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A relação da areia de Camburi com microplásticos achados em moluscos

A relação da areia de Camburi com microplásticos achados em moluscos

Pesquisa da Ufes também avaliou situação das areias da Curva da Jurema. Microplástico oferece riscos para a saúde

Publicado em 15 de junho de 2024 às 18:13

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Praia de Camburi durante a coleta de amostras para a pesquisa
Faixa de areia na Praia de Camburi durante coleta de amostras para a pesquisa. (Midiã Silva de Paula/Arquivo pessoal)
Felipe Sena
Repórter / [email protected]

Comer frutos do mar é uma paixão gastronômica capixaba. Quem consome a iguaria, porém, pode estar ingerindo plástico. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) aponta que o engordamento da faixa de areia das praias de Camburi e da Curva da Jurema, em Vitória, pode ter feito a quantidade de partículas de microplástico detectada em moluscos usados na culinária aumentar 171,41%.

A pesquisa é da cientista Midiã Silva de Paula e está vinculada ao programa de pós-graduação em Biologia Animal da Ufes. De acordo com o estudo, foram coletadas amostras de moluscos semanas antes da obra de engordamento da faixa de areia nas praias da Capital, em 2020. Passado o período de isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, a equipe viu a oportunidade de replicar o estudo para fazer uma comparação da quantidade de microplástico antes e depois da obra.

Foram analisadas quatro espécies de moluscos usados na culinária capixaba e amostras de areia. "Já se espera que, com o passar do tempo, haja um aumento da presença dessas micropartículas devido ao processo de urbanização e da quantidade de lixo que vai para o oceano. Mas essa foi uma quantidade muito maior do que a gente esperava. Para nós, é um forte indício de que o processo de engordamento da faixa de areia pode ter influenciado nesse aumento", explica a pesquisadora. 

Segundo Midiã, isso pode ter acontecido porque as jazidas no meio do mar de onde é retirada a areia para o engordamento são locais onde há o acúmulo de poluição em geral no oceano, incluindo partículas de plástico. "Essa movimentação da areia pode, sim, ter contribuído muito para o aumento dessa quantidade de microplástico na região", disse Midiã. 

O que é microplástico?

Os microplásticos são partículas de materiais plásticos com tamanho inferior a cinco milímetros. Em alguns casos, esse material já é fabricado em tamanho microscópico, como na indústria de cosméticos, perfumaria e em alguns medicamentos. Mas também tem origem na degradação e quebra de materiais maiores, como garrafas pets e canos de PVC, entre outros objetos presentes na poluição. 

Amostras de microplástico coletadas durante a pesquisa
Amostras de microplástico coletadas durante a pesquisa. (Midiã Silva de Paula/Arquivo pessoal)

O que o microplástico causa ao corpo humano?

Midiã explica que os estudos a respeito do microplástico ainda são recentes. Segundo ela, os primeiros trabalhos são da década de 1970 e, por isso, ainda não é possível analisar os efeitos da presença desses compostos no corpo humano a longo prazo. Entretanto, ela ressalta que já existem pesquisas que acendem um alerta.

Aspas de citação

Há a preocupação, pois os microplásticos estão sendo encontrados em lugares do corpo humano em que não deveriam estar, como corrente sanguínea e placenta

Midiã Silva de Paula
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal (PPGBAN - UFES).
Aspas de citação

"Outros estudos descobriram que os microplásticos podem se prender às membranas externas dos glóbulos vermelhos e limitar sua capacidade de transportar oxigênio. Ainda é um tema inconclusivo, mas devemos nos preocupar por se tratar de um objeto estranho circulando e se alojando em nosso corpo”, explica. 

Ameaça à vida marinha

Se os efeitos no corpo humano ainda estão sob discussão, a ameaça à vida marinha já conta com estudos mais robustos. Essa, inclusive, é uma das motivações do estudo da Ufes sobre microplástico. A pesquisadora conta que foi analisado que as partículas afetaram a taxa reprodutiva de algumas espécies de moluscos, além de reduzirem o tempo de vida desses animais.

Midiã explica que os moluscos são usados nessas análises por terem um período de vida curto, o que facilita o monitoramento do ciclo em laboratório. Mas vários animais podem ter contato com microplástico.

O que diz a Prefeitura de Vitória?

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam) da Prefeitura de Vitória, por nota, informa que há processos de engordamento de faixa de areia para praias da Capital em fase de licitação e que o trabalho será feito seguindo critérios técnicos e normas em vigor, com a utilização de jazidas licenciadas e registradas na Agência Nacional de Mineração, com licenciamento prévio ambiental, desde a fase de licitação.

Além disso, a prefeitura ressalta que vem realizado a recuperação e o plantio de vegetação de restinga em toda a extensão da orla de Camburi (já concluído com a regeneração de 140 mil metros quadrados de restinga ao longo da praia com o plantio de 15.572 mudas nativas) e da Curva da Jurema (em andamento a recuperação de 24 mil metros quadrados de área) para mitigar desgastes e degradações dos locais e melhorar a qualidade ambiental da cidade. Veja, abaixo, o texto enviado pela Semman. 

Nota enviada pela Secretaria de Meio Ambiente de Vitória

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam) informa que está em curso processo de licitação para obras de recuperação da faixa de areia das praias do Canto, Guarderia e Curva da Jurema, situadas entre o Iate Clube e o Hotel Ilha do Boi. A recuperação das praias, bem como todas a obras do município, será feita seguindo critérios técnicos e normas em vigor, com a utilização de jazidas licenciadas e registradas na Agência Nacional de Mineração, com licenciamento prévio ambiental, desde a fase de licitação. 

Observa que realiza o monitoramento ambiental de toda a orla do município de Vitória, atividade por meio da qual constatou-se que toda a área da Praia de Santa Helena está sofrendo efeitos erosivos na faixa de areia, através de recuo da face praial, alcançando áreas de paisagismos e equipamentos públicos. 

Informa ainda que as condicionantes ambientais exigidas foram elaboradas visando à mitigação de eventuais impactos, bem como conhecimento de possíveis interferências no ambiente marinho, que possam necessitar de ações mais diretas para correção e controle, ou mesmo, recuperação.

A contratação da obra de engordamento da praia inclui sete condicionantes, entre elas: Declaração de Impacto Ambiental; Plano de Controle Ambiental; Manifestação/anuência do Comdema para a implantação do projeto, conforme determinado no § 3º do Art. 17, da Lei Municipal nº. 9.271/2018; Estudo contendo dados de modelagem numérica, evidenciando os cenários meteoceanográficos, antes e depois da obra de engorda, informando se a alteração geomorfológica influenciará na dinâmica de circulação; Relatório técnico, com resultados de monitoramento da pré-obra, junto aos laudos das análises físico-químicas das amostras de água, sedimento e análise laboratorial para o estudo, tanto de caracterização prévia como no monitoramento ambiental.

Em paralelo, vem realizando a recuperação e o plantio de vegetação de restinga em toda a extensão da orla de Camburi (já concluído com a regeneração de 140 mil metros quadrados de restinga ao longo da praia com o plantio de 15.572 mudas nativas) e da Curva da Jurema (em andamento a recuperação de 24 mil metros quadrados de área) para mitigar desgastes e degradações dos locais e melhorar a qualidade ambiental da cidade. Ao todo, a Capital tem cerca de 400 mil metros quadrados (40 hectares) de área de restinga.

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