Estúdio Gazeta
Escola Monteiro
“Por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa’”. A frase, de Emília Ferreiro, é citada pela psicopedagoga Tatiani Svacina, para resumir a importância de olhar o aluno que ocupa um lugar na sala de aula em sua integralidade, inclusive como forma de garantir melhores resultados de aprendizagem.
Coordenadora dos 1º e 2º anos do ensino fundamental da Escola Monteiro e orientadora psicopedagógica para as demais séries, Tatiani complementa: “o estudante, seja criança, seja adolescente, é alguém que pensa e que sente como todo o ser humano. E o pensar e o sentir não podem ser desconsiderados quando se tem o compromisso com uma formação ampla, que vai além da absorção de conteúdos previstos no currículo de cada série”, reforça.
Para ela, enquanto espaço formal voltado para a educação, a escola pode e deve ser um espaço aliado da família na formação de um indivíduo capaz de gerir as próprias emoções. O primeiro passo, nesse sentido, é reconhecê-las.
“Muitas vezes, o que acontece é exatamente o contrário. A criança é induzida a rejeitar suas emoções. Deve engolir o choro, deve ser apenas boazinha, não pode dizer o que pensa... Isso tudo pode deixar lacunas do ponto de vista do desenvolvimento emocional, prejudicando também o aprendizado e dificultando a construção de competências e habilidades como empatia, autonomia, segurança, espírito colaborativo e de equipe, tão necessárias tanto na fase escolar quanto no futuro, ao se pensar nos atributos importantes para o sucesso profissional e a realização”, considera.
Na prática, o trabalho de contribuir na gestão das emoções acontece no dia a dia da escola, dentro de um projeto pedagógico estruturado para valorizar a humanização, o protagonismo, o pensamento crítico e o autoconhecimento.
Um exemplo é a realização, já nos primeiros dias do ano letivo, da atividade “Palavras que Abrem o Coração”. A dinâmica, idealizada pelas professoras Penha Oliveira e Karla Muruce, envolveu os alunos do 1º ano do ensino fundamental, que têm cerca de 6 anos, durante a assembleia – iniciativa que acontece quinzenalmente como forma de dar aos alunos de todas as séries a oportunidade de se manifestar com liberdade sobre temas relacionados ao cotidiano escolar.
Palavras como afeto, carinho, amor, respeito, empatia e compreensão foram colocadas em uma caixa fechada com um cadeado, com um coração na parte de cima. Cada aluno foi convidado a abrir a caixa e sortear um sentimento.
“Cada um pôde falar sobre o sentimento em questão, viabilizando um momento especial de troca e de livre expressão de sentimentos e emoções. Após falar sobre o sentimento sorteado, cada aluno representou essa palavra em uma ‘chave’, como forma de registrar a importância daquele sentimento na vida”, explica Tatiani.
A dinâmica “Palavras que Abrem o Coração” é apenas uma das muitas iniciativas pensadas dentro do projeto pedagógico como forma de gestão das emoções e autoconhecimento. Outro deles é que, desde 2017, a Monteiro oferece aulas de ioga semanais aos alunos de todas as séries, do ensino fundamental ao médio.
“Pela ioga, trabalhamos o autoconhecimento e a gestão das emoções, usando uma abordagem lúdica e adequada para cada idade trabalhada. Além dos benefícios físicos, que são inúmeros, trata-se de uma filosofia que tem muito a nos ensinar sobre a importância de olhar para dentro, sobre flexibilidade e equilíbrio para além do corpo, sobre o poder da respiração, entre outros pontos”, comenta a professora de ioga da escola, Júlia Cruz.
Mãe de Maria Eduarda, aluna do 2º ano do ensino fundamental da Monteiro, Cláudia Lima, afirma que, com pouco mais de um ano na escola, já percebe uma evolução no desenvolvimento emocional da filha. “Ela é uma criança muito sensível e está muito claro para nós o quanto essa parceria entre a família e escola contribuiu nessa evolução. Recebemos cuidado e atenção que são fundamentais nesse percurso. Isso vale para os pais, a família e vale também para as crianças. Elas têm voz, são ouvidas em assembleias rotineiras e no dia a dia. A equipe pedagógica está sempre aberta para ouvir e acolher todas as questões que os meninos trazem”, afirma.
Segundo Claudia, Maria também deixa claro o quanto está satisfeita no dia a dia e, com o final do ano passado, fez questão de deixar combinado: “Mamãe, eu não vou mudar de escola ano que vem não, né”?. E assim ficou combinado.
A literatura infantil é muito rica e pode ser uma excelente aliada no processo de desenvolvimento emocional da criança. Anote alguns títulos que podem ajudá-lo nesse trabalho, seja você pai, mãe, alguém se interesse pelo assunto ou profissional da área: "Emocionário", de Cristina Nuñez Pereira e Rafael R. Valcárcel; "Mania de Explicação", de Adriana Falcão; "A Parte que Falta" e "A Parte que Falta Encontra o Grande O", de Shel Silverstein.
Crie dinâmicas ou utilize jogos que estimulem a auto-observação e o autoconhecimento (como a brincadeira da caixa, realizada na Escola Monteiro).
Viabilize momento de diálogo, reuniões e “assembleias” familiares para que a criança/adolescente se expresse em relação ao cotidiano da casa, abrindo espaço para falar sobre como se sente, o que incomoda, suas alegrias e dores.
Sentimentos como tristeza e raiva fazem parte da vida de qualquer ser humano. Estimular a criança a “engolir o choro” ou a negar seus próprios sentimentos em prol de um “comportamento adequado” pode gerar dificuldades ao longo da vida.
Música, pintura, teatro e todas as formas de arte são grandes aliadas no processo de identificação das emoções, estimulando a sensibilidade, a escuta e a identificação.
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