Além da publicitária que fez vídeo da confusão envolvendo a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o jornalista Luan Araújo, no último sábado (29), um outro capixaba estava na cena, que tomou o país e levantou mais um debate sobre o tenso período eleitoral brasileiro. O político Dárcio Bracarense, próximo a parlamentar, é o homem de camisa verde, que aparece com celular na mão durante a discussão pelas ruas do bairro Jardins, em São Paulo.
Bracarense deu outra versão para o caso. E, apesar das imagens não registrarem, ele afirma que que estava com a parlamentar no momento que ela teria sido agredida. Segundo o capixaba, Zambelli só apontou a arma para fazer Luan esperar a polícia chegar.
Filiado ao PL, mesmo partido de Carla Zambelli e do presidente Jair Bolsonaro, Bracarense se candidatou a deputado federal pelo partido no Estado, mas ficou como suplente, com 16.360 votos. Ele também trabalhou como secretário parlamentar da deputada entre os dias 24/06/2022 e 29/06/2022, mas afirmou que saiu do cargo para poder participar das eleições.
Em vídeos divulgados na internet, a deputada aparece empunhando um revólver enquanto persegue o homem, que é agredido por outras pessoas. Um tiro é ouvido nos vídeos. A deputada garante que foi agredida. Em conversa com jornalistas, no sábado (29), após prestar depoimento no 4º Distrito Policial, na Consolação, Luan disse que se sentiu ameaçado: "Mais do que a questão política: eu sou uma pessoa preta, uma pessoa periférica, e apontaram uma arma para mim".
Dárcio disse que estava almoçando com Carla Zambelli para discutir como ficaria seu futuro no Partido Liberal (PL), pelo qual foi candidato a deputado federal na eleição deste ano, no Estado. Durante a conversa, ele relata que a deputada federal teria falado sobre ameaças de morte que estaria recebendo após ter seu número de celular divulgado e que iria à delegacia entregar provas dessas intimidações.
Ainda segundo Dárcio, durante o almoço, um grupo de pessoas com adesivos de Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato do PT à Presidência da República, apareceu e, ao ver a deputada, passou a insultá-la.
“Esse homem começou a gritar e xingar a deputada, chamando ela de prostituta. Dizia ‘agora é Lula’ e eu dizia que respeitava o voto dele. Ele cuspia na cara da deputada e a gente tentando evitar, só que não tinha jeito. O filho dela, um menino de 14 anos, estava assustado e empurraram ele. Foi quando comecei a gravar”, contou.
Ele afirma que o grupo queria provocar uma reação agressiva da deputada e das pessoas que estavam com ela.
“Ele tentou me provocar para tentar me fazer parecer racista. Coloquei o telefone e comecei a gravar. Naquela bagunça, tinha um outro homem vestido de preto, que nenhuma câmera consegue pegar, e ele dá uma cotovelada na deputada, que se desequilibra e cai. Foi quando um cara se apresentou como policial e deu voz de prisão ao Luan, achando que ele seria o agressor da Carla Zambelli”, relatou Dárcio.
Nesse momento, na versão de Dárcio, Luan correu, afirmando que não seria preso. O policial tentou ir atrás dele. Então, pelo som das filmagens é ouvido um barulho semelhante ao de um tiro. Mas o capixaba não sabe afirmar de onde veio o disparo.
“Aí a deputada pegou a arma dela e disse para ele parar e esperar a polícia. Luan entrou no bar, e ela foi atrás dele. No local, Carla disse que ele estava em flagrante delito e que era para aguardar a polícia. Juntou um pessoal e ele se evadiu. O filho dela estava em estado de choque. Ficou nervoso”, acrescentou.
Após o ocorrido, a deputada foi à delegacia prestar depoimento, assim como Luan Araújo. Dárcio afirma que o jornalista estava totalmente diferente do que era no momento da confusão. “Com a deputada estava agressivo, tratando ela com truculência, a xingando. Poucas vezes vi alguém tratar uma mulher assim e graças a Deus nada aconteceu”, disse.
A deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP), uma das principais aliadas do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso, se envolveu no sábado (29), em uma confusão nos Jardins, em São Paulo.
Em vídeos divulgados nas redes sociais, a parlamentar aparece empunhando uma pistola enquanto persegue um homem negro, que é agredido por outras pessoas. Um tiro é disparado pelo grupo do qual fazia parte a deputada. Carla alega ter sido agredida.
Segundo relatos do jornalista Luan Araújo, o homem perseguido por Zambelli, o atrito teve início quando ele saía de uma hamburgueria com um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e ouviu um grito de “amanhã é Tarcísio”, referente à disputa ao governo paulista entre Tarcísio Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).
Ele teria respondido “amanhã é Lula”, dando continuidade às provocações. A discussão se agravou e ambos os lados começaram a se xingar, segundo o jornalista. Em algum momento, ele se afasta e, conforme registrado em vídeo, Carla vai atrás, tropeçando no caminho antes de persegui-lo, empunhando uma arma, até o interior de um bar.
A Polícia Civil de São Paulo investiga o caso. Um segurança da deputada federal, de 46 anos, foi preso em flagrante no início da madrugada de domingo (30) sob a acusação de disparo de arma de fogo. Ele passou por audiência de custódia no mesmo dia e foi solto após pagar fiança de R$ 1.300, segundo informações de O Estado de S.Paulo.
Luan prestou queixa no 4º Distrito Policial, no bairro Consolação, em São Paulo, contra Zambelli e outros envolvidos na perseguição. Os advogados do jornalista alegam que ele foi vítima de racismo e que houve disparo de arma de fogo e porte ilegal de arma na véspera da eleição. "Eu ia a uma comemoração de chá de bebê e acabei o dia com uma arma apontada para mim por causa de discussão política", disse Luan ao Estado de S.Paulo.
A capixaba Fernanda Guimarães de Albuquerque, de 44 anos, foi a autora do vídeo que viralizou nas redes sociais na tarde de sábado (29) ao desmentir a versão dada pela deputada federal reeleita, Carla Zambelli (PL-SP), de que teria sido empurrada no chão por um eleitor de Lula, após uma discussão.
As imagens registradas pela publicitária mostraram que Carla caiu sozinha antes de correr atrás do jornalista Luan Araújo, no bairro Jardins, em São Paulo (SP), enquanto empunhava uma arma.
Fernanda conta que mora em um prédio na mesma rua em que aconteceu a confusão e que estava retornando para casa com o marido quando eles escutaram as discussões.
"A gente estava chegando em casa e viu essa confusão no restaurante que fica na frente do meu prédio. A gente estava acompanhando de longe, eu e meu marido. A gente achou inicialmente que era um episódio de racismo, né? (sic) Porque tinha uma pessoa preta e tinha uma discussão, e aí o meu marido foi para o meio da confusão, ainda com a intenção de ajudar o rapaz. Porque, se fosse um caso de racismo, a gente poderia testemunhar. E eu comecei a filmar.”
Somente quando já estava filmando a cena a capixaba se deu conta de que a mulher envolvida nas perseguições era a parlamentar reeleita Carla Zambelli (PL-SP).
“Depois a gente entendeu que era uma discussão sobre posicionamento político e eu não sei até agora direito como continuei filmando porque quando a confusão começa, ele (eleitor perseguido) corre na direção que eu estou. O rapaz que estava sendo perseguido fica atrás de mim. E eu não parei de filmar, nem na hora que ouvi o tiro. Depois que eles começaram a correr na direção contrária da onde eu estava, que eu perdi o rapaz de vista, eu parei de filmar, e aí liguei para o 190 e fiz a denúncia”, conta Fernanda, que vive em São Paulo desde 2011.
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