O mês da criança trouxe um triste dado sobre violência contra meninos e meninas. Um ano depois da morte da menina Thayná Andressa de Jesus Prado, de 12 anos, raptada, violentada e assassinada no Bairro Universal, em Viana, os números mostram que entre outubro de 2017 e setembro deste ano, 570 inquéritos de crimes contra crianças e adolescentes foram abertos. Ou seja, por dia, quase duas crianças foram vítimas de violência no Estado neste período.
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As informações são da Polícia Civil do Espírito Santo, que afirma ainda que 70% desses casos são referentes a abusos sexuais. Entre as vítimas de estupros, 80% são do sexo feminino.
Ainda de acordo com a polícia, apesar dos 570 inquéritos instaurados na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) neste tempo, o número de processos encaminhados à Justiça foi de 720 procedimentos. Isso porque os que foram instaurados em meses anteriores também foram remetidos no período.
Além disso, 40 pessoas foram presas preventivamente ainda durante as investigações - por suspeita de estupro de vulnerável de outubro de 2017 a setembro de 2018.
O delegado Erico Mangaravite, da DPCA, contou que a delegacia não faz estatísticas separadas por tipo de crimes, mas a grande maioria é por estupro de vulnerável.
Acredito que 70% dos casos são referentes à violência sexual e as maiores vítimas são crianças e adolescentes do sexo feminino, cerca de 80%. Já o perfil do criminoso, normalmente é homem heterossexual e muitas vezes acima de qualquer suspeita. Mas além dos estupros, a DPCA investiga casos de violência psicológica e física, lembrou.
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Mangaravite completou que o abusador geralmente é uma pessoa que tem uma relação de confiança com a vítima, como um parente ou um amigo da família.
Essa realidade é uma característica mundial do abusador. Isso acontece porque o acesso à criança, em regra, é dificultado porque ela é protegida pela família. Ela torna-se menos vulnerável por estar sempre na guarda de alguém. Mas o criminoso, às vezes, faz parte da família ou se próxima, burlando essa confiança de maneira hedionda, classificou.
HISTÓRICO
Os números de crianças violentadas assustam. Para o delegado, a quantidade de casos é reflexo de um processo histórico. Segundo ele, por muito tempo não houve delegacias especializadas no assunto e casos de menores abusados eram tidos como um tabu dentro das casas.
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Há 20, 30 anos, não havia delegacias especializadas e conversar sobre estupros, por exemplo, era um tabu. Havia uma cultura de que esse assunto devia ser abafado para evitar escândalos, principalmente porque os abusadores costumam ser parentes. Na maioria das vezes tentavam resolver em casa. Isso é péssimo porque faz com que a vítima sinta-se culpada.
PROTESTO
Na quarta-feira (17), um ano depois do crime que vitimou a menina Thayná, amigos e familiares realizaram um protesto na Avenida Expedito Garcia, em Campo Grande, Cariacica. O acusado Ademir Lúcio Ferreira, de 55 anos, teria sequestrado, estuprado e matado a estudante de 12 anos e está preso.
Com cartazes e balões, a mãe da estudante, Clemilda de Jesus, pediu respeito às crianças e justiça pelos crimes que as envolvam.
Pais de outras crianças que foram vítimas de violência sexual compareceram no protesto. Rainy Butkovsky, pai do menino Kauã que foi estuprado e morto pelo padrasto, o pastor Georgeval Alves esteve no local e também pediu por justiça.
O sofrimento não acaba nunca, esse sentimento de tristeza está sempre presente. Espero que, com atos como esse, eu possa ajudar de alguma forma, desabafou Rainy.
É PRECISO MANTER DIÁLOGO
Para tentar prevenir que crianças e adolescentes sejam vítimas de violência, Erico Mangaravite, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), conta que alguns cuidados podem ser tomados. O principal, segundo ele, é manter sempre aberto o canal de diálogo.
De acordo com Mangaravite, usando uma linguagem adequada, é fundamental alertar as crianças para assuntos como educação sexual e violência.
Falar desses assuntos, com linguagem técnica, faz parte do processo de educação. O que não pode é ignorar, educar como se essas coisas não existissem. Muitos abusadores aproveitam do fato das crianças não terem noção e conseguem abusar delas sem que percebam que são vítimas, alerta.
O delegado completou que é preciso observar o comportamento da criança e procurar a polícia se perceber que ela foi abusada. Confiança só existe pelo diálogo e convivência. Mas é importante não induzir a criança a relatar algo. O correto é acolher, ouvir e na mínima suspeita procurar órgãos de proteção à criança, faz o alerta.
CASOS RECENTES
Agosto de 2018
Mão no forno
Uma mulher de 20 anos foi presa acusada de agredir a filha de 5 anos, em Cariacica. Segundo a denúncia, a mãe teria colocado a mão da criança dentro do forno de um fogão, após uma discussão, para corrigir a criança. A menina contou à assistente social; ela é constantemente agredida pela mãe e obrigada a mentir. A criança tinha vários outros hematomas espalhados pelo corpo. A mãe foi autuada por lesão corporal, na forma de violência doméstica. O caso foi encaminhado para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.
Junho de 2018
Cárcere privado
Um homem de 28 anos foi preso em Vila Velha por estuprar e manter uma jovem de 17 anos em cárcere privado. Ele é acusado de agredir a adolescente e fazer tortura psicológica. De acordo com a polícia, os crimes eram de conhecimento da comunidade, que fez uma série de denúncias. O homem foi preso de forma preventiva e vai responder por cárcere privado, estupro e violência física.
Abril de 2018
Abusada pelo cunhado
Um pescador de 39 anos foi preso acusado de estuprar uma menina de 11 anos. A criança foi vítima inúmeras vezes da violência sexual, por três meses. Ela era cunhada do pescador. Segundo a polícia, ela e a mãe saíram do Norte do Estado para morar com a irmã da criança, que é casada com o acusado, que negou os crimes. Ele foi preso.
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