo. Por exemplo, "Mijlchebroud" (pão de milho ou brote) vai falar do principal elemento da culinária pomerana, e "Pomer Oppa" (macacos pomeranos) aborda sobre a lenda dos pomeranos, de que os macacos é que trazem os bebês, não as cegonhas.
Para promover o aprendizado e a difusão das músicas, a grande maioria delas terá refrão em pomerano e estrofes em português, explicando o refrão.
"A Up Pomerisch, através da música, leva ao palco do mundo não só a língua pomerana, mas todas as manifestações culturais pomeranas. Ela populariza, faz a juventude curtir aquilo que minha geração achava ‘brega’, que é a cultura popular e tradicional pomerana. A banda faz nossa cultura ser aplaudida e, com outros eventos, ocupar seu território e virar um movimento cultural", se orgulha Jorge Kuster Jacob.
POMERANOS NO ES
Dos mais de 300 mil pomeranos espalhados pelo Brasil, metade deles está no Espírito Santo. Das 78 cidades capixabas, aproximadamente 22 têm pomeranos, sendo que Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana, é responsável por 85% desse total, por isso cabe a ela o título de “Pomerânia capixaba”. Vila Pavão é a terceira nesse ranking, sendo que 65% dos moradores são descendentes de pomeranos e, desse número, metade fala a língua pomerana. Os dados são baseados em pesquisas diretas com os municípios e com o IBGE.
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