O ano era 2006. O primogênito do então presidente Lula, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, estava no centro de uma polêmica envolvendo negócios entre o grupo Oi/ Telemar e a Gamecorp um microempresa de jogos na internet criada por ele e amigos anos antes. A suspeita de irregularidades fez o petista sair prontamente em defesa do filho, comparando-o a Ronaldinho Gaúcho.
O jogador de futebol estava no auge da carreira e a equiparação conferia a Lulinha características de gênio do mundo empresarial. Que culpa tenho eu se meu filho é o Ronaldinho dos negócios?, disse Lula, na ocasião.
A contratação da empresa que tinha o filho do ex-presidente como sócio chegou a ser alvo de um inquérito, arquivado por falta de provas pelo Ministério Público Federal. Agora, o caso voltou à tona na 69ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada no início de dezembro.
O MPF afirma que parte dos recursos do negócio entre a Oi/Telemar e a Gamecorp pode ter sido usado na compra do sítio de Atibaia. O imóvel levou Lula a uma condenação de 17 anos de prisão.
Corta para 2019. O primogênito do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro, está no centro de uma polêmica baseada em um suposto esquema de rachadinha no gabinete dele, quando ainda era deputado estadual pelo Rio de Janeiro. O parlamentar foi alvo de uma operação na última quarta-feira (18), suspeito de lavar R$ 2,3 milhões.
A investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro fez o presidente sair prontamente em defesa do filho, comparando-o a Neymar nesta sexta-feira (20). Bolsonaro argumenta que Flávio ganha dinheiro porque consegue atrair muitos clientes, assim como o atleta do PSG, que tem um alto salário por ser o jogador mais importante.
O presidente reproduziu a analogia feita pelo adversário político e que, inclusive, foi alvo de críticas recentes de outro filho de Bolsonaro, o Eduardo. Em discurso na Câmara, em outubro, ao comunicar que não seria indicado para a Embaixada brasileira em Washington (EUA), afirmou que Lula, certamente, não indicou seus filhos [para ocupar o posto de embaixador], pois eles estavam ocupados com outras funções, como a de ser o Ronaldinho dos negócios.
A similaridade dos casos salta aos olhos e não pode ser tratada como simples defesa de filhos altamente competentes nos negócios e criticados injustamente. Lula e Bolsonaro, que provocam o antagonismo na sociedade, usam práticas populistas idênticas para desacreditar investigações que podem comprometer não só seus primogênitos, como eles mesmos. Traçar paralelos entre performances de jogadores de futebol e práticas com recurso público sob suspeita é colocar para baixo do tapete o que deveria ser trazido à luz por quem está à frente de uma nação com mais de 200 milhões de habitantes.
Samanta Nogueira é editora de Política de A Gazeta
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