Laurinho Salles, dentro do mangue, se sente em casa. Crédito: Fernando Madeira
Guardião do mangue entra na lama para salvar berço dos animais no ES
O trabalho voluntário realizado por Laurinho Salles, na região de Goiabeiras, em Vitória, envolve retirada de lixo do manguezal, visitas técnicas e ações de conscientização
Laurinho Salles é cria do mangue. Nascido e criado às margens desse ecossistema, o morador de Goiabeiras, em Vitória, não mede esforços para retirar lixo do local ou libertar um caranguejo preso na rede de pesca. Sentado na ponta de um pequeno barco, vestido com o colete do projeto SOS Manguezal e com as mãos sujas de lama, o guardião do mangue se sente à vontade, como se estivesse no seu habitat, e tem a certeza de estar fazendo a coisa certa.
Laurinho Salles
Voluntário do SOS Manguezal
"São poucos praticando a limpeza, mas muitos descartando lixo. A rotina de limpeza dá trabalho, mas é prazerosa. A gente se sente feliz no final do dia quando tiramos lixo do manguezal. É muito pouco, mas estamos fazendo nossa parte. E o que você está fazendo para melhorar essa situação? Queremos espalhar essa ideia"
Desde 2017, Laurinho é um dos coordenadores do SOS Manguezal, organização criada há cinco anos, em Vitória. Antes disso, ele já atuava na região de Goiabeiras, tentando espalhar mensagens de cuidado e preservação do meio ambiente.
Laurinho Salles: voluntário do SOS Manguezal e um dos principais nomes na preservação do ecossistema no Espírito Santo
Ao lado de outros voluntários, ele organiza atividades de limpeza nos mangues, visitas técnicas e ações de conscientização. Com mobilização, eles recolhem do manguezal sacolas, pneus, garrafas de vidro e até geladeiras e fogões. Também libertam animais que ficam presos em pedaços de redes.
Laurinho Salles
Voluntário do SOS Manguezal
"A rede devasta qualquer natureza. O pescador deixa um pedaço de rede nos galhos, o caranguejo fica agarrado ali. Assim, o animal tem seu habitat natural interrompido e a vida no mangue fica ameaçada"
Caranguejo preso em rede de pesca é libertado por voluntário. Crédito: Fernando Madeira
Ele ainda chama a atenção para a presença de esgoto no mangue. "Há muito esgoto clandestino. As autoridades precisam fazer alguma coisa. A qualidade da água não está legal", afirma.
A falta de saneamento básico, aliás, é o mais grave dos problemas que afetam o ecossistema, na avaliação da professora da pós-graduação em Oceanografia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Mônica Maria Tognella.
Mônica Maria Tognella
Professora da pós-graduação em Oceanografia Ambiental da Ufes
"Com o abandono do meio ambiente, notamos que o manguezal vai sendo sufocado, o que pode gerar efeito em cascata para todo o meio ambiente"
A professora explica a importância desse ecossistema para a natureza e como a degradação afeta a todos, até quem mora longe do mangue, podendo provocar desde enchentes frequentes até aumentar o preço dos mariscos.
Importante para o equilíbrio do meio ambiente, o bioma é considerado berço da vida marinha e ainda é fonte de renda para muitas famílias. De Norte a Sul, o Espírito Santo é margeado por mangue e, na Grande Vitória, está situado o maior manguezal de área urbana do Brasil.
O manguezal está em 15 municípios do Espírito Santo. São eles:
Conceição da Barra
São Mateus
Linhares
Aracruz
Fundão
Serra
Cariacica
Vitória
Vila Velha
Guarapari
Anchieta
Piúma
Itapemirim
Marataízes
Presidente Kennedy
Mangue na região de Maria Ortiz, em Vitória. Crédito: Fernando Madeira
De acordo com Mônica, a falta de políticas públicas contribui para a degradação do manguezal. A solução, segundo a especialista, é ter regras bem definidas para moradia na área, melhoria do saneamento básico e descarte de lixo feito de forma correta.