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Por suspeita de contaminação, pescadores suspendem pesca no Rio Santa Maria

Por suspeita de contaminação, pescadores suspendem pesca no Rio Santa Maria

Profissionais de pesca afirmam que mais de uma tonelada de peixes mortos foi encontrada desde o dia 20 no local; com receio de problemas de saúde, atividade foi suspensa

Publicado em 27 de agosto de 2024 às 17:25

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
João Barbosa
Repórter / [email protected]

Depois de denunciarem suspeita de contaminação da água do Rio Santa Maria, pescadores de Vitória e Cariacica decidiram suspender a pesca no local por tempo indeterminado. Na segunda-feira (26), a reportagem de A Gazeta esteve em dois pontos do rio e constatou, junto dos pescadores, a alta quantidade de peixes mortos.

Entre os profissionais de pesca, a desconfiança é de que um mineral poluente despejado por uma empresa de maneira irregular na água teria causado a morte de tainhas, tilápias, bagres e até de outros animais que vivem às margens do rio, como capivaras e cobras. No período de uma semana, segundo os pescadores, mais de uma tonelada de peixes mortos foi encontrada na extensão do rio.

Nesta terça-feira (27), outro grupo de pescadores voltou a navegar no Santa Maria, onde disseram ter constatado mais animais mortos. Em vídeos enviados para a reportagem, os profissionais cobraram o posicionamento de órgãos públicos ambientais em busca de solução para o problema.

“A pesca no rio está suspensa por tempo indeterminado. Estamos mostrando que os peixes seguem aparecendo mortos e ninguém mais pesca aqui. O que queremos é uma solução para saber o que tem nessa água. Sou pescador desde os 5 anos e, hoje, estou com 49. Nunca vi uma coisa assim”, disse o pescador Waldemar Andrade, em conversa com A Gazeta.

Diante da paralisação forçada do trabalho, os pescadores afirmam que estão preocupados com os impactos ambientais e financeiros, já que a maioria tem a pesca como única fonte de renda.

O que diz o Iema?

A reportagem questionou o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) se existe alguma orientação para a suspensão da atividade de pesca no rio. O órgão, porém, afirma que “tudo está dentro da normalidade”. Em nota enviada para A Gazeta nesta terça (27), o Iema informa que realizou vistorias na Baía de Vitória, fazendo o uso de barcos e drones no domingo (25), na segunda-feira (26) e nesta terça (27).

“Em nenhuma das ocasiões foram encontrados peixes mortos. Também foi feita a análise da água com sonda para medir o oxigênio dissolvido, e está tudo dentro da normalidade. O Iema segue fazendo averiguações do que poderia ter causado a morte dos peixes, atuando junto às prefeituras para verificar se houve alguma contaminação pontual da água por alguma das empresas licenciadas na região”, disse o Iema.

Prefeitura de Cariacica informou que o caso está sendo investigado e que segue monitorando o entorno do rio. 

Prefeitura de Vitória, de onde sai a maioria dos pescadores, informou que está monitorando a baía e a situação denunciada, analisando as possíveis causas da mortandade dos peixes. Segundo a PMV, a vistoria será feita de forma contínua.

“Na vistoria realizada nesta terça-feira (27), a equipe de Fiscalização e de Monitoramento constatou a diminuição no volume de peixes mortos em relação ao encontrado durante a inspeção realizada nesta segunda-feira (26), o que indica um cenário de melhora. Destaca que após vistorias na Baía de Vitória, não foi identificado qualquer tipo de efeito poluidor/vazamento proveniente da cidade de Vitória que possa ter ocasionado este problema ambiental que afeta a cidade”, pontua a prefeitura da Capital, por nota.

A empresa

Na segunda (26) e na terça-feira (27), a reportagem procurou pela empresa apontada pelos pescadores como possível responsável pela contaminação da água. Entretanto, a organização, situada às margens da BR 101, não atendeu as ligações nos telefones informados na internet. O espaço segue aberto para manifestação.

Pescadores da Ilha das Caieiras e Cariacica denunciam poluição do Rio Santa Maria
Animais mortos às margens do Rio Santa Maria, no braço de Cariacica. (Fernando Madeira)

O caso

Os peixes começaram a aparecer mortos ou debilitados na superfície do Rio Santa Maria no último dia 20. Desde essa data, a quantidade de animais mortos aumentou, principalmente às margens de uma empresa situada em Cariacica, apontada por pescadores como suspeita do despejo de um mineral tóxico no leito do rio.

Com o movimento da maré, os animais começaram a ser empurrados para outras extremidades do rio, onde urubus disputam os restos dos peixes mortos.

Pescadores da Ilha das Caieiras e Cariacica denunciam poluição do Rio Santa Maria
Pescadores da Ilha das Caieiras e de Cariacica denunciam mortes de peixes causadas pela poluição do Rio Santa Maria. (Fernando Madeira)

Segundo o grupo de pescadores ouvido pela reportagem, em Vitória e Cariacica, várias famílias dependem dos recursos do rio.

Aspas de citação

Sem poder pescar, vamos vender para quem? Como vamos levar sustento para nossas famílias?

Wellington Leonel
Pescador
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De acordo com Anderson Batista, ictiólogo e pesquisador de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a qualidade da água é preocupante. Segundo o especialista, a contaminação dos últimos dias pode estar em níveis extremamente elevados e não é recomendado o consumo de nenhum animal oriundo do rio.

“Neste primeiro momento, é necessária uma análise fitoquímica dos parâmetros da água para verificar os ciclos biológicos desses organismos, que são considerados resistentes à poluição. A mortandade de peixes está muito alta, o que nos leva a crer que não é um processo natural, mas, sim, um processo artificial que pode ter relação direta ou indireta com a ação do homem”, explicou o profissional.

Segundo Anderson, a suspeita dos pescadores, baseada na desconfiança do despejo de produtos químicos no rio, expõe um crime ambiental grave que também deixa a saúde da população em risco.

Solange Ribeiro, marisqueira da Ilha das Caieiras, conta que chegou a consumir tainhas do Rio Santa Maria na última semana e passou mal.

“Eu comi [os peixes] por dois dias e agora estou com dor de barriga e com a ponta da minha língua pinicando. Isso nunca aconteceu. Minha preocupação maior é a gente tirar nosso produto daqui, que é vendido para várias outras regiões, e acontecer alguma coisa pior com quem consumir”, pontuou a comerciante.

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