Um gigante que gera um gasto exorbitante para o governo, atrai pouca gente e mostra que o dinheiro do contribuinte está se esvaindo pelo ralo. Assim é o estádio Kleber Andrade, que em cinco anos movimentou mais de R$ 16 milhões em bilheteria, principalmente para empresas e grandes equipes de fora do Estado, mas para o governo, a praça esportiva acumula um prejuízo gigantesco desde a sua reinauguração. Até hoje as obras do estádio não foram concluídas.
O Kleber Andrade foi reinaugurado no dia 27 de dezembro de 2014. O custo total da obra, à época, foi de R$ 180 milhões. Recentemente, foram autorizados mais R$ 15 milhões para a conclusão (elevador, escada rolante, placar eletrônico, etc).
Só em manutenção, o governo desembolsou mais de R$ 7,4 milhões nesse período. Em contrapartida, arrecadou apenas R$ 354,4 mil - a única forma de arrecadação atualmente é com o aluguel do estádio. Vale salientar que em diversos jogos o aluguel não foi cobrado. Ou seja, 4,8% do que é gasto retorna aos cofres.
Principal palco esportivo do Espírito Santo, o Klebão já abriu seus portões para menos de 100 torcedores (13 partidas). Por outro lado, o estádio foi a casa de clubes cariocas por diversas vezes. O Flamengo, por exemplo, veio ao Espírito Santo em 12 oportunidades. O Rubro-Negro movimentou cerca de R$ 9 milhões com bilheteria.
Há oito meses, a equipe de Esportes de A Gazeta iniciou um levantamento de todos os jogos de futebol masculino profissional de 2014 até 2019 no estádio Kleber Andrade. Foram 109 partidas nesse período.
Com o apoio do G.Dados, o núcleo de Jornalismo de Dados da Rede Gazeta, números de público pagante, rendas e aluguel foram obtidos em consultas a boletins financeiros, dados públicos e Lei de Acesso à Informação.
José Simões, professor de Gestão Pública do Ibmec/DF, explica que, quando um estádio é construído, o governo prevê grandes custos, mas não tem como estimar o tamanho do rombo.
"Um estádio de mais de 20 mil lugares com média de 400 pessoas, como o Kleber Andrade, é porque o governo não se preocupou em planejar. Não tem essa demanda. São obras que têm o carimbo de elefante branco", frisou.
Para o especialista, uma das saídas para equilibrar essa conta seria ampliar a utilização do estádio público e não restringi-lo apenas ao futebol.
"O estádio está aí. Agora, como utilizar? Tem que trazer uma empresa que faça uma avaliação econômica do que pode ser feito no local. Quando chama uma empresa para fazer um projeto para colocar no edital, você enxerga como pode explorá-lo economicamente. Isso torna mais viável o uso do estádio. O caráter econômico vai atrair o investidor."
Entenda nosso trabalho
Por que fizemos esta matéria?
Na cobertura diária do futebol local, percebemos que na maioria dos jogos no Kleber Andrade o público é muito baixo. Assim, decidimos levantar os gastos e as receitas do governo com o estádio e constatamos que os números são decepcionantes. A praça esportiva não consegue se manter e ainda consome muito do dinheiro público.
Como apuramos as informações?
Verificamos os boletins financeiros de todos os jogos realizados no estádio desde 2014 e contamos com dados fornecidos via Lei de Acesso à Informação. Esses números embasaram todas as nossas análises.
O que fizemos para garantir o equilíbrio?
Analisamos os dados e ouvimos todos os responsáveis pelo Kleber Andrade. Para não ficar apenas no problema, conversamos com especialistas que apontaram possíveis soluções para o estádio.
O que é G.dados?
G.Dados é o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, que tem como objetivo qualificar e ampliar a produção de reportagens baseadas em dados na Redação Multimídia. Jornalismo de dados é o processo de descobrimento, coleta, análise, filtragem e combinação de informações com o objetivo de construir histórias. É mais uma ferramenta para reforçar e embasar a produção de notícias. Confira outros trabalhos do grupo.
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(Colaboraram na análise de dados: Mikaella Campos, Natalia Bourguignon e Vinícius Valfré)
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