O futebol feminino capixaba atravessa um momento de transformações, alinhado ao crescimento da modalidade no Brasil e no mundo. Em 2024, o Campeonato Capixaba consolidou o protagonismo das mulheres no esporte estadual ao contar com oito equipes, organizadas em dois grupos que disputaram o título e uma vaga na Série A-3 do Brasileirão.
O Prosperidade, de Vargem Alta, surpreendeu ao desbancar o Vila Nova, até então dominante, e ficou com o título. Este triunfo marca uma nova fase de competitividade e abre caminho para que novas equipes se destaquem, refletindo o potencial do Espírito Santo no cenário nacional.
A Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo (FES) ampliou o apoio ao futebol feminino, transmitindo jogos da seleção brasileira e promovendo pela primeira vez uma competição sub-17. Esse campeonato de base é um avanço importante para a modalidade no Estado, mas ainda é visto como uma ação inicial em um contexto que exige maior investimento e visibilidade para as atletas locais.
Com a medalha de prata conquistada nas Olimpíadas de Paris 2024, a seleção brasileira feminina, comandada por Arthur Elias, volta ao país para uma série de amistosos preparatórios. Dois destes serão realizados no Espírito Santo, nos dias 26 e 29 de outubro, contra a seleção colombiana. A presença das estrelas brasileiras é um marco para o esporte local, além de uma inspiração para as jogadoras capixabas, que agora têm a oportunidade de ver de perto suas referências em ação.
A meio-campista Duda Sampaio, de apenas 23 anos, é um dos grandes destaques da equipe nacional. Medalhista de prata em Paris, campeã da Libertadores e do Campeonato Brasileiro pelo Corinthians, Duda se consolidou como uma das atletas mais promissoras do futebol brasileiro.
Em entrevista à equipe de A Gazeta, Duda destacou o fortalecimento do futebol feminino no Brasil, especialmente em São Paulo, onde o investimento e a visibilidade são mais expressivos. Ela enfatizou a importância de persistir nos sonhos e acredita que com trabalho árduo é possível construir uma carreira vitoriosa.
Arthur Elias, técnico da seleção brasileira, tem se mostrado um defensor do desenvolvimento das categorias de base e da necessidade de estruturar o futebol feminino em todas as regiões do país. Para ele, a base é essencial para formar jogadoras capazes de entender o jogo de maneira coletiva e estratégica, fatores essenciais para competir em alto nível.
Ele frisou a importância de uma estrutura robusta para a formação das jovens atletas, abrangendo não só o aspecto técnico, mas também o social: “Esperamos que todas elas tenham essa oportunidade daqui para frente, com um processo de categoria de base, estrutura, formação, tanto no aspecto atlético quanto no aspecto pessoal, que é tão importante.”
A lateral-esquerda Tamires, medalhista de prata e campeã pelo Corinthians, também destacou as dificuldades enfrentadas por atletas de regiões menos favorecidas, onde a falta de uma formação adequada prejudica a continuidade na modalidade. Para Tamires, o apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a criação de campeonatos de base são essenciais para que as meninas não abandonem o esporte antes de desenvolverem todo o seu potencial.
Tuanny Salvador, meio-campista de 35 anos e uma das principais figuras do futebol feminino no Estado, atua pelo Vila Nova e viveu o crescimento do esporte no Espírito Santo ao longo da carreira. Para ela, a modalidade local ainda enfrenta dificuldades, especialmente no que se refere ao patrocínio e ao reconhecimento das jogadoras. Ela, ressalta que, mesmo com o crescimento, ainda há um longo caminho pela frente.
Já Larissa Scaramussa, jogadora do Prosperidade, campeão capixaba de 2024, acredita que a presença da seleção brasileira pode impactar positivamente o esporte no Espírito Santo. Para ela, a visita serve de inspiração e pode atrair patrocinadores e apoiadores para investir na modalidade local.
Apesar do avanço representado pelo Campeonato Capixaba Sub-17, a modalidade ainda carece de uma estrutura profissional robusta. Dados da CBF revelam que o Brasil conta com cerca de 7,3 mil jogadoras amadoras e 801 atuando em equipes profissionais. No entanto, o número de jogadoras de base no Espírito Santo é limitado, o que dificulta a formação de novas atletas para o futebol profissional.
O diagnóstico do futebol feminino no Brasil, realizado pelo Ministério do Esporte em 2023, aponta que 84% das atletas em categorias de base estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste, o que limita as oportunidades para jovens jogadoras de outras regiões. A realidade no Espírito Santo ainda reflete essa falta de apoio estrutural, onde a competição e o reconhecimento permanecem aquém do desejado.
A escolha do Brasil como país-sede da Copa do Mundo Feminina de 2027 e a medalha de prata da seleção em Paris são fatores que impulsionam o otimismo no futebol feminino brasileiro. Esses acontecimentos incentivam o investimento e a valorização das atletas, além de abrirem portas para que o futebol feminino no Espírito Santo continue a evoluir. No entanto, o apoio dos clubes e empresas locais ainda é um fator crucial para que o esporte se torne autossustentável.
Em meio a desafios e conquistas, o futebol feminino capixaba persiste, guiado pelo talento e pela determinação das atletas locais. O crescimento do esporte, ainda que lento, aponta para um futuro onde a modalidade possa ser tão valorizada quanto o futebol masculino. A presença da seleção brasileira no estado é um símbolo de esperança para que o futebol feminino seja, cada vez mais, um caminho de oportunidades para as meninas do Espírito Santo, que sonham com a chance de brilhar dentro e fora dos campos.
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