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Marca Ambiental
Chuvas torrenciais, tempestades de areia e períodos maiores de seca são evidências das mudanças climáticas vividas no Brasil e no mundo. Segundo especialistas, esses fenômenos são consequências diretas do efeito estufa, potencializado pela emissão de gases poluentes à atmosfera.
Diversas estratégias têm sido discutidas a fim de reverter este quadro e, neste cenário, uma alternativa moderna se destaca: o crédito de carbono. Trata-se de um certificado que reconhece a redução de emissões de gases do efeito estufa. Dessa forma, um crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) que deixa de ser lançada na atmosfera.
A redução da emissão de outros gases, igualmente geradores do efeito estufa, também pode ser convertida em créditos de carbono, utilizando-se o conceito de Carbono Equivalente. Tais créditos podem ser comercializados no mercado de crédito de carbono, que promove o intercâmbio entre quem gera créditos por reduzir emissões e quem precisa compensar suas emissões residuais. Assim, uma organização compra créditos de carbono de outra.
“A ideia é permitir que as emissões de carbono sejam reduzidas com maior maleabilidade. Muitas vezes, é mais viável para uma empresa compensar suas emissões do que deixar de fazê-las, por questões econômicas ou de tecnologia”, explica o professor doutor da Universidade Federal do Espírito Santo, Neyval Costa Reis Junior, membro da Comissão Estadual de Mudanças Climáticas.
No Espírito Santo, a Marca Ambiental já participa deste mercado, como comercializadora de crédito de carbono. A empresa gera créditos por meio da produção de energia limpa e renovável a partir da captação de Biogás em poços do Aterro Sanitário em Cariacica (ES) em parceria com a Liberum Energia.
Por meio de motores a combustão de alta performance e tecnologia de primeira linha, o Biogás é queimado e se transforma em energia elétrica. Dessa forma, o modelo permite a venda de CERs (créditos de carbono) gerados com a destruição do metano, que contribui para o aquecimento global 28 vezes em relação ao CO2.
De acordo com Diogo Ribeiro, diretor da Marca Ambiental, o mercado de crédito de carbono é cada vez mais promissor e um importante Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
“O mercado está vendo com outros olhos para o desenvolvimento sustentável. A Marca é uma das pioneiras neste mercado. Atualmente, estamos fazendo um levantamento do inventário de gases de efeito estufa produzidos na empresa, além da quantidade que deixa de ser emitida. Nosso intuito é mostrar que somos carbono neutro ou até carbono negativo, ou seja, nossas atividades mais reduzem emissões, do que efetivamente produzimos”, explica.
Os créditos de carbono podem ser gerados de diferentes maneiras. O professor Neyval Reis dá alguns exemplos. “Os créditos de carbono são gerados na substituição de combustíveis fósseis por energias renováveis ou pela contribuição na diminuição do desmatamento, por exemplo. Existem empresas que estão investindo, ainda, em sequestro de carbono, buscando retirá-lo do ar por meio de novas tecnologias e o armazenando debaixo da terra”, observa.
Para a geração dos créditos podem ser realizadas ações em conjunto, inclusive entre países. Se, por exemplo, os Estados Unidos, um país desenvolvido, percebe que não vai conseguir atingir suas metas de não emissão de carbono, pode realizar uma parceria com um país em desenvolvimento, como Haiti.
Nessa parceria, os EUA podem oferecer recursos tecnológicos e investimentos para que a Haiti reduza suas emissões. Se a Angola reduzir as emissões em 500 toneladas de carbono, são gerados 500 créditos de carbono, divididos entre os países.
Em abril deste ano, durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, promovida pelo governo americano, o Governo Federal anunciou a intenção de atingir a neutralidade de carbono no país no ano de 2050. A decisão se mostra em conformidade com outros líderes mundiais e foi ratificada na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP26) - encontro sobre o clima e o meio ambiente que reúne representantes dos 196 países signatários do Acordo de Paris.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu reduzir pela metade as emissões de gases do efeito estufa até 2030, com o objetivo de atingir a neutralidade do carbono até 2050. O mesmo compromisso foi assumido pela União Europeia (UE), que também planeja alcançar a neutralidade climática em 2050, e mais arrojado que o da China, que reiterou na cúpula sua intenção de atingir essa meta até 2060.
O professor Neyval Costa Reis Junior destaca que o cenário de mudança, evidenciado pelas decisões recentes de líderes mundiais, reforça um novo compromisso com o desenvolvimento sustentável.
“Cerca de 80% da energia mundial é gerada com combustíveis fósseis. Mas, nos últimos anos, percebeu-se que é preciso alterar o processo de fabricação, de geração de energia. A primeira etapa é a vontade política de mudança. Este ano, com a mudança de postura dos Estados Unidos, com a presidência de Joe Biden, tem sido um marco. A decisão de neutralidade de carbono é um grande passo”, afirma.
A comunidade internacional estabeleceu em 2009 a meta de limitar a 2°C o aumento da temperatura mundial na comparação com a era pré-industrial, com o objetivo de evitar graves consequências para o planeta.
Desde então, vários cenários foram traçados para as próximas décadas: dos mais catastróficos aos mais brandos. Para o professor Neyval Reis, ainda há tempo para conter os efeitos nocivos das mudanças climáticas.
“Se o plano de neutralização das emissões de carbono até 2050 for bem-sucedido, eu diria que a gente conseguiria reverter os efeitos nocivos. Para isso, será preciso buscar novas alternativas, como aumentar o percentual do biocombustível nos combustíveis fósseis, e popularizar a utilização de energias sustentáveis, como a eólica e a solar.”
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