Pescadores da Ilha das Caieiras e Cariacica denunciam mortes de peixes no Rio Santa Maria
Pescadores da Ilha das Caieiras e Cariacica denunciam mortes de peixes no Rio Santa Maria. Crédito: Fernando Madeira

"Muito peixe morto"; pescadores denunciam possível poluição no Rio Santa Maria

Em uma semana, pescadores de Vitória e Cariacica contabilizaram mais de uma tonelada de peixes mortos às margens do rio

Tempo de leitura: 5min
Vitória
Publicado em 26/08/2024 às 19h31

Pescadores da região da Ilha das Caieiras, em Vitória, denunciam a poluição do Rio Santa Maria, que corta a Capital e faz margem com Cariacica. Segundo os profissionais de pesca, desde a última semana, mais de uma tonelada de peixes mortos foi encontrada.

Além de espécies como tainha, tilápia e bagre, cobras e até capivaras foram encontradas sem vida às margens do rio. Nesta segunda-feira (26), os pescadores e moradores que dependem dos recursos contaram à reportagem de A Gazeta sobre os impactos no meio ambiente e também no bolso, já que muitos têm a pesca como única fonte de renda.

A principal suspeita dos pescadores é que uma empresa situada em Cariacica estaria despejando um mineral tóxico no leito do rio. A denúncia do possível crime ambiental, que cita a queda nos rendimentos da pesca, coincide com o início da operação de um pátio que reúne diversas empresas de logística e transportes.

“Desde terça-feira (20) que estamos vendo a grande quantidade de peixes mortos. No sábado (24), reunimos um grupo de pescadores e subimos até a boca do rio [em Cariacica], onde vimos peixes mortos para todos os lados. A gente desconfia que essa empresa à margem do rio está contaminando a água há um tempo”, contou o pescador Wellington Leonel.

Pescadores da Ilha das Caieiras e Cariacica denunciam poluição do Rio Santa Maria
Urubu se alimenta de peixe morto às margens do Rio Santa Maria. Crédito: Fernando Madeira

“Aqui [em Vitória] e em Cariacica são várias famílias que dependem do pescado. Esse impacto vai ser difícil para nossa categoria. Sem poder pescar, vamos vender para quem? Como vamos levar sustento para nossas famílias?”, indagou Wellington, afirmando que os moradores e pescadores pretendem promover protestos em busca da resolução do problema.

De acordo com o grupo de pescadores ouvido pela reportagem, desde o início da operação do pátio da empresa, que teria começado há dois anos, foi possível observar a queda na quantidade e qualidade de peixes no rio.

“A maioria dos peixes mortos foi encontrada lá em cima [às margens do pátio da empresa]. E isso já está começando a afetar todo o pessoal aqui da Ilha, demais pescadores, colegas do sururu e do siri. É muito peixe morto”, disse o pescador Anderson Ferreira.

Pescadores da Ilha das Caieiras e Cariacica denunciam poluição do Rio Santa Maria
Urubus disputam espaço para comer o resto de peixes mortos à margem do Rio Santa Maria. Crédito: Fernando Madeira

Qualidade da água é preocupante, diz especialista

Pescadores da Ilha das Caieiras e Cariacica denunciam poluição do Rio Santa Maria
Pescadores afirmam que mais de mil quilos de peixes mortos estão às margens do Rio Santa Maria. Crédito: Fernando Madeira

Anderson Batista, ictiólogo e pesquisador de oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explicou que os peixes do Rio Santa Maria, principalmente as tainhas, são seres resistentes em um ambiente não poluído, logo, a contaminação dos últimos dias pode estar em níveis extremamente elevados.

“Neste primeiro momento, é necessária uma análise fitoquímica dos parâmetros da água para analisar os ciclos biológicos desses organismos, que são considerados resistentes à poluição. A mortandade de peixes está muito alta, o que nos leva a crer que não é um processo natural, mas, sim, um processo artificial que pode ter relação direta ou indireta com a ação do homem”, explicou o profissional.

Segundo Anderson, a suspeita dos pescadores, baseada na desconfiança do despejo de produtos químicos no rio, expõe um crime ambiental grave que também deixa a saúde da população em risco.

Pescadores da Ilha das Caieiras e Cariacica denunciam poluição do Rio Santa Maria
Pescadores coletaram mineral apontado como causador da morte dos peixes no rio. Crédito: Fernando Madeira

“Qualquer perturbação no habitat desses peixes deve ser levada em conta. Só com testes feitos com a qualidade da água e com os peixes mortos que vamos saber exatamente o que está causando essa mortandade”, complementou Anderson.

Anderson Batista

Ictiólogo e pesquisador da Ufes

"É importante que seja suspenso o consumo dos animais oriundos do rio (peixes e mariscos) até que um laudo sobre a qualidade da água seja emitido"

Solange Ribeiro, marisqueira da Ilha das Caieiras, lembra que chegou a consumir tainhas do Rio Santa Maria na última semana e passou mal.

“Eu comi [os peixes] por dois dias e agora estou com dor de barriga e com a ponta da minha língua pinicando. Isso nunca aconteceu. Minha preocupação maior é a gente tirar nosso produto daqui, vendido para várias outras regiões, e acontecer alguma coisa pior com quem consumir”, pontuou a comerciante.

Procurado pela reportagem, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informou que recebeu a denúncia sobre a morte dos peixes na baía de Vitória no domingo (25).

“Imediatamente após o recebimento da denúncia, a equipe de plantão da fiscalização foi ao local para verificar a situação. Durante a vistoria realizada ao longo das margens da baía, a equipe não encontrou evidências recentes do problema relatado, uma vez que os vídeos e imagens recebidos eram datados de quarta-feira (21). Nesta segunda-feira (26), o Iema retornou ao local, utilizando uma embarcação e contando com o apoio da Polícia Militar Ambiental, para investigar as possíveis causas da morte dos peixes”, informou o órgão.

Segundo o Iema, com a segunda visita ao rio, ainda não é possível concluir o que teria causado a morte dos peixes no local. O diretor-geral do órgão, Mário Louzada, explicou à TV Gazeta, que a situação é monitorada e que investigará os motivos para a morte das espécies. 

"A tainha é um bioindicador.  Ela é muito frágil em ambientes poluídos e rapidamente morre. Então, é interessante que existam peixes muito resistentes à poluição e outros mais frágeis. Quando morre tainha, pode ter certeza que está acontecendo alguma coisa anormal. Provavelmente esse contaminante pode estar vindo de alguma tubulação de esgoto ou coisa parecida, ou então um derramamento proposital em alguma região do rio. Ao encontrar esse cardume, matou os peixes, mas, ao chegar na baía, que tem um volume de água maior, ele se diluiu e perdeu o potencial ofensivo", explicou.

Já segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vitória (Semmam), “uma equipe foi ao local e está monitorando e investigando as causas da mortandade de peixes da espécie tainha e que, após vistorias na baía de Vitória, não foi identificado qualquer tipo de efeito poluidor/vazamento proveniente da cidade de Vitória que possa ter ocasionado este problema ambiental que afeta a cidade”.

A Prefeitura de Cariacica, por sua vez, informou, através da Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Meio Ambiente, que também enviou equipe técnica ao local para uma “vistoria mais detalhada da situação” e que, a partir daí, serão tomadas as medidas cabíveis necessárias.

A reportagem também procurou pela empresa apontada pelos pescadores, situada às margens da BR-101. Entretanto, a organização não atendeu às ligações nos telefones informados na internet. O espaço segue aberto para manifestação. 

Correção

27 de agosto de 2024 às 09:28

A versão inicial desta matéria informava o nome de uma empresa apontada pelos pescadores como suspeita pelo despejo de produtos tóxicos no rio. Entretanto, como não há uma confirmação oficial de autoridades sobre a responsabilidade dessa empresa até o momento, e a mesma não atendeu os telefonemas da reportagem para se manifestar se faz o uso do material apontado como poluente, seu nome foi retirado.

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