Depois de denunciarem suspeita de contaminação da água do Rio Santa Maria, pescadores de Vitória e Cariacica decidiram suspender a pesca no local por tempo indeterminado. Na segunda-feira (26), a reportagem de A Gazeta esteve em dois pontos do rio e constatou, junto dos pescadores, a alta quantidade de peixes mortos.
Entre os profissionais de pesca, a desconfiança é de que um mineral poluente despejado por uma empresa de maneira irregular na água teria causado a morte de tainhas, tilápias, bagres e até de outros animais que vivem às margens do rio, como capivaras e cobras. No período de uma semana, segundo os pescadores, mais de uma tonelada de peixes mortos foi encontrada na extensão do rio.
Nesta terça-feira (27), outro grupo de pescadores voltou a navegar no Santa Maria, onde disseram ter constatado mais animais mortos. Em vídeos enviados para a reportagem, os profissionais cobraram o posicionamento de órgãos públicos ambientais em busca de solução para o problema.
“A pesca no rio está suspensa por tempo indeterminado. Estamos mostrando que os peixes seguem aparecendo mortos e ninguém mais pesca aqui. O que queremos é uma solução para saber o que tem nessa água. Sou pescador desde os 5 anos e, hoje, estou com 49. Nunca vi uma coisa assim”, disse o pescador Waldemar Andrade, em conversa com A Gazeta.
Diante da paralisação forçada do trabalho, os pescadores afirmam que estão preocupados com os impactos ambientais e financeiros, já que a maioria tem a pesca como única fonte de renda.
A reportagem questionou o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) se existe alguma orientação para a suspensão da atividade de pesca no rio. O órgão, porém, afirma que “tudo está dentro da normalidade”. Em nota enviada para A Gazeta nesta terça (27), o Iema informa que realizou vistorias na Baía de Vitória, fazendo o uso de barcos e drones no domingo (25), na segunda-feira (26) e nesta terça (27).
“Em nenhuma das ocasiões foram encontrados peixes mortos. Também foi feita a análise da água com sonda para medir o oxigênio dissolvido, e está tudo dentro da normalidade. O Iema segue fazendo averiguações do que poderia ter causado a morte dos peixes, atuando junto às prefeituras para verificar se houve alguma contaminação pontual da água por alguma das empresas licenciadas na região”, disse o Iema.
A Prefeitura de Cariacica informou que o caso está sendo investigado e que segue monitorando o entorno do rio.
A Prefeitura de Vitória, de onde sai a maioria dos pescadores, informou que está monitorando a baía e a situação denunciada, analisando as possíveis causas da mortandade dos peixes. Segundo a PMV, a vistoria será feita de forma contínua.
“Na vistoria realizada nesta terça-feira (27), a equipe de Fiscalização e de Monitoramento constatou a diminuição no volume de peixes mortos em relação ao encontrado durante a inspeção realizada nesta segunda-feira (26), o que indica um cenário de melhora. Destaca que após vistorias na Baía de Vitória, não foi identificado qualquer tipo de efeito poluidor/vazamento proveniente da cidade de Vitória que possa ter ocasionado este problema ambiental que afeta a cidade”, pontua a prefeitura da Capital, por nota.
Na segunda (26) e na terça-feira (27), a reportagem procurou pela empresa apontada pelos pescadores como possível responsável pela contaminação da água. Entretanto, a organização, situada às margens da BR 101, não atendeu as ligações nos telefones informados na internet. O espaço segue aberto para manifestação.
Os peixes começaram a aparecer mortos ou debilitados na superfície do Rio Santa Maria no último dia 20. Desde essa data, a quantidade de animais mortos aumentou, principalmente às margens de uma empresa situada em Cariacica, apontada por pescadores como suspeita do despejo de um mineral tóxico no leito do rio.
Com o movimento da maré, os animais começaram a ser empurrados para outras extremidades do rio, onde urubus disputam os restos dos peixes mortos.
Segundo o grupo de pescadores ouvido pela reportagem, em Vitória e Cariacica, várias famílias dependem dos recursos do rio.
De acordo com Anderson Batista, ictiólogo e pesquisador de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a qualidade da água é preocupante. Segundo o especialista, a contaminação dos últimos dias pode estar em níveis extremamente elevados e não é recomendado o consumo de nenhum animal oriundo do rio.
“Neste primeiro momento, é necessária uma análise fitoquímica dos parâmetros da água para verificar os ciclos biológicos desses organismos, que são considerados resistentes à poluição. A mortandade de peixes está muito alta, o que nos leva a crer que não é um processo natural, mas, sim, um processo artificial que pode ter relação direta ou indireta com a ação do homem”, explicou o profissional.
Segundo Anderson, a suspeita dos pescadores, baseada na desconfiança do despejo de produtos químicos no rio, expõe um crime ambiental grave que também deixa a saúde da população em risco.
Solange Ribeiro, marisqueira da Ilha das Caieiras, conta que chegou a consumir tainhas do Rio Santa Maria na última semana e passou mal.
“Eu comi [os peixes] por dois dias e agora estou com dor de barriga e com a ponta da minha língua pinicando. Isso nunca aconteceu. Minha preocupação maior é a gente tirar nosso produto daqui, que é vendido para várias outras regiões, e acontecer alguma coisa pior com quem consumir”, pontuou a comerciante.
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