Os EUA passarão pelo momento "mais sombrio de sua história moderna" se o presidente Donald Trump não mudar a estratégia contra o novo coronavírus, disse em depoimento ao Congresso americano o médico Rick Bright, que até abril participava dos esforços do governo para combater a pandemia.
Após ser demitido do comando de uma agência federal, Bright fez uma denúncia formal contra a administração Trump, na qual afirma que as autoridades ignoraram seus alertas sobre a falta de preparo do governo para lidar com a Covid-19.
Por isso, foi convocado nesta quinta-feira (14) para depor a um subcomitê de saúde da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil).
Em um mais de três horas de testemunho, Bright disse que a gestão federal ainda não tem um "plano geral" para a pandemia e que o país precisa rapidamente desenvolver uma estratégia nacional para testar a população.
"Nossa janela de oportunidades está fechando. Se não melhorarmos nossa resposta agora, baseada na ciência, temo que a pandemia vai piorar e se prolongar", afirmou aos deputados.
Os Estados Unidos são o país mais atingido no mundo pela pandemia, com mais de 1,4 milhões de casos confirmados de coronavírus e mais de 85 mil mortes mortes, de acordo com compilação de dados realizada pela Universidade Johns Hopkins.
Segundo Bright, mesmo que esses números melhorem nos próximos meses, a tendência é que eles voltem a piorar durante o outono --que vai de setembro a dezembro nos EUA -, quando começa a temporada de gripe no país.
Isso, diz ele, vai "colocar uma pressão sem precedentes no sistema de saúde [do país]".
E vai piorar ainda mais no inverno, de dezembro a março no hemisfério norte, afirmou o médico. "Sem um planejamento melhor, 2020 será o inverno mais sombrio da história moderna."
"Os americanos merecem a verdade, uma verdade baseada na ciência. Temos os melhores cientistas do mundo, deixe-nos falar sem medo de represálias", afirmou ele.
Bright disse que começou a ficar preocupado com a situação dos EUA em janeiro, quando recebeu um email de um executivo de uma grande fabricante de máscaras médicas. Na mensagem, ele alertava que o país não teria condições de produzir equipamentos na velocidade necessária caso fosse atingido pela pandemia.
"Ele dizia: 'Estamos na merda. Todo o mundo está'", relatou o médico. Após receber o e-mail, Bright avisou imediatamente o comando do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil), mas teria sido ignorado.
O secretário da pasta, Alex Azar, por sua vez, afirmou nesta quinta que todas as questões levantadas pelo médico foram investigadas e arquivadas.
Durante o depoimento, Bright colocou ainda em dúvida a previsão da Casa Branca de que haverá uma vacina contra o coronavírus entre 12 e 18 meses.
O médico tem como especialidade o desenvolvimento de vacinas e dirigia até abril a Barda, agência do governo americano responsável pela produção de vacinas e medicamentos.
Ao ser removido do cargo, no último dia 22, ele foi transferido para uma posição inferior no Instituto Nacional de Saúde, outra agência do governo.
Logo após o caso, o médico deu entrevista ao jornal The New York Times na qual afirmou que demissão tinha ocorrido após ele questionar o modo como a Casa Branca queria usar a cloroquina e a hidroxicloroquina no combate à pandemia.
Na denúncia feita contra o governo, na qual pede para ser readimitido em seu antigo cargo, Bright afirma que a gestão Trump promoveu os medicamentos como uma panaceia, embora "claramente não tenham mérito científico".
O presidente americano --assim como seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro - defendeu diversas vezes o uso da cloroquina no tratamento para o coronavírus, embora estudos não tenham atestado eficácia.
Nesta quinta, Bright voltou ao assunto e afirmou que, no caso da hidroxicloroquina, ocorreu uma tentativa do governo de driblar o processo normal para aprovar o medicamento no tratamento da Covid-19.
Por meio de uma rede social, Trump disse que nunca conheceu o médico pessoalmente e afirmou que suas atitudes mostram que ele não deveria mais trabalhar no governo federal.
Mais tarde, o presidente disse a jornalistas que acompanhou parte do depoimento e voltou a atacar Bright. "Para mim ele é não nada além de uma pessoa desiludida e infeliz", afirmou o republicano.
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