O incêndio que atingiu o Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari, entre os meses de setembro e outubro de 2022 exigiu atenção e esforço de brigadistas, bombeiros e servidores por 34 dias. Neste primeiro episódio da websérie Regenerar, a reportagem de A Gazeta traz imagens exclusivas feitas à época e detalhes do combate ao fogo. Foram dias de intenso trabalho, enquanto o céu, normalmente azul, era tomado pela fumaça acinzentada.
No dia 22 de setembro, o Corpo de Bombeiros foi acionado para atendimento de mais uma ocorrência de incêndio. O que poderia parecer um caso comum se tornou uma luta que perdurou mais de um mês. Ao iniciar o combate, os integrantes da linha de frente perceberam o tamanho da dificuldade. As condições climáticas daqueles dias interferiram diretamente no incêndio, considerado o segundo maior já registrado na história do local.
À época, a área estava seca, sem o tradicional alagado. A falta de chuva no período permitiu que a vegetação chamada de brejo-herbáceo servisse como um pavio, conforme explicou o então gestor do parque, Flávio Guerra. Aquele dia marcou, então, o início de uma missão sem data ou hora para acabar. Além do período sem chuva, o vento na direção nordeste deu ainda mais velocidade às chamas.
Flávio Guerra
Gestor do parque na época do incêndio
"Assim que a gente avistou o incêndio, considerando o histórico do local, já deu para ter uma noção que não era um incêndio de pequenas proporções, que ele já tinha saído do controle. O fogo chegou a ter uma velocidade de um quilômetro por hora, o que é muito forte"
Em pouco tempo, o verde já não era mais predominante. A vegetação no entorno da Trilha do Tropical, principal ligação entre a Rodovia do Sol e a praia, foi tomada pelo cinza.
A trilha, aliás, foi o local onde o incêndio começou. Após meses de investigação, o Corpo de Bombeiros confirmou que o fogo foi causado por ação humana, mas não há detalhes sobre o autor. Ninguém foi preso e não é possível afirmar que o indivíduo colocou fogo com intenção de queimar o parque, segundo a corporação.
555 hectares
foram queimados durante o incêndio no Parque Paulo César Vinha
Na maior parte do tempo, o combate acontecia sem que houvesse fogo aparente. As chamas atingiam a parte inferior do solo. Árvores não eram queimadas do tronco para baixo. A raiz era a primeira parte atingida, causando queda da árvore inteira, como se tivessem sido arrancadas por um furacão.
Para evitar que o fogo continuasse, a técnica de combate ao incêndio não era um procedimento comum: no lugar de mangueiras jorrando água na direção da vegetação, brigadistas do Iema, com auxílio do Programa Estadual de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Prevines), utilizavam jatos de grande espessura. A diferença principal estava em uma escavação feita em partes do solo, com o intuito de encharcar o local. Apenas o alagamento da raiz poderia permitir que o fogo desaparecesse, segundo os especialistas.
Marcelo Nascimento
Coodenador do Prevines
"O fogo está na superfície, queimando a vegetação, mas dá para ver que está queimado na raiz, bem por baixo. É preciso encharcar, acomodar como se fosse chuva, para apagar o fogo"
Todo o trabalho de combate ao fogo acontecia após um monitoramento feito com auxílio de drone. Em voos feitos pela manhã, a tecnologia indicava onde estava a fumaça. Havia uma atenção especial ao rescaldo. A ideia era eliminar pontos de calor remanescentes, evitando que o fogo reacendesse.
Trabalho de combate a incêndio no Parque Paulo César Vinha, em Guarapari, durou 34 dias
Em 34 dias, o incêndio destruiu 555 hectares, o equivalente a 37% dos 1.500 hectares totais de área do parque, segundo levantamento do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). Foram encontrados alguns répteis mortos e um ouriço foi resgatado com as patas queimadas. O bicho passou por tratamento e foi reintegrado à natureza. A destruição atingiu, em maior parte, a área de alagado. Mas a restinga, com árvores mais altas, também foi duramente afetada. No dia 26 de outubro, o fogo foi classificado como extinto. Agora, nove meses após a destruição, a natureza mostra a sua força, com vida nova brotando.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.