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Ufes acha materiais tóxicos e minério nas praias ao norte do Rio Doce

Ufes acha materiais tóxicos e minério nas praias ao norte do Rio Doce

Estudo analisa os impactos do rompimento da barragem de Mariana, em 2015, que despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério no Rio Doce

Publicado em 21 de agosto de 2022 às 11:06

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Estudo aponta elementos tóxicos e rejeitos de minério nas praias do Rio Doce
Estudo aponta elementos tóxicos e rejeitos de minério nas praias do Rio Doce. (Ufes | Reprodução)

Um estudo apontou que as praias ao norte do Rio Doce, no Espírito Santo, apresentam uma quantidade anormal e tóxica de elementos químicos, como alumínio, cromo, manganês e níquel, além de um nível de 80% de lama de rejeitos minerais.

A pesquisa foi feita Projeto Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA) com a participação de professores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e analisa os impactos do rompimento da barragem de Mariana, em 2015, que despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério no Rio Doce.

“O resultado que encontramos até agora é uma alta concentração de rejeitos da lama na desembocadura e ao longo da zona submersa das praias ao norte, como Degredo, Pontal do Ipiranga (em Linhares), São Mateus e Guriri”, afirma a professora do Departamento de Oceanografia da Ufes e coordenadora do tema praia, Jacqueline Albino.

Ela explica, ainda, que as correntes marítimas arrastam a lama, o que contribui para a maior concentração de rejeitos nesses locais.

O pesquisador em pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Ambiental da Ufes Luiz Sielski, que também fez parte do estudo, afirma que foi uma surpresa encontrar altos níveis de rejeitos de lama na zona submersa da praia, abaixo do nível médio do mar.

No entanto, ele explica que ainda é um desafio distinguir o que já existia nas praias em função da atividade de mineração na Bacia do Rio Doce e o que é consequência do rejeito que desceu com o desmoronamento da barragem da Samarco, controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton, em Minas Gerais.

“Devido às características climáticas da região, temos um mar muito agitado pela ação de ondas em boa parte do ano, o que não favorece o acúmulo de rejeitos. Material fino se deposita em região calma, como manguezais, lagoas e ambientes com baixa agitação. Encontramos (nas praias próximas à desembocadura do Rio Doce) uma quantidade grande depositada entre 5 e 10 metros de profundidade e com valores de elementos químicos altos. Mas, como não temos valores anteriores ao rompimento, não é uma tarefa fácil ligar isso diretamente ao rompimento da barragem”, afirma.

DANOS PARA A REGIÃO

O acúmulo de rejeitos de lama na zona submersa da praia modificou as características físicas locais, segundo Jacqueline Albino. Já, a lama de rejeitos, que têm grãos menores, impacta também os hábitats de microrganismos que vivem em areias.

“O sedimento mais fino deixou a praia mais aplanada e mais erosiva. A praia perde altura e, junto com o espraiamento da onda, os elementos químicos presentes no rejeito são espalhados para a porção alta da praia e alcançam a restinga [...] Há uma fauna específica, chamada de fauna bentônica da praia. O equilíbrio desses microrganismos está diretamente ligado aos sedimentos do local. Alterando o sedimento, temos uma consequência ecológica para a fauna: podemos ter, por exemplo, um desequilíbrio ecológico entre dois diferentes grupos, a macrofauna e a mesofauna”, afirma a professora.

Os impactos na região são difíceis de ser controlados, de acordo com Sielski, porque a bacia hidrográfica está cheia de lama e, com a chuva, esses rejeitos vão escorrer novamente.

“No verão, época de mais chuva, esses rejeitos são carregados para o mar. Já no inverno, quando temos mais ondas, acontece o processo de ressuspender o que está depositado no fundo do mar para a superfície da praia. Chegamos a ter, nos 10 metros de profundidade, mais de 80% de concentração de lama, uma quantidade muito alta”, explica.

No Espírito Santo, a pesquisa tem representação tabém Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest), que monitora o acordo de cooperação entre a Ufes e a Fundação Renova. O oceanógrafo Lucas de Castro, auxiliar de pesquisa na Fes, explica que, ao longo da porção sul da costa capixaba, como em Praia Mole, na Serra, também foi possível encontrar concentrações altas de metais na praia, mas isso não necessariamente significa uma contaminação pelo rejeito da barragem.

“Podem ser outras fontes, há ainda essa dúvida. Temos muito a investigar nessas praias ao sul, principalmente em Praia Mole e em Putiri (em Aracruz)”, afirma.

O projeto, que completou quatro anos em 2022, tem a possibilidade de continuar por mais dois anos. “Depois de feitos os primeiros diagnósticos, você tem algumas afirmações e tendências não só (das pesquisas) da praia, mas de todos os grupos. Com isso, a ideia agora é fazer com que esses diferentes temas se integrem mais: a praia interagir com o manguezal, com a zona submersa e assim por diante”, afirma Albino.

O QUE DIZ A FUNDAÇÃO RENOVA

A reportagem procurou a Fundação Renova, responsável por gerir os programas de reparação, restauração e reconstrução das regiões impactadas pelo rompimento da barragem de Mariana. Veja a nota na íntegra:

Monitoramento Hídrico: Os mais de 1,5 milhão de dados coletados anualmente pelo maior programa de monitoramento do país mostram que as condições da água são similares às de antes do rompimento. As informações são armazenadas em um banco de dados e compartilhadas com os órgãos ambientais. Os dados estão disponíveis no portal monitoramento Rio Doce, em forma de gráficos e mapas, sendo possível fazer o download das informações em planilhas. Seis órgãos fazem parte do Grupo Técnico de Acompanhamento (GTA): Agência Nacional de Águas (ANA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo (Agerh) e Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (Iema).

Os resultados desse monitoramento demonstram uma tendência de recuperação em toda a região impactada, com a retomada das concentrações dos parâmetros de qualidade da água em níveis históricos.

O Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH–Doce) aponta que 80% do esgoto doméstico gerado pelos municípios ao longo da bacia seguem diretamente para o rio, sem nenhum tratamento, poluindo os cursos d’água. Ao mesmo tempo, grande parte dos resíduos sólidos urbanos coletados são dispostos em lixões, ocasionando vários impactos ambientais, como proliferação de vetores, poluição visual, contaminação do solo e dos recursos hídricos , dentre outros.

Rejeito: O rejeito não é tóxico, nem nocivo. Contém minerais e elementos naturais presentes em rochas e solos da região (rico em ferro, manganês e alumínio), areia (sílica) e água. O material foi caracterizado como não perigoso em todas as amostras, segundo critérios da norma brasileira de classificação de resíduos sólidos.

O rejeito não é impeditivo para a realização de diversas atividades econômicas e produtivas."

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