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Queda de mortalidade infantil é maior em municípios com prefeitas

Queda de mortalidade infantil é maior em municípios com prefeitas

Estudo realizado por pesquisadores brasileiros mostrou que entre 2000-2015, a taxa de crianças mortas, com menos de cinco anos, caiu de forma mais significativa em cidades onde há mulheres no comando

Publicado em 29 de agosto de 2020 às 08:50

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Em cidades que mulheres são prefeitas, taxa de mortalidade apresentou maior queda entre 2000 e 2015. (Shutterstock)
Queda de mortalidade infantil é maior em municípios com prefeitas

A representatividade feminina em cargos de poder ainda é muito pequena, mas a presença de mulheres nesses espaços afeta significativamente a execução de políticas públicas. É o que revela um estudo realizado por pesquisadores brasileiros que relaciona a taxa de mortalidade infantil ao gênero dos dirigentes municipais do país, no período de 2000 a 2015. 

Em 3.167 cidades analisadas, a queda da taxa de mortalidade de crianças menores de cinco anos foi maior onde havia prefeitas.  Os resultados também foram melhores em locais com mais de 20% de representatividade feminina nos Legislativos.

A análise foi feita com base em dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde e pelo Tribunal Superior Eleitoral e envolveu pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade dos Andes, em Bogotá, e do Banco de Desenvolvimento Interamericano, em Washington. A pesquisa foi publicada na revista científica “Health Affairs”.

De acordo com o estudo, entre 2000 e 2015, houve um aumento de 4,5% para 9,7% de mulheres à frente das cidades no país. No mesmo período, o Brasil experimentou uma grande queda na mortalidade infantil. As taxas caíram de 25,1 para 13,6. Esse resultado foi alcançado, em grande parte, pelo aumento da cobertura de programas como o Bolsa Família e de atenção primária à saúde. 

Ao serem cruzados, contudo, esses dados revelaram que era não apenas o investimento em assistência social que havia contribuído para a redução da mortalidade infantil. O fato de ter uma prefeita estava associado à queda 0,027 pontos percentuais nos municípios. Além disso, em Estados com 20% ou mais de mulheres nas Assembleia, houve uma diminuição de 0,038 pontos.

"Embora o aumento desses programas seja importante, a queda da taxa de mortalidade infantil, ao longo dos anos foi maior nos municípios que possuem mais representatividade feminina. Nesses locais, a curva foi mais acentuada. As mulheres foram mais eficazes na redução da morte de crianças do que os homens”, explica Ana Clara Duran, que faz parte do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Alimentação da Unicamp, e é uma das responsáveis pelo estudo. 

MULHERES SE PREOCUPAM MAIS COM QUESTÕES SOCIAIS

De acordo com Duran, uma série de hipóteses pode explicar esses resultados, entre elas o olhar mais amplo das mulheres para questões sociais. 

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Na política, as mulheres tendem a dar maior prioridade do que os homens ao atendimento público, incluindo saúde e educação, o que pode levar ao maior investimento nesses domínios

Ana Clara Duran
Pesquisadora
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“À frente do município, elas são responsáveis pela tomada de decisões. Isso ajuda a neutralizar estruturas sociais desiguais e acesso desigual a recursos sociais, culturais e econômicos, o que pode levar a um padrão social de doença", destaca.

A melhora nas taxas de mortalidade infantil pode ainda ser relacionada ao modelo de gestão adotado por mulheres, que é mais compartilhado.

“Mulheres são mais democráticas e menos centralizadoras, o que também favorece para perceber as necessidades do município. Além disso, mulheres na política são menos afetadas por corrupção e os recursos costumam ser tratados com muito cuidado", destaca. 

PARTIDO NÃO FAZ DIFERENÇA

O estudo revelou também que não importa em qual partido a mulher se encontra, os resultados são os mesmos. "Quando colocamos os partidos políticos das mulheres a análise se mantém."

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Independentemente da ideologia política, se é de direita ou esquerda, a presença das mulheres nestes cargos reflete maior implementação de políticas públicas sociais e de medidas que favorecem a saúde nos municípios

Ana Clara Duran
Pesquisadora
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Ela acredita, contudo, que a atual conjuntura política pode trazer alguma diferença nos próximos anos, caso os dados sejam analisados novamente.

"A gente vê um crescimento da extrema direita, o que pode de alguma forma interferir nas políticas sociais. Eu acredito que fará diferença em âmbito estadual e federal, mas não tanto na política local. Geralmente, a ideologia não tem tanto reflexo em uma cidade. Mas teríamos que esperar uns cinco, dez anos para verificar se algo vai mudar."

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