A China pode ter deixado para trás a fase mais aguda da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, que teve seu epicentro no país asiático, mas o ritmo acelerado da disseminação da doença em outras regiões continua alimentando projeções pessimistas para a economia global.
Em relatório publicado nesta terça (17), o banco de investimentos Goldman Sachs previu que a atividade econômica nos Estados Unidos, na Europa e no Japão sofrerá contração no segundo trimestre deste ano, minando a recuperação da China após o tombo causado pela doença no primeiro trimestre.
O banco estima que a economia chinesa, a segunda maior do planeta, tenha sofrido uma contração de 9,3% no primeiro trimestre, quando as medidas adotadas para conter o novo coronavírus impuseram quarentena a milhões de pessoas e provocaram a interrupção da produção nas indústrias.
De acordo com estatísticas divulgadas na segunda (16), a produção industrial da China caiu 13,5% nos primeiros dois meses do ano em comparação com o mesmo período do ano anterior. As vendas do comércio diminuíram 20,5% e os investimentos em máquinas e outros ativos fixos caíram 24,5%.
Com a redução do número de novos casos da doença notificados na China, que atingiu um pico no início de fevereiro e diminuiu desde então, os economistas preveem que a economia chinesa se recuperará no segundo trimestre, mas num ritmo ainda lento.
Os economistas do Goldman Sachs preveem que a China crescerá 1,5% no próximo trimestre, mas afirmam que a retomada poderá ser prejudicada pelos efeitos da disseminação da doença nos Estados Unidos e na Europa, onde o número de casos de infectados pelo coronavírus continua crescendo.
O banco, que previa antes da crise crescimento de 5,5% na China neste ano, agora aposta em 3%. Se a projeção se confirmar, será o pior resultado alcançado pela economia chinesa desde 1976, quando o país foi atingido por um terremoto e pelas incertezas criadas pela morte de Mao Tsé-Tung.
Os economistas acreditam que a China e as outras principais economias irão se recuperar no segundo semestre, mas reconhecem que isso vai depender da evolução da doença nos outros países onde ela ainda está começando a se espalhar e das medidas tomadas para conter os prejuízos econômicos.
Num cenário que parte do pressuposto de que a pandemia estará sob controle em poucos meses, o Goldman Sachs prevê que a economia mundial crescerá 1,25% neste ano. Embora o resultado seja positivo, será o terceiro pior alcançado pela economia global em quatro décadas, se confirmado.
As projeções mais recentes do FMI (Fundo Monetário Internacional), divulgadas em janeiro, antes da crise do coronavírus, indicavam um crescimento de 3,3% neste ano. Os economistas da instituição deverão rever suas previsões novamente em abril.
Em boletim distribuído aos clientes de sua consultoria no início desta semana, o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore observou que o cenário ainda é repleto de incertezas. "O mundo nunca viveu um choque como este, e por isso todos os cenários são incertos", escreveu.
Na sua opinião, os efeitos econômicos da disseminação do vírus poderão ser passageiros se as medidas tomadas pelas autoridades para conter o contágio tiverem êxito ao reduzir o ritmo acelerado em que a doença se propaga. "Caso contrário, o mundo pode caminhar para uma recessão", disse.
A consultoria IHS Markit, que monitora expectativas do setor privado com pesquisas feitas com executivos de centenas de empresas no mundo inteiro, reviu em fevereiro, antes mesmo do aprofundamento da crise, sua projeção para o crescimento da economia mundial, reduzindo-a de 2,1% para 1,8%.
Nesta semana, seu principal analista para a economia americana, o economista Joel Prakken, previu que os Estados Unidos sofrerão uma contração de 5,4% no trimestre em curso. Mesmo contando com uma recuperação da atividade no segundo semestre, ele prevê uma contração de 0,2% nos EUA neste ano.
Além de prever ruptura das cadeias de suprimento globais da indústria, queda da demanda pelas exportações de produtos americanos e diminuição da produção de petróleo, ele aposta numa redução drástica do consumo, cujos efeitos ainda se farão sentir no segundo semestre do ano.
O IIF (Instituto de Finanças Internacionais), associação que representa os maiores bancos do mundo, que atualizou suas projeções no início de março, prevê crescimento de 1% neste ano, o pior resultado desde a crise financeira internacional de 2008, que fez o mundo mergulhar em recessão.
Ao anunciar a nova estimativa, os economistas do instituto chamaram atenção para fragilidades na economia da Alemanha, em especial no setor automobilístico, no Japão, no Brasil e em outros países considerados emergentes que ainda não tinham sido atingidos pela crise do coronavírus.
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