As redes sociais estão repletas de memes do período de crianças longe da escola e pais desesperados. Com a pandemia do novo coronavírus, o isolamento social e as aulas a distância, coube à família supervisionar mais de perto a vida escolar dos pequenos. Nesse contexto, e percebendo a dificuldade em atrair a atenção, garantir a interação e transmitir um conteúdo com o máximo de clareza, abre-se caminho para maior valorização da profissão do professor.
Há quem diga que o reconhecimento da escola e do professor vai ser um dos legados da pandemia, podendo, no futuro, aumentar o número de jovens querendo dar aulas e trabalhar em prol da educação. Ivan Gontijo, coordenador de projetos do Todos pela Educação, ressalta inclusive que este movimento, se consolidado, segue na contramão do que era esperado para o século XXI. No lugar de mais tecnologia, para os próximos anos a tendência é ocorrer uma valorização do espaço físico escolar.
Se as pessoas com a mentalidade mais futurística acreditavam que a escola ia acabar dentro de alguns anos, a pandemia e o isolamento mostraram que não vai ser possível; o dano seria muito grande. O espaço físico escolar sai fortalecido. As crianças, jovens e famílias estão valorizando mais o ambiente de socialização, e entendendo a importância de diferenciar a casa do lugar de estudar. Muitos pais tiveram que ter contato com a difícil tarefa de ensinar, e passaram a fazer a seguinte reflexão: se ensinar uma ou duas crianças é complicado, imagine dar conta de 30, na mesma sala, com ritmos diferentes de aprendizado, personalidades diferentes, observa Gontijo.
Para Maria Júlia Azevedo, mestre em Educação e Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP ) e gerente de Implementação de Projetos no Instituto Unibanco, a valorização do professor precisa ser parte das mudanças ocasionadas pela pandemia. Entretanto, ressalta, não pode ficar restrita a homenagens e presentes, mas deve possibilitar melhores condições de trabalho e salários condizentes com a importância da função. A especialista lembra que países que valorizam o professor ficam à frente no quesito desempenho educacional.
"O professor precisa entender que o trabalho dele está mudando. É necessário gerar uma consciência na sociedade e dentro da própria classe. É sabido que os países ao redor do mundo que valorizam o professor têm melhores resultados na educação. Então, as redes pública e privada precisam melhorar os salários, fornecer mais capacitação e atualização, olhar para a infraestrutura das escolas; isso é valorização real. Nada mais natural do que agora a sociedade, quando não tem mais a presença física do professor, perceber a importância do profissional, sintetiza Maria Júlia.
A professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Doutora em Educação, Cleonara Maria Schwartz, enxerga o professor no contexto pós-pandemia como um profissional diferente. As famílias, sendo obrigadas a supervisionar as atividades dos estudantes, perceberam, enfim, o quanto é trabalhoso, difícil e desgastante o ato de ensinar e garantir um aprendizado adequado. Para a pesquisadora, saber aproveitar as mudanças de modo a transformar o ensino é uma das grandes oportunidades da pandemia, o que inclui olhar com mais respeito para os profissionais que são responsáveis por formar todos os outros.
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