Lá vai ela! Andando num terreno aberto, em silêncio, com uma atenção redobrada... lá vai ela. Uma vegetação rasteira, misturada com areia e terra é o “mapa da mina” de Dilzerly Machado, de 55 anos, que com seu detector de metais busca contar a história de Presidente Kennedy, município do Litoral Sul do Espírito Santo.
Inquieta, há apenas quatro meses ela decidiu entrar para um movimento que existe em vários lugares do mundo, mas que, até o ano passado, era desconhecido no município: o detectorismo. Muitos praticantes buscam metais nobres como ouro em praias, terrenos ou espaços que foram frequentados por outras pessoas em uma determinada época. Mas com Dilzerly é diferente.
“O detectorismo nada mais é do que o uso do detector de metais para achar coisas. No meu caso, minha expectativa é achar um sítio arqueológico aqui na cidade. Por exemplo, onde a gente está agora foi uma grande fazenda, a fazenda Muribeca. Por essa região, achei objetos que confirmam a história: moeda muito antiga, moeda do Império e até do Brasil Colônia. Já achamos moeda de 1716 e outros aparatos, coisas ligadas à igreja, aos jesuítas”, explica.
O local onde a equipe do “Em Movimento Viaja”, quadro do programa semanal da TV Gazeta, encontrou-se com ela fica no entorno da Igreja das Neves, cartão-postal da cidade, cuja construção teria sido feita pelos jesuítas no século XVII. “Em Presidente Kennedy, de dia a gente pega praia e, no fim de tarde, a gente vem pegar uma fresca por aqui para fazer detectorismo. Nossa cidade é linda, tem praias maravilhosas e uma história sensacional. É uma coisa que encanta a gente. Tem lugares que os próprios moradores não conhecem. Meu sonho é poder ajudar a contar história do município”.
Dilzerly considera o detectorismo um hobby, mas que pode ajudar a resgatar o orgulho de ser capixaba. Tudo começou depois que ela viu vídeos na internet de pessoas que achavam tesouros pelo mundo, gente que passa dias em praias, locais turísticos ou em terrenos que já foram cenários para guerras, acampamentos ou antigas vilas. Ela achou a ideia ótima, se apaixonou e começou a detectar o passado de olho no futuro. “Estamos colecionando essas moedas, esses objetos que a gente encontra com intenção de criar um museu de Presidente Kennedy”, explica.
COMO FUNCIONA?
Cada bipe que o detector de metais dá é um sinal de que há algo ali. Tudo é medido através de um sensor que vem no aparelho e cada detector é de uma forma. Quanto mais caro, maior é a profundidade que ele atinge de reconhecimento de algum metal para dentro da terra. “Ele indica alguns números, e alguns são os que eu quero. Quando ele aponta o número 20 ou 30, eu sei que é uma moeda antiga, de valor histórico muito mais forte. Quando eu acho uma moeda assim, sobe até a pressão e o coração já acelera”, confessa.
Como o aparelho é um detector de metais, ele acaba, claro, detectando diferentes tipos desse material, incluindo os que não possuem valor comercial. Mas esse é outro objetivo da Dilzerly: ajudar a limpar a cidade e a contribuir para a preservação do meio ambiente. “Na praia, se eu encontro uma tampinha, eu recolho. Já achei arame, algumas cápsulas... Se encontramos o que é lixo, isso não volta para a natureza, a gente leva e descarta no local certo.”
TURISMO DE DETECTORISMO
Apesar do pouco tempo que tem feito o detectorismo, a ideia da Dilzerly Machado já tem ganhando adeptos e curiosos por todos os cantos da cidade. “As pessoas ficam pedindo para ir comigo, para andar por aí.. Outro dia, fomos com um grupo na Praia das Neves, com crianças, inclusive, detectando. Ou seja, está virando um turismo na cidade, um turismo de detectorismo”, conta ela, empolgada.
Buscar objetos no solo é uma forma de conhecer a cidade por ângulos diferentes e com uma boa dose de cultura e história. Enquanto procuram dentro da terra, os olhos podem passear por cima dela e reconhecer a arquitetura e as belezas naturais de Presidente Kennedy. É isso que faz o José Carlos Almeida, outro adepto do detectorismo capixaba.
Amigo de longa data de Dilzerly, ele aceitou o convite para conhecer a atividade e não largou mais. “Aqui a cabeça fica leve e acaba sendo um passatempo. Uma moeda que a gente acha, você fica pensando quantos anos tem? Quem era o dono dela? Quais histórias estão por trás desse objeto? A cidade tem muita história que eu não sabia e que passei a conhecer a partir disso, pois, cada coisa que encontramos, buscamos estudar de onde veio”, diz José Carlos.
E a intenção de Dilzerly é continuar difundindo o detectorismo por Presidente Kennedy. “Já estou indo para o meu quarto detector de metais. O que a gente acaba fazendo aqui, de certa forma, é para as pessoas poderem conhecer a história do município. Esse local, por exemplo, já passou por tanta coisa e quase ninguém sabe. E eu acho que merece ser conhecido. Aliás, fica o convite: venham conhecer as belezas e histórias de Presidente Kennedy.”
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O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( Iphan) esclarece que, para realizar a atividade, é necessário se informar sobre a área que pretende explorar, já que muito locais históricos têm sítios arqueológicos, onde é proibido esse tipo de “exploração”.
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