A frequência de prisões por exploração sexual infantil na internet traz luz ao tema e pode servir como alerta para pais e mães que têm crianças em casa com acesso à internet. Isso porque, muitas vezes, o abusador se passa por outra pessoa e começa a conversar com a vítima, até o momento em que propõe desafios, pede fotos, e depois chega ao ponto de chantagear o menor de idade.
Outro perigo é o de pedófilos que, navegando pela internet, acabam pegando imagens que pais inocentemente publicam em seus perfis. O conteúdo vai parar em grupos criminosos, sobretudo no submundo da internet, a chamada "deep web" (internet profunda), que é bem mais difícil de acessar.
No último mês de setembro, só no Espírito Santo, a Polícia Federal divulgou a prisão de três suspeitos de envolvimento com exploração sexual infantil na internet: dois armazenavam e consumiam imagens de crianças sendo abusadas. O outro, um professor, chegava a produzir o conteúdo criminoso, violentando menores de idade.
"O que existe são indivíduos que têm esse desejo que a psicologia define como pedofilia, e passa a ser crime (de estupro de vulnerável) quando uma criança é abusada. A gente tem que ter cautela porque eles têm desejos de todos os tipos, dos piores que se pode imaginar. Qualquer foto em que a criança esteja um pouco mais exposta, depois eles podem compartilhar junto a outras imagens contendo abuso", comentou o delegado federal Lorenzo Espósito, da unidade de Crimes Cibernéticos.
Ele explicou que, normalmente, os conteúdos pornográficos apreendidos contém imagens de abusos. Também há essa parcela de imagens que foram publicadas por pais nas redes sociais e roubadas por criminosos.
"Esses indivíduos estão navegando o tempo todo pela internet e também capturam essas imagens. A gente percebe em menor número esses casos, de capturarem de outras redes. Para o pai, às vezes é uma foto inocente da criança tomando banho, ou um momento sem nenhuma conotação desse tipo, mas pode acabar despertando criminosos", ressaltou o delegado.
O submundo da internet
Ao contrário do que muitos possam imaginar, essas fotos e vídeos de abusos não costumam ser vendidas em mercados virtuais paralelos: de acordo com o delegado federal, os criminosos têm orgulho de se exibir, por isso, normalmente compartilham gratuitamente as imagens em grupos e fóruns.
"Até existe caso de venda, mas é raro. O comum é a troca, compartilhamento... As pessoas pesquisando, pedindo e procurando por isso. E quando tem um abusador em um grupo de Telegram, ou em grupos da deep web voltados para isso, geralmente eles têm isso como um troféu, uma conquista, eles se gabam disso. Eles contam os relatos e compartilham as imagens nesse contexto, não é algo sob demanda", detalhou.
Segundo as investigações, o local preferido dos criminosos são fóruns na deep web, local mais difícil de ser rastreado. Eles também se concentram em grupos do Telegram e, em menor número, em grupos do WhatsApp e Facebook.
Lorenzo Esposito
Delegado federal da unidade de Crimes Cibernéticos
"Existe no WhatsApp e no Facebook, mas esses criminosos se sentem mais seguros no Telegram. Mas o local principal é a deep web, quando eles têm um maior conhecimento de informática. Lá eles contam relatos, experiências, falam sobre o desejo deles"
Abusadores usam nome falso
O delegado explicou que os criminosos não costumam usar a verdadeira identidade nesses grupos. "Usam codinomes e acham que estão protegidos pelo anonimato. Nosso trabalho é usar ferramentas disponíveis, investigar para poder identificar. Não é um trabalho fácil. É um crime que sempre existe uma vítima do outro lado. Quando a gente prende, eles costumam dizer que só estavam vendo ou compartilhando. Mas alguém cometeu esse abuso", destacou Esposito.
Cuidados que os pais devem ter
As autoridades recomendam os pais a redobrarem os cuidados na internet. "A gente sempre orienta que os pais estejam perto, orientem a criança para ela entender que, nesse mundo da internet, quem está do outro lado é um desconhecido. Um adulto pode estar se passando por uma criança da mesma idade dela, por exemplo. Ele vai pedindo fotos, como se fosse um desafio, usando uma forma de sedução, consegue obter e a partir de um momento passa a chantagear a criança", alertou o delegado federal.
Também é importante ficar atento a postagens nas redes. "Não deixar o perfil da criança público. A própria rede social tem ferramentas para você bloquear acesso de terceiros. Além de privar, você consegue fazer publicações que só pessoas de um círculo próximo terão acesso", completou Esposito.
Risco de golpe e roubo de dados
Além do perigo dos abusadores, deixar o celular de um adulto com a criança pode trazer outros riscos, como o de hackers.
"Os riscos são muitos grandes: cyberbullying, pedofilia, assédio e até roubo de dados dos pais. Se adultos caem em golpes, imagina crianças? A gente sempre recomenda que os pais não entreguem o seu celular de uso pessoal para os filhos. Hoje em dia, normalmente o cartão é salvo para compras no celular. Imagina se uma criança tem acesso e acaba permitindo um hacker entrar nesse celular?", indagou o delegado Douglas Vieira, interino na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC) da Polícia Civil.
Professor que abusava de menores foi preso no ES
No dia 26 de setembro, um professor de 34 anos foi preso pela Federal em Guarapari, acusado de atuar na produção, divulgação, transmissão e armazenamento de vídeos com cenas de sexo explícito envolvendo crianças e adolescentes.
A PF também esteve em duas escolas municipais de Cariacica – onde o professor dava aulas – para o cumprimento de outros dois mandados de busca e apreensão.
As investigações tiveram início no âmbito da Polícia Federal a partir da prisão de outro abusador, em Recife (Pernambuco), no último dia 12 de setembro. A análise do material apreendido levou a identificação de outros abusadores que frequentemente produziam, compartilhavam e armazenavam esse tipo de material.
O homem detido em Recife se hospedou na casa do homem preso nesta segunda-feira (26), em Guarapari. As investigações mostram que, enquanto estiveram juntos, abusaram sexualmente de crianças, inclusive registrando os crimes em vídeo.
O objetivo da ação, além do cumprimento das medidas judiciais, é colher elementos de prova que identifiquem outros suspeitos que possam estar envolvidos em crimes desta natureza. Na ocasião, a Prefeitura de Cariacica informou que o criminoso tinha dois vínculos com o município, um temporário e outro efetivo.
"A Secretaria Municipal de Educação de Cariacica (Seme) ressalta que o professor já foi demitido do vínculo temporário e que já foi aberto Processo Administrativo Disciplinar com vistas à demissão do vínculo efetivo", informou a prefeitura, em nota.
Lorenzo Esposito
Delegado federal da unidade de Crimes Cibernéticos
"A frequência que você encontra pessoas transmitindo e compartilhando é maior. A identificação do abusador geralmente envolve uma investigação mais profunda, é mais difícil de identificar. Na imagem aparece muito pouco dele, por exemplo. Já a transmissão deixa mais rastros"
Mais prisões no mesmo mês
No dia 29 de setembro, um trabalhador rural de 38 anos foi preso em flagrante em Vila Valério, Noroeste do Estado, com vários arquivos contendo pornografia infantil. A PF ainda constatou que ele participava de diversos grupos de WhatsApp, onde compartilhava o material com outras pessoas.
Ainda em setembro, no dia 14, mais uma prisão da PF: um servidor público de 62 anos foi detido em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, com centenas de arquivos contendo material de abuso e exploração sexual infantil. Segundo as investigações, no computador dele havia arquivos datados de 2015.
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