Estúdio Gazeta
Green House Psiquiatria
Quando uma família descobre que a criança é autista, aos poucos vai se dando conta de que terá que passar por uma nova organização, para então começar uma outra dinâmica, com um outro funcionamento a partir dali.
Mas mais do que aceitar bem o novo contexto, os pais, sobretudo, deverão estar prontos para encarar um papel que será decisivo e fundamental no desenvolvimento do seu filho.
E quanto mais rápido eles se conectarem com essa realidade, mais envolvidos e ativos estarão desde o início do processo, como frisa a psiquiatra Fernanda Mappa, que atua na Green House Psiquiatria, um grupo privado com unidades em Guarapari e Fundão. "Mais importante que aceitar qualquer nome, qualquer diagnóstico, é preciso que a família comece as intervenções necessárias, que são essenciais e trarão com maior facilidade as aquisições dos marcos do desenvolvimento em atraso. As intervenções precisam vir antes da aceitação da família em relação a qualquer diagnóstico, já que a criança não tem tempo de esperar."
Uma família bem orientada, diz Fernanda, conseguirá lidar melhor tanto com o diagnóstico quanto com a necessidade de intervenções. "Quanto antes for feito o diagnóstico e forem identificados os atrasos na criança, melhor para aproveitar o que chamamos de 'janela de oportunidades', promovida pela plasticidade cerebral, que é a capacidade dos neurônios se transformarem e se reorganizarem de acordo com os diferentes estímulos."
Segundo a psiquiatra, a intervenção precoce gera ganhos significativos e duradouros no desenvolvimento da criança autista. "Se adiarmos demais a aceitação e o início das intervenções, reduzimos a possibilidade de ganhos motores e socioemocionais."
Por isso, a família deve ser colocada sempre como protagonista no tratamento, já que é ela quem precisará lidar com a criança na maior parte do tempo e nos diferentes ambientes por onde ela vai circular.
Bárbara Rampom, coordenadora do Protea Neurodesenvovimento, centro especializado da Green House, afirma que pesquisas já constataram que o tratamento do autismo é mais eficiente se a família está integrada e participando ativamente desse processo. "É muito importante que os pais saibam o que está sendo aplicado, que entendam e aceitem todo o processo. É muito complicado quando os pais não participam, não dão continuidade ao tratamento em casa e em outros ambientes naturais da criança."
Não só os pais devem participar do tratamento, como também todos os demais familiares, de acordo com a coordenadora: "Avós, tios... Todos precisam participar! Assim, a criança vai se sentir mais acolhida, mais preparada."
A família, complementa Bárbara, precisa ser a primeira a aceitar. "Não adianta reclamar de preconceito lá fora se ele está dentro de casa."
Vencida essa primeira barreira, da aceitação e do início das primeiras intervenções na criança autista, é hora de encarar as atividades que vão ajudá-la a estar mais bem preparada para o que está por vir nos próximos anos.
De acordo com as especialistas, crianças com autismo costumam apresentar uma menor orientação social, tendendo a observar menos os adultos, suas expressões corporais e faciais. Um quadro que dificulta o aprendizado, a comunicação.
Por isso, os pais e cuidadores precisam saber como promover a interação social na maior parte do tempo e na maioria dos lugares onde o autista estará.
"As crianças com autismo apresentam ou desenvolvem uma maneira peculiar de brincar. Frequentemente, têm dificuldade em dar função correta ou variações aos brinquedos e perdem o interesse com facilidade pelas atividades, principalmente as que envolvem outras crianças. Daí a importância de uma rotina de brincadeiras que possam estimular o contato social e o cumprimento de regras, que possam incitar a fala, estabelecer o contato visual, aumentar o repertório de jogos, a reciprocidade", explica a psiquiatra Fernanda Mappa.
Para cada idade, aponta ela, há um tipo de brincadeira diferente. "Mas se engana quem acha que o 'brincar' requer brinquedos caros. Os melhores e até mesmo mais adequados podem ser feitos com materiais recicláveis, como uma caixa de papelão ou caixa de sapato, o bom e velho avião de papel, bolinha de sabão", cita.
Bárbara concorda: "Mais do que usar tecnologia, vale brincar de panelinha, de esconde-esconde, de fazer cócegas. Se ela for maior, usar jogos de tabuleiro, chamar toda a família para jogar. São momentos importantes, na verdade, para qualquer criança. Mas são especialmente importantes para o autista porque estimulam o contato visual, a sociabilidade."
Há muitos casos em que a criança teve melhora nos sintomas do autismo com a chegada do irmão. "Esse irmão pode participar das sessões de terapia! Em casa, eles brincam juntos. E a criança com autismo vai querer imitá-lo, vai aceitar compartilhar brinquedos e aceitar melhor a presença de outra criança nos espaços. Os pais devem estimular essa relação, ajudar na proximidade entre as crianças", ressalta Bárbara Rampom.
É verdade que um filho com autismo demanda cuidados especiais e muitas intervenções, trazendo alterações significativas na dinâmica da família que, muitas vezes, se vê obrigada a mudar de cidade para ficar mais próxima de centros de tratamentos, além de precisar reformular a vida financeira do casal, pois é comum um membro do casal precisar sair do emprego, por exemplo, para se dedicar à criança.
"Com tantas mudanças e até perda de renda familiar, o papel dos irmãos se mostra fundamental, tanto como rede de apoio para os pais, que se sentem sobrecarregados, como também para a promoção de habilidades sociais", afirma Fernanda Mappa.
As interações entre irmãos, diz a psiquiatra da Green House, desempenha um papel importante na vida social de uma criança com autismo, sendo particularmente importante no desenvolvimento de habilidades sociais.
"Estudos observacionais mostram que o irmão mais velho desempenha papel de modelo e professor para a criança mais nova. A interação da criança com autismo com seus irmãos mostra-se tanto em frequência quanto em qualidade de interação mais efetiva quando comparada com interações com pares não irmãos. Nada se compara à relação entre irmãos. Os pais devem focar a atenção nas tentativas de brincar de seus filhos, fornecendo modelos para o irmão copiar. Muitas oportunidades podem advir dessa relação", observa ela.
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