Provavelmente, você já escutou uma criança perguntar por que o céu é azul ou como as crianças são feitas. É durante a infância que os pequenos começam a explorar o mundo e buscam entender um pouco mais os “porquês” do que está à sua volta. Entretanto, durante o período eleitoral, um outro assunto chama a atenção das crianças: a política.
Durante esta época, as crianças acabam escutando músicas eleitorais ou vendo diversas bandeiras e adesivos de candidatos espalhados pela rua. Além disso, seus ouvidos atentos captam todo o discurso político dos pais no ambiente familiar. E é esse "ouvir dos pais" que faz com que a garotada acabe repercutindo as mesmas falas dos familiares em outros ambientes, como a escola.
“Os assuntos relacionados à política chegam na escola, com os menores observando uma reprodução de fala dos adultos que são suas referências.” É o que afirma a professora do ensino fundamental, Fabiana Plotegher Kina.
Quando a criança repercute essas falas no ambiente escolar, a professora destaca que busca valorizar e explicar a importância da cidadania e dos direitos de todos na sociedade, mesmo que com ideias divergentes.
“Acolhemos a fala da criança, mas não damos continuidade no assunto, no sentindo de dizer em quem votar ou quem é o melhor candidato Manter o diálogo respeitoso é necessário. Entendemos que a escola tem o papel da neutralidade partidária para não gerar conflitos desnecessários”, afirma.
O psicólogo clínico Gabriel Sagrillo Kirmse afirma que a escola é o ambiente onde as crianças praticam a socialização, e é durante esse processo que essas diferentes ideias surgem. Ele acredita que o acolhimento escolar é essencial para que os pequenos comecem a entender os processos políticos.
“Então, é muito comum que crianças cheguem muito resistentes a uma outra opinião. Principalmente, se ela vem de um núcleo familiar muito radical. A criança tende a puxar essas características, porque está, nada mais nada menos, sendo um espelho. Mas a escola tem que ser um ambiente para propagação de ideias, mas, principalmente, de acolhimento", destaca.
Segundo o psicólogo, durante a pandemia as crianças e adolescentes tiveram uma quebra nos contatos sociais, uma vez que as aulas foram suspensas e eles foram obrigados a ficar em casa, afetando as relações entre eles.
“Já existe um movimento natural de resistência, de entender o outro, de ouvir o outro, mas, depois da pandemia, houve uma fragmentação. Tanto do ensino, mas principalmente das relações. Hoje em dia, está sendo muito comum briga na escola, porque as crianças voltaram muito mais impacientes, justamente por essa fragmentação no contato social”, declara.
Apesar disso, Gabriel afirma que é responsabilidade dos pais fazer com que as crianças entendam o papel delas nesse processo democrático. Ele indica que os pais façam isso de uma forma empática, escutando as dúvidas e fazendo com que os filhos consigam criar suas próprias opiniões.
A partir disso, é necessário que o adulto as respeite e os incentive a enxergarem que é possível discutir sobre política de forma a somar as opiniões e ter uma conversa saudável.
“Acredito que o papel dos pais e dos responsáveis é passar isso para as crianças de uma forma mais natural, menos pesada e menos evasiva, falando que política é ruim, que política é suja. A gente tem muito essa cultura, principalmente no Brasil, de enxergar a política como uma coisa ruim, como algo sujo, e de passar isso para as crianças também”, afirma.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta