Nos últimos dez anos, o número de motocicletas, ciclomotores e motonetas no Estado aumentou em 43,2%
Nos últimos dez anos, o número de motocicletas, ciclomotores e motonetas no Estado aumentou em 43,2%. Crédito: Gabriel Mazim

Frota cresce e acidentes de moto chegam a 60 por dia no ES; especialistas apontam soluções

Esse é o número de atendimentos do Samu em acidentes envolvendo motocicletas, que chegou a 21,9 mil em 2024, um aumento de 23,95% em relação a 2023. Já o registro de ocorrências de trânsito com motociclistas subiu 176,6% em 2 anos. Problema pressiona sistema de saúde e reforça o debate sobre insegurança no trânsito

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“Por uma imprudência, acabei limitando minhas escolhas de vida. Ao mesmo tempo, agradeço por ter sobrevivido, diferente de muitos colegas que não tiveram a mesma sorte.” A afirmação é do assistente de planejamento Victor Hugo Neves Luz, 25 anos, que em setembro de 2023 sofreu um acidente de moto na rodovia ES-264, na Região Serrana do Espírito Santo.

“O percurso é cheio de curvas acentuadas, barrancos e trechos de pedras que invadem a pista. Eu estava em uma curva em 'S' e vi um galho na pista. Como estava acima da velocidade recomendada, precisei manter a moto deitada para desviar. Esse movimento me fez perder um pouco do controle… Minha opção foi frear aos poucos, mas acabei batendo de lado em um paredão de pedras que invadia um pouco da pista”, lembra.

Na queda, ele quebrou a patela do joelho, a fíbula e a tíbia no tornozelo, além dos quatro primeiros dedos do pé. “Foi um aprendizado doloroso, que me limitou em muitos planos que eu tinha. Agora, por conta do acidente, não posso mais ingressar em um concurso militar, pelo menos de acordo com os editais. Isso significa que carreiras como Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, que eu almejava, não são mais uma opção para mim”, conta.

O relato de Victor Hugo reflete dados alarmantes (veja o depoimento completo no vídeo abaixo). Com um crescimento significativo na frota de motocicletas, o Espírito Santo registrou um aumento de acidentes e mortes envolvendo motociclistas, principalmente nos últimos dois anos. Esse cenário, que também pressiona o sistema de saúde pública, reforça a necessidade de um debate sobre alternativas para ampliar a segurança no trânsito, e especialistas apontam possíveis soluções.

Para se ter ideia, segundo dados do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), 71% dos atendimentos em acidentes de trânsito no Espírito Santo em 2024 envolveram motos. Ao todo, foram realizados 30.204 atendimentos, sendo 21.911 relacionados a acidentes com motocicletas – cerca de 60 por dia –, o que representa um crescimento de 23,95% em relação a 2023, quando foram 17.677 (48 por dia). 

Muitos desses casos nem chegam a virar um boletim de ocorrência de trânsito. Mesmo assim, o total de registro de ocorrências dos acidentes com motos no Espírito Santo teve um salto de 1.250, em 2022, para 3.458, em 2024, um aumento de 176,6%. Isso dá uma média de 9,5 casos por dia, enquanto em 2022 eram cerca de 3,5. No mesmo período, os acidentes com vítimas fatais relacionados a motocicletas cresceram em 22,35%, passando de 407 para 498 em dois anos. Os dados são do Detran-ES e do Observatório de Segurança Pública da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp).

Os mesmos dados apontam que mais da metade (51,2%) dos acidentes que ocasionaram mortes no Estado envolviam esses veículos. Segundo o Detran-ES, o aumento significativo no número de sinistros foi, em parte, influenciado pela adoção de uma nova tecnologia para a identificação de registros de ocorrências de trânsito. No entanto, a alta no total de vítimas fatais e os números do Samu corroboram o aumento dos acidentes.

Somente nos dois primeiros meses de 2025, já foram registrados alguns casos marcantes no Espírito Santo – tanto na Grande Vitória como no interior. Um deles aconteceu em Domingos Martins, no dia 16 de fevereiro, quando uma batida envolvendo quatro motocicletas resultou em duas mortes na BR-262.

Principais causas de acidentes

Na avaliação do gerente de Fiscalização de Trânsito do Detran-ES, Jederson Lobato, o comportamento tem sido um fator determinante para tantos acidentes, somado ao aumento da frota, tanto de carros quanto de motocicletas.

“Os acidentes com motociclistas são mais da metade, geralmente causados por imprudência, falta de uso de equipamento, como capacete, e tráfego pelo corredor de forma irresponsável”, lista Lobato. Ele ainda chama a atenção para o uso do celular ao dirigir e pilotar e também para o consumo de bebidas alcoólicas.

Já o aumento da frota é comprovado em números. Somente no ano passado, segundo dados do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Espírito Santo (Sincodives) foram emplacadas 42.988 motocicletas – maior registro desde 2011.

Nos últimos dez anos, o número total de motos, ciclomotores e motonetas rodando nas ruas do Estado aumentou em 43,2%, indo de 518.853, em 2015, para 743.014, em 2025, segundo dados do Detran-ES. Para se ter ideia, apenas de 2022 a 2024, a frota de motocicletas cresceu em 13,1% no Espírito Santo, saltando de 650.780 para 736.298.

743.014

MOTOS, CICLOMOTORES E MOTONETAS CIRCULAM NO ES

43,2%

FOI O AUMENTO DA FROTA EM 10 ANOS

Entre os fatores que impulsionaram esse avanço, estão os preços mais baixos e a maior facilidade de adquirir uma moto, comparado a automóveis. Além disso, o período da pandemia, ao mesmo tempo que refletiu no desemprego, trouxe um aumento das entregas de mercadorias e de fast-food, uma vez que as pessoas não podiam sair de casa, o que ampliou o serviço de motoboys.

Mais infrações gravíssimas

A quantidade de infrações de trânsito cometidas por motocicletas, ciclomotores e motonetas também está aumentando desde 2022. Segundo dados do Detran-ES, foram registradas 209.093 infrações de pilotos em 2024, sendo grande parte delas (67.989) gravíssimas – a principal causa foi transitar em velocidade superior ao máximo permitido.

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Espírito Santo (PRF-ES), Wermeson Pestana, também comenta que, com base na experiência dos agentes que atendem nas estradas do Estado, a maioria dos acidentes – tanto de motocicletas quanto de veículos de quatro rodas – é causado por fatores humanos, como a imprudência.

Motos e carros parados em sinal na Av. Fernando Ferrari
Motociclista pilota de chinelo, o que é proibido: número de infrações cometidas em motocicletas, ciclomotores e motonetas aumentou de 2022 a 2024. Crédito: Gabriel Mazim

Outra possível causa para o aumento nos números de acidentes e de infrações cometidas, segundo Wermeson, é a grande quantidade de pilotos inexperientes que utilizam motos e outras categorias de veículos de duas rodas.

“Muitos desses condutores acreditam que não precisam ter uma habilitação, por já terem pilotado uma motocicleta quando criança, por exemplo. Então, a gente pode associar o aumento do fluxo de motocicletas, motonetas e ciclomotores ou quaisquer veículos de duas rodas com a imprudência dos condutores nas rodovias e estradas federais”, destaca.

Inclusive, segundo dados do Detran-ES, o número de novas habilitações das categorias B e AB reduziu nos últimos três anos – período em que o número de emplacamentos cresceu significativamente.

A imprudência, no entanto, está longe de ser um problema exclusivo dos motociclistas no trânsito das grandes cidades. É o que pondera Guilherme Vieira, que trabalha como motoboy há cinco anos.

“Eu vejo que a imprudência não é só por parte dos motociclistas, mas também dos próprios motoristas. As pessoas estão tão aceleradas e na correria para chegar em casa, que a cada dia se respeita menos o outro no trânsito”, ressalta.

Ele relata ainda que, atualmente, existe um clima hostil em relação aos motociclistas no trânsito – principalmente os entregadores. “O que a gente vê todos os dias é que, inclusive, as pessoas olham o motoboy com a ‘bag’ nas costas e já enxergam de forma diferente. Infelizmente, na maioria dos acidentes o motoboy vai levar a culpa, mesmo estando certo”, comenta.

Internações superam em 10 vezes a quantidade de leitos do maior hospital público do ES

Motorista do Transcol morre em acidente entre carro e moto em Vila Velha
Samu durante atendimento de acidente entre carro e moto com morte em Vila Velha: casos mais graves. Crédito: Leitor A Gazeta

O aumento na frequência dos acidentes de moto também reflete no funcionamento do sistema de saúde do Estado. Segundo o diretor técnico do Hospital Estadual de Urgência e Emergência “São Lucas”, Alexandre Bittencourt, os acidentes de trânsito já não podem mais ser encarados da mesma forma.

“Nós temos, todos os meses, atendido muitos pacientes vítimas de acidentes de moto, por exemplo, e esse impacto já é identificado desde o serviço de atendimento pré-hospitalar, como o Samu e o Corpo de Bombeiros”, destaca Alexandre.

Ele explica ainda que esses pacientes podem ficar internados por um tempo considerável e lidar com múltiplas cirurgias de diferentes especialidades, a depender da gravidade do trauma. Por isso, a demanda por esse tipo de atendimento tem aumentado – incluindo um incremento de 20% em 2024, segundo dados do Hospital São Lucas – e mais pacientes estão concorrendo por acompanhamento ambulatorial.

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), em 2023, houve 10.442 internações nos hospitais do Estado em decorrência de acidentes de trânsito. Deste número, 2.893 envolveram motocicletas, ou seja, 27,7% do total.

Já em 2024, somente de janeiro a agosto, houve 8.154 internações por conta de acidentes de trânsito. Relacionadas a motos, foram 4.603 internações (56,4% do total), uma parcela significativa e que sobrecarrega a capacidade de leitos dos hospitais públicos capixabas, segundo o secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann.

“Tomando como base o maior hospital público do ES, o Jayme Santos Neves, na Serra, a capacidade de leito é de quase 460 unidades. Levando em conta os dados de janeiro a agosto de 2024, somente com acidentes de motos, o número de internações extrapola em 10 vezes a quantidade de leitos” afirma o secretário. Para ele, estes números são alarmantes e impactam todo o sistema de saúde.

Tyago Hoffmann
Tyago Hoffmann destaca que números de acidentes são alarmantes e impactam todo o sistema de saúde. Crédito: Carlos Alberto Silva

Tyago Hoffmann

Secretário de Estado da Saúde

"Estamos vivendo uma epidemia de acidentes. Esses números alarmantes, em primeiro momento, sobrecarregam o sistema hospitalar. Depois, aqueles que não têm plano de saúde, vão utilizar o Cras para a fazer reabilitação, que muitas vezes é longa. Às vezes, esse paciente tem amputação de membro, então ele vai precisar de uma prótese ou de uma cadeira de rodas, o que gera um custo enorme tanto para o SUS quanto para sociedade."

Um dos resultados da grande quantidade de internações é o alto custo que elas geram, não só para o sistema de saúde, mas para toda a sociedade – uma realidade que se aplica tanto no Estado quanto nacionalmente.

Um exemplo é o caso do assistente de Planejamento Victor Hugo Neves Luz, de 25 anos, que teve sua história contada no início desta reportagem. Depois do acidente de moto que sofreu, em setembro de 2023, precisou ficar quatro dias internado, tendo que passar por cirurgias e um longo período de recuperação, por conta da extensão das lesões – principalmente no joelho, tornozelo e pé. Ele relata ainda que, após o acidente, só foi capaz de voltar a trabalhar em janeiro de 2024, mas que ficou com sequelas que o impactam até hoje.

Victor Hugo, assistente de planejamento, 25 anos
Victor Hugo conta o que mudou em sua vida após o acidente de moto. Crédito: Alberto Margon

“Meu tornozelo ainda tem mobilidade reduzida, e sinto dores quando faço atividades mais intensas ou caminho longas distâncias, como dois ou três quilômetros. Também continuo sentindo incômodos ao treinar a perna na academia, algo que faço por recomendação médica para fortalecimento muscular. Pelo que me explicaram e pelo que vejo em outras pessoas que passaram por traumas semelhantes, esse tipo de limitação vai me acompanhar pelo resto da vida”, conta o jovem.

Quem também passou por esse trauma foi o enfermeiro Rodrigo Nobre Sathler, 40. “Meu acidente aconteceu no dia 28 de outubro de 2011. Eu tinha acabado de sair de um plantão, porque estava começando a tentar me firmar na profissão. Como eu estava muito cansado depois do plantão, acabei pegando no sono, ficando mais lento, e aí que o acidente aconteceu, na orla de Camburi”, lembra.

Ele teve uma fratura de fêmur no quadril e passou por um longo tratamento. “Foram seis meses de recuperação, em que usei prótese externa e fixador externo. Fiquei sem andar durante vários dias e internado por quase 40 dias. Depois, fiz hidroterapia, fisioterapia, musculação para recuperar musculatura e o peso…Tive sequelas permanentes, porque eu tive uma redução de um membro para o outro devido a uma lesão de ciático muito forte, com fratura no plantar do pé esquerdo e também do fêmur. Infelizmente, é uma sequela que eu vou carregar para o resto da minha vida, que me limita de algumas atividades físicas, como correr e jogar futebol, mas, felizmente, academia, caminhada, natação são atividades que posso realizar”, conta.

Hoje, ele não pilota mais moto, devido ao trauma. Por outro lado, ele acabou escolhendo a área de trabalho a partir dessa experiência. 

Rodrigo Nobre Sathler,

Enfermeiro

"O acidente me deu a certeza de que gostaria de atuar na área de trauma. Quando eu me deparo com uma situação dessas, penso muito no que eu sofri, então acabo tendo uma empatia maior por aquele caso, com uma somatória de sentimentos tanto no profissional quanto no pessoal."

Acidentes de trânsito no Brasil geram um custo de R$ 50 bilhões por ano

De janeiro a agosto de 2024, o custo das internações por acidentes de trânsito no Espírito Santo foi de cerca de R$ 12 milhões, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH). Mesmo com as informações ainda sendo levantadas para o restante do ano passado, o número já impressiona ao chegar perto do que foi o total em 2023, quando as internações custaram R$ 15,8 milhões ao Estado.

Além disso, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em 2020, estimou que, no Brasil, os acidentes de trânsito geram um custo de cerca de R$ 50 bilhões por ano. A maior parte está relacionada à perda de produção das vítimas, seguido pelos custos hospitalares.

“Haja vista os pacientes serem jovens, de uma forma geral, nós estamos tirando uma população economicamente ativa de produzir, para serem pessoas que precisam da previdência social, de cuidados prolongados”, ressalta o diretor técnico do Hospital Estadual de Urgência e Emergência, Alexandre Bittencourt.

Segundo um Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, adultos jovens com idade entre 20 e 29 anos de idade foram maioria (30,8%) entre as vítimas fatais de motocicletas em lesões no trânsito no país.

O mesmo relatório mostrou que o perfil das vítimas fatais de motocicletas em lesões no trânsito em 2021 foi predominantemente do sexo masculino (88,1%), de baixa escolaridade com 8 a 11 anos de estudo (39,6%), de raça negra (64,9%) e solteiro (57,3%).

Além disso, vias públicas foram apontadas como o principal local de ocorrência das mortes, com uma parcela de 49,5%.

Diante de tantos dados que confirmam o problema, é preciso agir e buscar soluções, como defende o diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Aquilla Couto. "Trazer números, nada mais é do que trazer bastante evidência ou informação para o problema, e aí sim o poder público pode tomar qualquer medida administrativa para poder propor alguma ação."

Aquilla Couto

Diretor da Abramet

"Esses números não são só números. São pessoas, são vítimas, são impactos não só para a pessoa que sofreu o acidente, mas para todos que estão ao redor dela, sejam familiares, sejam amigos, sejam filhos, seja alguém que dependa financeiramente dessa pessoa. "

Educação, fiscalização e cursos de pilotagem defensiva são algumas das soluções

Imprudência, falta de conscientização e veículos cada vez mais potentes estão entre as principais causas desses acidentes
Imprudência, falta de conscientização e veículos cada vez mais potentes estão entre as principais causas desses acidentes. Crédito: Shutterstock

Com a maioria dos acidentes ocorrendo em trechos urbanos, bem sinalizados e com o asfalto em boas condições, o especialista em direito criminal e trânsito Fábio Marçal pontua que esses não são os fatores que causam a maior parte das ocorrências no dia a dia. Mas imprudência, falta de conscientização e veículos cada vez mais potentes estão entre as principais causas desses acidentes.

Segundo Marçal, muitos dos motociclistas que são pegos em operações de fiscalização não têm habilitação, ou seja, não passaram por todo o trâmite que é necessário para receber a CNH, portanto, há um maior desrespeito às regras de trânsito, gerando atitudes imprudentes, como empinar motos e fazer manobras arriscadas em áreas urbanas.

Ele também defende que a educação no trânsito comece cada vez mais cedo, citando o artigo 76 do Código de Trânsito Brasileiro, que determina aulas educativas desde a pré-escola.

Fábio Marçal

Especialista em direito criminal e trânsito

"É o que se ensina desde cedo no trânsito: o maior deve cuidar da segurança do menor, mas o mais frágil, no caso o motociclista, nem sempre entende que ele tem de se comportar como o elo mais fraco nessa cadeia."

Além disso, Marçal defende uma maior fiscalização por parte dos órgãos competentes, principalmente em relação às empresas responsáveis pelas entregas, já que muitos entregadores andam contra o relógio, na pressa em levar o mais rápido possível o pedido feito pelos clientes dessas empresas.

“As empresas precisam ser responsabilizadas em caso de acidente. Há 23% mais mortes no trânsito do que crimes dolosos contra a vida, ou seja, é mais perigoso andar no trânsito do que ser vítima de um crime. E o Estado tem de estar presente e reduzir riscos, levando conscientização e mais fiscalização”, atenta.

O Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Espírito Santo (Sindimotos) também defende medidas para ampliar a segurança nas vias. "O número de motociclistas profissionais aumentou bastante, principalmente, após o uso de entregas por aplicativos. Para tornar o trânsito mais seguro, deveria ser feita uma faixa exclusiva para motocicletas, assim como investem em ciclovias para bicicletas. Deveriam investir para segurança dos motociclistas, evitariam muitos acidentes e reduziram os custos com auxílio de beneficiários previdenciários, gastos hospitalares, transportes de emergência etc.", apontou a entidade, em nota.

Para Wermeson Pestana, superintendente da PRF-ES, a conscientização da população também é um passo importante para mudar o cenário de insegurança no trânsito capixaba. Ele destaca como exemplos os workshops realizados pela PRF no Estado, que visam educar motociclistas sobre pilotagem defensiva, comportamento no trânsito, primeiros socorros e mecânica básica.

O curso de pilotagem defensiva da PRF, inclusive, agregou muito para Carlos Emir Costa Silva, 40, adestrador de cães de Vila Velha, que comprou sua primeira moto há três anos e hoje viaja o país sobre duas rodas, com a mulher, a assistente administrativo Kleitiane Braz Cabral Silva, 40, na garupa.

“O curso ensina como se esquivar em momentos de crise, fazer curvas, sinalizar corretamente, fora os primeiros socorros. A autoescola ensina praticamente o básico, que é como você deve andar numa via pública. Mudou muito minha postura ao pilotar, após esse curso, porque no trânsito, às vezes, você tem milésimos de segundo para decidir o que fazer”, destaca o piloto (confira o depoimento completo no vídeo acima).

Carlos Emir começou a fazer o mototurismo com a mulher, como uma atividade para melhorar a saúde mental, por conta da depressão (saiba mais sobre a história do casal no vídeo abaixo). Juntos, eles já visitaram outros Estados e a viagem mais longa até agora foi de quase 9 mil quilômetros, de ida e volta até o Uruguai.

“Foi tudo tranquilo, graças a Deus, os caminhoneiros respeitavam muita gente, não tivemos nenhum incidente. Quando chegamos em Vila Velha, onde moramos, a 500 metros da minha casa, estava parado esperando o sinal abrir, uma senhora veio com o carro, não me viu atrás dela, deu ré e derrubou a gente da moto, O trânsito, muitas vezes, é mais perigoso na cidade, que na estrada”, observa.

Tecnologia a serviço da vida: motos estão sendo equipadas até para socorrer o piloto

Assim como os automóveis, que têm vindo com novas tecnologias para proporcionar mais segurança ao dirigir (Adas, sigla para advanced driver-assistance system, que significa sistemas avançados de assistência ao condutor), as motocicletas também estão sendo equipados tecnologicamente para proteger ou até mesmo socorrer o piloto.

Um exemplo é a Honda, que atualmente está em desenvolvimento um sistema de detecção de acidentes para um atendimento mais rápido de serviços de emergência. Esse sistema utilizaria sensores do smartphone com o sensor de inclinação da moto, que se conectariam a um intercomunicador colocado no capacete.

A emergência seria acionada apenas em uma determinada distância entre capacete, celular e moto, levando em conta, inclusive, a velocidade empregada e se o piloto está caído no chão sem condições de se mover.

Já a Bosch tem desenvolvido seis novos sistemas de assistência para motos baseados em radar, sendo que quatro deles serão para um novo modelo da marca austríaca de motocicletas KTM, que deve entrar em produção ainda este ano.

Entre os recursos, está o controle de cruzeiro adaptativo (ACC) - Stop & Go; assistência para passeios em grupo (GRA), que detecta quando um grupo está andando e mantém as motos em uma distância segura; assistência para distância de pilotagem (RDA), que ajuda a manter a moto distante do veículo da frente; assistência de frenagem de emergência (EBA), aciona quando detecta risco de colisão; aviso de distância traseira (RDW), que avisa o piloto se outro veículo e aproxima demais; aviso de colisão traseira (RCW), que ativa as as luzes de emergência da moto em uma parada brusca, alertando o carro de trás.

Outra empresa que tem investido na segurança é a BMW Motorrad, que foi a primeira a desenvolver motocicleta com sistema ABS, em 1988, além de criar acessórios visando à proteção do motociclista, desde capacetes e roupas a até mesmo o chamado Neck Brace System, acessório que protege a zona em volta do pescoço e garganta.

Freio ABS é um dos itens de segurança que já está presente em motos
Freio ABS é um dos itens de segurança que já está presente em motos. Crédito: Shutterstock

A marca ainda tem tecnologias voltadas para a segurança na hora de pilotar, como controle de tração dinâmico (DTC), controle automático de estabilidade (ASC) e até mesmo cursos voltados para que os proprietários de motocicletas da marca tenham a possibilidade de pilotar de forma mais segura os modelos da marca.

10 soluções de um trânsito mais seguro para motociclistas

  1. Vias em bom estado: sem buracos, irregularidades ou obstáculos que possam causar quedas ou outros acidentes.
  2. Sinalização: clara e visível para alertar sobre curvas, cruzamentos e pontos perigosos na via.
  3. Faixas exclusivas para motos: criar faixas ou corredores exclusivos para motociclistas, especialmente em vias urbanas congestionadas.
  4. Campanhas de conscientização: campanhas educativas para pilotos e motoristas de outros veículos sobre a importância de respeitar os motociclistas e de compartilhar as vias de forma segura.
  5. Treinamento para motociclistas: cursos de pilotagem defensiva e capacitação contínua, com foco em técnicas de segurança e comportamento no trânsito.
  6. Equipamentos: enfatizar o uso de equipamentos de proteção, como capacetes, luvas, jaquetas e calçados adequados.
  7. Fiscalização rigorosa: aumentar a fiscalização por parte dos órgãos competentes para impedir infrações como excesso de velocidade, ultrapassagens perigosas, falta de equipamento de proteção e uso de álcool e drogas para dirigir ou pilotar.
  8. Sistemas de segurança: incentivar a adoção de tecnologias como ABS (sistema de freios antitravamento), controle de tração e airbags para motocicletas.
  9.  Redução de pontos críticos: como cruzamentos perigosos e trechos com alto índice de acidentes, identificando-os e corrigindo os problemas.
  10. Análise de acidentes: coletar e analisar dados de acidentes para identificar padrões e áreas de risco, direcionando ações preventivas.
Fontes: especialistas entrevistados.

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