A indígena Jaciele Pego Ramos Bolonese, 31 anos, da etnia tupiniquim, sofreu um duplo trauma. Moradora da Aldeia Caieiras Velha, em Aracruz, Norte do Espírito Santo, ela teve um aborto espontâneo e, após receber atendimento médico, afirma que recebeu o feto em um pote plástico improvisado no Hospital e Maternidade São Camilo, no mesmo município.
A mulher estava no quarto mês de gestação e convivia com constantes sangramentos. No final de junho, ela procurou atendimento médico no hospital e foi diagnosticada com descolamento de placenta e, alguns dias depois, também teve a confirmação de que estava contaminada com o novo coronavírus.
Segundo relato de Jaciele, na quinta-feira (2) ela teve muitas dores e procurou novamente o hospital, mas foi liberada. No dia seguinte, sofreu um aborto espontâneo em casa. Com o auxílio da enfermeira da aldeia, retornou ao hospital para ser submetida ao procedimento de curetagem.
Entre horas de espera no isolamento, por causa da Covid-19, ela conta que ficou ao lado do feto do filho. “Uma funcionária do hospital pegou um pote desses usados para colocar soro fisiológico, cortou ali mesmo e encheu de formol. Então ela pegou a placenta, o feto, e colocou ali dentro e depois fechou com uma fita”, relembra.
Quando teve alta, no sábado (4), Jaciele conta que uma funcionária do hospital, ofereceu uma sacola de plástico para que ela pudesse levar o pote. Quando chegou em casa, a indígena relata que ficou ainda mais perdida."Fiquei segurando aquele pote e chorando muito com toda a situação. Meu marido, desesperado, não sabia o que fazer também", contou.
Em nota, o Hospital e Maternidade São Camilo chamou a situação de fato isolado e acrescentou que abriu uma sindicância interna para apurar os fatos. A Secretaria de Saúde de Aracruz informou que, ao tomar conhecimento da situação, encaminhou uma equipe ao hospital para buscar o material e levar até a Casa Rosa, órgão responsável por encaminhar para o laboratório em Vitória.
A situação causou revolta e comoção entre os leitores de A Gazeta, que classificaram o tratamento como "desumano". Confira alguns comentários:
O cúmulo do racismo! Provavelmente essa atitude absurda tem a ver com o escândalo também absurdo envolvendo os bebês Yanomamis. É muito racismo um profissional de saúde não amparar essa mãe em luto e procurar saber se na cultura dela ela precisava do feto. Revoltante! (Maria Ester Eikan Venezia)
Isso é desumano! Um crime!! (Vitor De Bruim)
Perder um bebê já é triste... recebê-lo despedaçado em um potinho dói na alma, nem imagino a dor dessa mãe com esse descaso. Trataram o feto como lixo. (Débora Raquel)
Vergonha... Fizeram um momento tão difícil se tornar pior ainda. (Eddy Almeida)
O que está acontecendo com a humanidade? Que vídeo triste, a mulher está visivelmente traumatizada. (Vania Casati)
Eu também sofri um aborto com cinco meses de gestação , porque um idiota do médico me deu um medicamento errado. (Jacke Silva)
Jesus amado, imagina isso! Quem fez isso não tem o mínimo de empatia! Sem mais! (Carolina de Alcântara Silveira Barros)
Quem fez isso tem que ser penalizados e não somente passar uma mãozinha na cabeça. (Raphael Silva)
Não se leva feto para casa, Imagine se todo hospital tivesse essa reação. Misericórdia. Algum advogado poderia entrar com ação contra o hospital. (Vanessa Theodoro)
Quando o feto é maiorzinho, é liberado para enterro, pois sai do hospital com certidão de óbito e tudo mais, mas nesse caso não poderia ter saído do hospital, porque é um feto com apenas algumas semanas. Parte de membros amputados, dependendo do membro, tem realmente que enterrar no cemitério, como um corpo normal, mas vem em uma urna lacrada, tem um documento do hospital, não é assim de qualquer jeito não!! O que fizeram com essa mãe foi desumano. Não existe isso de levar pra casa não, é levado para incineração de material biológico. (Keli Silva Neitzel)
Vergonhoso para o Estado e para o Brasil. Está pior que a Índia e a Venezuela, ridículo. (Sueli Oliveira)
Eu já sofri um aborto, me direcionei ao São Camilo e fui tratada igual lixo. Atendimento péssimo, nem um remédio de dor passaram pra mim… (Jocimara Oliveira)
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