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'Cidade-esponja' pode ser utilizada no ES? Conheça sistema que evita enchentes

'Cidade-esponja' pode ser utilizada no ES? Conheça sistema que evita enchentes

Modelo é capaz de absorver grande volume de água sem depender de processos de escoamento tradicionais, como os bueiros; veja se modelo funcionaria em solo capixaba

Publicado em 16 de novembro de 2024 às 17:02

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Parque dos Manguezais, em Sanya, na China, é um exemplo de ferramenta de cidades-esponja
Parque dos Manguezais, em Sanya, na China, é um exemplo de ferramenta de cidades-esponja. (Divugação / Turenscape)
João Barbosa
Repórter / [email protected]

Não é preciso ir a fundo na memória para lembrar de enchentes no Espírito Santo que deixaram rastros de destruição e mortes, como as chuvas de 2013, que atingiram 55 de 78 municípios, e as de março de 2024, no Sul do Estado. Além de alagamentos constantes durante chuvas mais fortes em variadas cidades capixabas, as ocorrências mostram a dificuldade de conter a força da água durante eventos climáticos extremos.

Em busca de funcionalidades que colaborem com a mudança desse cenário, A Gazeta conversou com especialista em arborização urbana e restauração de ecossistemas, que apontou o modelo de cidade-esponja para o Estado. Mas, afinal, é um modelo prático? Funcionaria em solo capixaba? Como?

O conceito de cidades-esponja está voltado para ferramentas capazes de absorver um grande volume de água, sem a necessidade da dependência total dos processos de escoamento tradicionais, como as bocas de lobo e os encanamentos subterrâneos.

O modal surgiu na China, criado pelo arquiteto Kongjian Yu, responsável por aplicar o sistema em mais de 70 cidades ao redor do mundo, provando que o modelo de cidade-esponja pode ser aplicado em qualquer lugar.

“Esse sistema é capaz de preparar cidades para eventos extremos, com capacidade de absorver, limpar e filtrar a água, usando soluções baseadas na própria natureza. Quando apontamos os objetivos das cidades-esponja, contamos com métodos que tornam qualquer cidade em um espaço sustentável, com áreas verdes, úmidas e alagáveis”, explica a engenheira florestal Cristiane Coelho, afirmando que o modelo pode e deve ser aplicado no Espírito Santo.

No Estado, segundo a engenheira, muitas cidades foram construídas no entorno de rios sem o devido planejamento, o que aumenta a probabilidade de alagamentos. Prova disso é que, como mostrou reportagem de A Gazeta, o Estado tem mais de 260 pontos de risco de inundação.

Para aplicação do sistema, alguns pontos são essenciais: fiscalização e restauração das Áreas de Preservação Permanentes (APPs), principalmente nas zonas rurais que circundam os municípios; diminuição da velocidade das águas nos rios e córregos próximos e dentro das cidades; adaptações das cidades para conseguirem deter e filtrar as águas das chuvas e uma gestão pública voltada às aplicações das soluções baseadas na natureza.

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Quando olhamos para Vitória, Vila Velha e Serra, por exemplo, que são cidades mais densas, podemos trabalhar com espaços subutilizados, como estacionamentos vazios e terrenos baldios, para que sejam transformados em áreas de absorção das chuvas, com nova vegetação e canteiros destinados à infiltração da água

Cristiane Coelho
Engenheira Florestal e professora do Departamento de Ciências Florestais da Ufes
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Como isso pode ser feito?

Ferramentas para minimizar o impacto das chuvas em grandes cidades
Ferramentas para minimizar o impacto das chuvas em grandes cidades. (Vectezy / Montagem: João Barbosa e Lara Rossoni)

“A aplicação de cidades-esponja é uma questão de gestão pública. Estados e cidades podem pensar nisso a partir de agora para resultados a longo prazo para que a gente repense como estamos construindo nossos espaços com estudos em áreas que têm histórico de enchentes”, pontua Cristiane, que também é professora do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Além dos ganhos na qualidade ambiental, o modelo traz vantagens na saúde pública e na economia. “As cidades-esponja englobam uma estratégia que se apoia até mesmo na valorização das cidades. Além disso, temos atenuação climática e diminuição da poluição do ar, elementos que colaboram com a melhoria da saúde humana, reduzindo a ansiedade e melhorando a qualidade de vida, por exemplo”, pondera Cristiane.

“Em relação aos custos, não dá para mensurar, já que cada cidade tem suas peculiaridades. Ainda assim, a aplicação é muito mais barata. O cimento é muito mais caro que as gramíneas, por exemplo. Desvantagens só serão vistas se essa implementação for realizada sem planejamento ou sem estudos ordenados”, complementa.

Cristiane Coelho, professora do Departamento de Ciências Florestais da Ufes
Cristiane Coelho, professora do Departamento de Ciências Florestais da Ufes. (Acervo Pessoal)

Exemplos no Brasil

Paraná e Minas Gerais já contam com exemplos de espaços que se baseiam em ferramentas utilizadas nas cidades-esponja. No Estado do Sul do Brasil, parques armazenam águas fluviais, absorvendo enchentes e protegendo áreas residenciais desde a década de 1970, como o Parque Barigui, em Curitiba, que ocupa uma área de 140 hectares, sendo o maior exemplo da cidade no uso do modal.

Já em terras mineiras, o Parque Antônio Molinari, em Poços de Caldas, foi construído em um nível abaixo da cidade, com áreas arborizadas e também com espaços capazes de absorver as águas da chuva. Em épocas de seca, o local conta com campos de futebol, quadras e outros espaços de convivência.

Parque Antônio Molinari, em Poços de Caldas, Minas Gerais
Parque Antônio Molinari, em Poços de Caldas, Minas Gerais. (Divulgação / Prefeitura de Poços de Caldas)

Para o arquiteto Kongjian Yu, “a sabedoria ancestral de conviver com a água é a maior inspiração para o conceito de cidade-esponja”, como disse ao portal g1. Segundo ele, a sociedade destrói cidades modernas com o uso de técnicas industriais dependentes de concreto, canos e bombas.

Segundo o criador do projeto, o modelo de cidade-esponja ajuda não só a enfrentar a força das águas no período das chuvas, mas também a mantê-las fluindo pelas torneiras durante os períodos mais secos do ano.

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