Na reta final para o primeiro turno das eleições de 2020, os candidatos que estão na disputa pela Prefeitura de Vitória saíram da fase de indiretas e iniciaram, de forma mais intensa, um jogo de ataques com endereço certo e acusações mútuas na campanha.
Os alvos preferenciais são os três candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto: Fabrício Gandini (Cidadania), João Coser (PT), e Lorenzo Pazolini (Republicanos), que subiram o tom uns contra os outros, em um enfrentamento direto, além de receberem ataques frequentes dos outros concorrentes.
O embate tem sido principalmente entre os deputados estaduais Gandini e Pazolini, destinando muito mais lateralmente as críticas a Coser. Essa estratégia de desconstruir o adversário passa pelo fato do cada vez mais provável segundo turno, conforme pesquisa Ibope divulgada em 3 de novembro. O petista, por sua vez, tem priorizado resgatar o que fez no passado, quando foi prefeito.
A última pesquisa Ibope realizada a pedido da Rede Gazeta mostrou que Coser lidera as intenções de voto estimuladas, com 26%, mas pela margem de erro de quatro pontos percentuais está empatado com Gandini, que tem 24%. Além disso, Pazolini cresceu oito pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, de 20 dias antes, e alcançou 18%, ficando empatado com os dois, no extremo da margem de erro.
Também são eles quem têm as campanhas mais caras, variando entre R$ 967 mil e R$ 1,2 milhão no quesito arrecadação. O limite de despesas para as campanhas em Vitória é de R$ 7,3 milhões.
Como as duas vagas para o provável segundo turno ainda permanecem em aberto, os dias finais da campanha vão ser decisivos para o resultado do pleito.
Num dos capítulos mais recentes do embate entre Gandini e Pazolini foi travada a disputa sobre quem é ou não apoiado pelo ex-deputado estadual José Carlos Gratz, explorando o fato na propaganda eleitoral e também nas redes sociais, como mostrou a coluna Vitor Vogas.
Gandini mencionou que o delegado e Gratz se encontraram e tem destacado que a vitória de Pazolini na prefeitura acarretaria a entrada do suplente dele, o conselheiro aposentado do Tribunal de Contas (TCES) Marcos Madureira (ex-PRP), um nome da chamada "Era Gratz", na vaga na Assembleia Legislativa. Pazolini desmente tal relação, apontando que a conduta é desespero da "velha política" que tenta se perpetuar no poder.
Enquanto isso, Coser tem passado ao largo desse assunto, resgatando na propaganda os projetos e ações que implementou na Capital quando foi prefeito e buscando emplacar uma imagem mais jovem nas redes sociais, com direito a filtros no Instagram, jingle com paródia da música "Brota no bailão pro desespero do seu ex", que entoa "traz de volta o nosso ex", e até perfil no aplicativo Tinder, de relacionamento.
O ex-prefeito também não destaca o PT e o ex-presidente Lula (PT) na campanha. O líder petista só apareceu quando Coser foi instado pelo PT nacional a fazê-lo, como na homenagem pelo aniversário do ex-presidente.
O enfrentamento entre Gandini e Pazolini conta com acusações mútuas de divulgação de desinformação e de difamação, que inclusive foram parar na Justiça. A batalha judicial teve um significativo desdobramento. Após ação de investigação apresentada por Pazolini, a Justiça Eleitoral determinou busca e apreensão de materiais na Prefeitura de Vitória e em agências de produção audiovisual que trabalham para Gandini, na última quinta-feira (5).
O objetivo é apurar se Gandini teria se beneficiado de contratos firmados entre as empresas de audiovisual e a Secretaria Municipal de Gestão, Planejamento e Comunicação (Seges) e também se a campanha dele teria recebido doações eleitorais de pessoas jurídicas. Gandini diz não ter medo e tampouco o que esconder.
Desde o início da propaganda eleitoral, as divergências entre os dois apareceram, a começar pela forma contrastante de mostrar a cidade: enquanto Gandini, apoiado pelo atual prefeito, Luciano Rezende (Cidadania), buscou mostrar Vitória como uma cidade premiada, com bons indicadores, Pazolini apresentou um quadro caótico de desorganização e abandono, principalmente na área da segurança pública.
Enquanto Pazolini critica as promessas de Gandini e a atual administração, o candidato do Cidadania destaca os feitos da gestão Luciano e se coloca como o único capaz de dar continuidade a eles. O prefeito tem registrado boa avaliação nas últimas pesquisas do Ibope: 35% dos eleitores consideram a atual gestão boa ou ótima.
Além de se colocar como o nome que representa a continuidade, Gandini tem tentado se afastar da ideia da polarização política, reproduzindo, à exaustão, os discursos de que "não pretende brigar com o governo federal, nem com o governo do Estado". Como contraponto, insinua que a desavença entre Pazolini e o governador Renato Casagrande (PSB), a quem o candidato do Republicanos faz oposição na Assembleia, poderia prejudicar a cidade.
Pazolini, por sua vez, tem buscado explorar a visibilidade que teve no trabalho como delegado para tratar do discurso da Segurança Pública na campanha e, assim, atingir os segmentos mais populares, em que Gandini tem menos penetração. Os investimentos nessa área e, em especial, na Guarda Municipal, também monopolizaram boa parte da propaganda eleitoral nos últimos dias, inclusive com discussões sobre a possibilidade ou não da abertura de concursos para a função.
Coser também abordou o tema com outra estratégia. "Tenho visto candidato prometer mais do que um prefeito tem condições de fazer, falando só em reprimir, reprimir. Prefiro outros verbos: educar, qualificar, empregar, incluir", afirmou na TV, no horário eleitoral gratuito.
Até agora, Pazolini não citou Magno Malta (PL). Em 2018, ele subiu no palanque do ex-senador. Magno, agora, apoia a candidatura de Halpher Luigi (PL) em Vitória, mas havia até a expectativa de que essa candidatura não se concretizasse, em favor de Pazolini. Damares Alves, ministra dos Direitos Humanos a quem o candidato do Republicanos homenageou na Assembleia, também não é mencionada.
Na reta final, Magno Malta apareceu, principalmente nas redes sociais, na propaganda do correligionário, Halpher Luiggi (PL), cuja campanha, apesar de ter dinheiro e estrutura, até agora não deu resultados, já que ele nem sequer pontuou na pesquisa Ibope mais recente. Halpher recebeu do PL R$ 400 mil em doações de campanha e, até agora, gastou pouco mais da metade, R$ 235,6 mil.
O candidato tem trazido alguns temas do conservadorismo para sua campanha e contou, inclusive, com o apoio declarado do pastor Silas Malafaia. Halpher Luiggi tem buscado associar-se de forma ainda mais explícita à direita, vestindo camisa com a mensagem "Meu partido é o Brasil", em alusão aos grupos bolsonaristas, em seu programa de TV.
A mesma frase foi adotada como uniforme de campanha pelo candidato Capitão Assumção (Patriota), após ter sido proibido pela Justiça de utilizar a farda da Polícia Militar nos materiais de campanha. O militar continua com a estratégia de se associar ao máximo ao bolsonarismo, embora as questões nacionais não estejam fortes no debate eleitoral municipal.
Para isso, utiliza a imagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao seu lado em santinhos, nas redes sociais e também na propaganda da TV. Assumção chegou a ter a página do Facebook derrubada pelo próprio Facebook por publicar conteúdos que contrariam políticas da rede social, como os relacionados a bullying.
Apesar da postura inflamada na internet, na campanha em si Assumção tem se mantido fora dos embates e evitado atacar ou criticar outros candidatos. Na propaganda, o foco tem sido reforçar propostas que remetem a Bolsonaro, como a Escola sem Partido.
Nas pesquisas, o resultado de Assumção tem sido negativo, após ter registrado 6% e 5% em cada um dos levantamentos do Ibope, mas ter ampliado sua rejeição de 31% para 41%, passando a ser o candidato mais rejeitado na Capital.
Com estrutura e recursos de campanha consideráveis, mas oscilando apenas entre 3% e 6% nas pesquisas de intenção de voto realizadas pelo Ibope, Sérgio Sá (PSB), Mazinho (PSD) e Neuzinha (PSDB) seguem tocando a campanha mirando principalmente nos problemas da atual gestão e em Fabrício Gandini.
Sérgio Sá, que é vice-prefeito, mas rompido com Luciano, tem apontado as obras da cidade nas quais teve participação como secretário de Obras, indicando que "enquanto outros apareciam, era ele quem fazia". E ainda chamou de "promessa mentirosa" assuntos ligados a Coser, como o "metrô de superfície" prometido em 2008, e a "câmera que reconhece bandido", proposta de Gandini, alfinetando os dois adversários de só uma vez.
O socialista também subiu o tom contra Pazolini, ao frisar que o delegado tem como principal bandeira a Segurança, mas quando era titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, o local foi invadido e furtado. Mirando duplamente Gandini e Pazolini, destaca ainda o fato de que os dois teriam que abandonar o mandato de deputado estadual, caso eleitos.
Neuzinha é a que mantém o tom mais ameno entre os três e tem investido em mostrar propostas principalmente para os bairros mais periféricos. Durante a campanha, a candidata também mudou o corte de cabelo para reposicionar a imagem, afirmando estar em uma nova fase de "transformação", assim como a cidade.
O ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas, que se movimentou com uma pré-candidatura a prefeito, mantida até depois das convenções, mas suplantada por Neuzinha, mergulhou. Desde o início da campanha, Luiz Paulo não apareceu no palanque de nenhum dos candidatos.
Já Mazinho dos Anjos recebeu o apoio oficial do deputado estadual Sergio Majeski (PSB), que contrariou o partido ao não apoiar Sérgio Sá. O deputado já apareceu, inclusive, na propaganda de TV do sobrinho do deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD).
O vereador, que se coloca como representante da "nova política", bate na tecla que os demais são "farinha do mesmo saco", e segue com foco prioritário em criticar a gestão de Luciano Rezende, a quem faz oposição na Câmara de Vitória, e por tabela criticar condutas de Gandini.
Entre elas, a realização de um comício que reuniu cerca de 2 mil pessoas no Álvares Cabral, gerando, portanto, aglomeração durante a pandemia do novo coronavírus. Dias depois, Gandini, seu candidato a vice, Nathan Medeiros, o prefeito Luciano Rezende e vários vereadores foram diagnosticados com Covid-19. Isso fez com que agendas e caminhadas de campanha tivessem que ser suspensas pelo grupo.
Gandini foi diagnosticado com Covid-19 no dia 29 de outubro e passou a ficar em isolamento em casa. No último sábado, 7 de novembro, ele divulgou um vídeo nas redes sociais em que afirmou que foi liberado para voltar às atividades. "No dia de hoje fui liberado pela médica, depois das análises que foram feitas, para a gente poder voltar a participar do processo eleitoral", afirmou.
Em um terceiro patamar nas pesquisas e no tamanho das campanhas, há os candidatos mais identificados às ideologias partidárias, como Coronel Nylton Rodrigues (Novo), à direita, e Gilbertinho Campos (PSOL), Namy Chequer (PCdoB) e Raphael Furtado (PSTU), à esquerda. Eles também têm enfrentando dificuldades para pontuar ou evoluir nas intenções de voto, e registrado entre 0% e 2% no Ibope.
Com poucos segundos de campanha na televisão e menos recursos, esses candidatos têm aproveitado mais para se posicionar sobre temas prioritários de suas campanhas do que partir para o ataque aos outros.
Por fim, há ainda Eron Domingos, que foi lançado de última hora pelo PRTB e, até agora, apresentou pouquíssimas ações de campanha, inclusive na internet. Ele tem feito apenas algumas caminhadas e bandeiraços pela cidade. Ele ainda não registrou arrecadação nem despesas de campanha.
O mesmo ocorre com Fábio Louzada (MDB), candidato registrado de forma individual, contra a vontade da direção municipal do MDB, que já havia se coligado com Lorenzo Pazolini. Louzada segue sem fazer campanha, não teve arrecadação ou despesas, e está com o registro de candidatura indeferido pela Justiça Eleitoral, mas recorreu.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta