“Focamos muito no racional e permanecemos presos à tecnologia. Então, por vezes esquecemos que também temos necessidades e precisamos manter o contato com a natureza”, destaca o arquiteto paisagista Benedito Abbud, que fez uma palestra sobre gentileza urbana no Talk Imóveis 2022, transmitido em A Gazeta na última quinta-feira (25).
Ex-presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap), o profissional recentemente representou o país em um dos maiores eventos imobiliários internacionais, o MIPIM, realizado em Cannes, na França, e que apresenta as últimas tendências de qualidade de vida no mundo.
Benedito Abbud conta que uma das grandes tendências discutidas foi o movimento de levar a natureza para dentro dos grandes centros. Com o tema de “A Cidade Verde”, o evento deu destaque ao design biofílico que se fortaleceu ainda mais no período de isolamento social.
Isso porque com as pessoas passando mais tempo dentro de casa, a necessidade de estar em contato com o verde aumentou. Foi assim que a decoração que prioriza esses elementos naturais ganhou ainda mais espaço no mercado, já que ela ajuda a equilibrar os ambientes e, principalmente, consegue manter uma relação de conforto e aconchego.
“Essa é a preocupação que tenho colocado em quase todos os meus trabalhos. Não apenas a vegetação, mas também plantas aromáticas e frutíferas que possam atrair a fauna para esses espaços”, pontua Abbud.
Em entrevista, o arquiteto explicou um pouco mais sobre esse movimento atual no mercado e como isso tem se propagado mundialmente.
A Gazeta: Quais são as atuais tendências do urbanismo?
Benedito Abbud: Existe uma tendência internacional, mesmo nos países que nevam, em levar a natureza para dentro das cidades porque estamos quase sempre muito ligados aos automóveis, no chamado urbanismo rodoviarista. Então, estamos discutindo esse movimento de cidade verde, desde um pouquinho antes da pandemia.
AG: Quando falamos em cidade verde quais são os principais aspectos atuais?
Benedito Abbud: O primeiro ponto é a sustentabilidade ambiental e o segundo é a sustentabilidade social e pessoal. Hoje se entende que é muito importante falar da sustentabilidade pessoal porque se você não existe bem consigo mesmo, não tem como estar bem com o meio ambiente ou com a sociedade.
AG: Isso ajuda na melhora da qualidade de vida?
Benedito Abbud: Claro. Nos últimos 150 anos, mais ou menos, as cidades foram se agigantando e muitas pessoas foram perdendo esse contato com a natureza. Esse modelo de urbanismo é uma forma de minimizar toda essa pressão e melhorar o relacionamento com outras pessoas e consigo mesmo. Não estamos falando de um modismo, mas uma tendência nacional.
AG: Como podemos enxergar essa tendência na prática?
Benedito Abbud: Ela foi baseada no conceito de healing garden, ou jardim da cura. Começaram a testar em hospitais entre pacientes que ficavam mais tempo dentro dos quartos e outros que saíam para tomar ar fresco. Esse segundo grupo apresentou uma melhora muito maior. A biofilia pega esse conceito e leva para as cidades.
DESIGN BIOFÍLICO NO ESPÍRITO SANTO
Além dos projetos em São Paulo, Benedito Abbud também foi um dos responsáveis pelo Taj Home Resort, da Grand Construtora, em Vila Velha. O empreendimento explora o design biofílico em quase todo o projeto explorando diversos tipos de espécies verdes.
Um dos destaques é que à noite, a vegetação quando iluminada se apresenta de forma invertida na paisagem criando um efeito quase que mágico.
“Tendências são muito mais duradouras do que a moda. As cidades ainda são muito caóticas e barulhentas. Acredito até que o design biofílico não vai sair de moda amanhã, porque quanto mais o homem destrói a natureza, mais ela é valorizada”, finaliza Benedito Abbud.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.