O colapso econômico da União Europeia terá amplitude e velocidade "sem precedentes em tempos de paz", afirmou nesta quinta (30) Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE).
Segundo ela, os cálculos feitos pelo BCE estimam que o PIB da zona do euro vai contrair de 5% a 12% neste ano, e que a velocidade e a escala da recuperação quando terminarem as quarentenas são ainda incertas.
Antes do pronunciamento de Lagarde, as quatro maiores economias da UE -Alemanha, França, Itália e Espanha- haviam divulgado dados e previsões apontando para quedas recordes em seus PIBs.
A recessão é uma má notícia não só para a Europa como também para o Brasil: os europeus são os maiores investidores diretos no Brasil e estão em segundo quanto ao volume consumido das exportações brasileiras.
Somados, esses países têm um PIB de 10 trilhões de euros (cerca de R$ 60 trilhões, segundo dados do Banco Mundial de 2018), 65% da soma de todas as economias do bloco.
A maior delas, a Alemanha, divulgou previsão de recessão anual de 6,3%. França, Itália e Espanha (em ordem decrescente de tamanho do PIB) divulgaram números oficiais para o primeiro trimestre deste ano: contrações de 5,8%, 4,7% e 5,2%, respectivamente, em relação ao último trimestre de 2019.
França e Itália, que já vinham de queda no PIB nos últimos três meses do ano passado, estão no que os economistas chamam de recessão técnica.
Os quatro países são também os de maior população no bloco e os que registraram os maiores números de casos de coronavírus.
Em todos, restrições para conter a transmissão do vírus foram impostas, com diferentes graus e duração. Na Alemanha, que tem o mais bem preparado sistema de saúde da Europa, o confinamento foi gradual, menos estrito e mais curto. As medidas começaram a ser relaxadas 29 dias depois do início da quarentena.
Na Itália e na Espanha, que sofreram com hospitais superlotados e excesso de mortes, a atividade começou a voltar após um mês do início do bloqueio. A França é entre eles o país que ficará parado mais tempo: a retomada está prevista para 11 de maio, 55 dias após o início da quarentena.
A recessão anual estimada pela Alemanha deve ser a maior desde a Segunda Guerra Mundial e encerrar dez anos de crescimento de um PIB que fechou 2018 perto de 4 trilhões de euros (cerca de R$ 24 trilhões), segundo o Banco Mundial.
Ainda que tenha imposto restrições menos duras e mais curtas, o país teve sua economia muito afetada pela quebra das cadeias de suprimentos (a falta de componentes, grande parte importada da China, afetou a produção) e pela recessão global, que diminuiu as encomendas.
Segundo o Ministério da Economia, a previsão para 2020 é de uma queda de 11,6% nas exportações. Para 2021, a previsão é de uma recuperação de mais de 5%.
Na França, segunda maior economia do bloco, a contração do PIB no trimestre foi a maior desde a Segunda Guerra Mundial, segundo a agência nacional de estatísticas (a série histórica começa em 1949).
O PIB francês encolheu 5,8% em relação quarto trimestre de 2019, levando a economia da França ao que os economistas chamam de recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda da economia).
Os investimentos empresariais franceses recuaram 11,4% e o consumo das famílias caiu 6,1%.
Na Itália, terceira economia do bloco, a redução foi a maior desde o começo dessa série histórica, em 1996: o PIB caiu 4,7% no primeiro trimestre, em comparação com o trimestre anterior, segundo o escritório nacional de estatísticas (Istat). O país já vinha de uma queda de 0,3% no último trimestre de 2019, no que é chamado por economistas de recessão técnica (dois semestres seguidos de contração).
É a quarta vez nesta década que a economia da Itália entra em recessão.
Com uma economia mais frágil e um endividamento de 135% do PIB em 2019, a Itália prevê um déficit de 10,4% de seu PIB neste ano para recuperar os danos provocados pela crise do coronavírus. O rombo é o dobro do registrado na crise global de 2008, o que já levou agências de risco a rebaixar a nota de crédito italiana (na prática isso significa que credores cobrarão juros mais altos para compensar um risco maior).
Na Espanha, a quarta maior economia do bloco, o PIB recuou 5,2%, a maior redução em quase um século.
Foi o maior recuo desde a crise da década de 1930, de acordo com a agência nacional de estatística do país (INE).
É mais que o dobro da queda registrada (2,6%) no primeiro trimestre de 2009, após a crise global de 2008.
Com um PIB de cerca de US$ 1,419 trilhão, segundo o Banco Mundial (cerca de R$ 7,8 trilhão), o país havia fechado o ano passado com a atividade em pequena alta, de 0,4% no último trimestre.
As quedas no mercado imobiliário (9,6%), no consumo das famílias (7,5%) e no investimento privado (3,5%) foram alguns dos principais fatores de contração.
O país registrou em abril deflação de 0,7%, principalmente por causa da queda nos preços de combustíveis.
As previsões aumentam a pressão para que a União Europeia encontre uma solução para refinanciar a retomada do bloco sem aumentar a desigualdade entre seus membros.
Por enquanto, os 27 países já concordaram com medidas que somam 540 bilhões de euros (R$ 3,24) para combater os danos provocados pelas quarentenas: prevenir desemprego, garantir renda a trabalhadores autônomos, dar crédito a empresas e fortalecer serviços de saúde.
Os recursos, porém, só devem começar a fluir a partir de 1º de junho, quando estarão prontos os processos e regulamentações.
Para a reconstrução, a proposta inicial é elevar o teto do Orçamento plurianual europeu (de 2021 a 2017) para usar esse colchão como garantia de um empréstimo feito pela UE e depois repassado aos membros que precisarem.
O esquema ainda não foi detalhado, mas a Comissão Europeia disse que o valor total do fundo ficará na casa dos trilhões de euros.
O objetivo é igualar as condições de acesso ao capital entre os membros, já que as situações de seus cofres públicos e de suas economias levam a riscos diferentes e, portanto, a taxas de juros diferentes.
Com a garantia do bloco europeu, a UE pode levantar mais recursos a taxas mais baixas, e permitir que os países mais vulneráveis tenham o crédito necessário para investir.
Ainda não há dados de todos os países para calcular a contração de toda a zona do euro neste trimestre (os números da Alemanha devem ser divulgados em 15 de maio), mas o escritório de estatísticas da UE estima queda de 3,8%, em relação ao trimestre anterior.
Seria a queda mais acentuada desde o começo das séries temporais, em 1995.
As estimativas são de que a área do euro feche este ano com uma recessão anual maior que a de 2009, quando o PIB contraiu 4,5%. Pode chegar a 7,5% em 2020, segundo o comunicado feito pelo economista-chefe da Comissão Europeia, Paolo Gentiloni, a membros do Parlamento Europeu.
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