Hipótese, metodologia, amostra, periódico… termos recorrentes no universo da ciência, mas que, para quem não está inserido neste contexto, podem parecer coisas muito difíceis, distantes e até inacessíveis.
Apesar de parecer algo restrito às instituições de pesquisa e ensino, a ciência está presente em todos os aspectos do nosso dia a dia, desde os cuidados com a saúde e alimentação até os recursos que nos permitem realizar atividades corriqueiras de lazer, trabalho e convivência em família.
Para as crianças, que ainda estão descobrindo o mundo ao seu redor e tentando entender como e por que as coisas funcionam e fazem sentido, o estímulo ao entendimento da ciência é um caminho interessante e muito necessário para a sua formação.
Em tempos de questionamento à ciência e negacionismo, o estímulo ao raciocínio crítico deve acontecer desde cedo na escola. É o que defende a professora Mari Inêz Tavares, mestre em Ensino de Ciências pela USP e doutora em Educação pela Ufes. Ela aponta que em alguns países, como Portugal, as crianças já recebem aulas de ciências a partir dos três anos de idade. A metodologia empregada é o ensino por investigação.
Já nas séries mais avançadas, os professores podem trabalhar de forma inter e transdisciplinar, por meio de projetos escolares que abordem as interrelações entre ciência, tecnologia e sociedade. “Durante a execução do projeto, é preciso que os estudantes sejam convidados a resolverem problemas e não simplesmente executarem exercícios de memorização, argumentando sobre as suas descobertas de forma oral e escrita, ouvindo o argumento do outro e sabendo contra-argumentar de forma responsável e responsiva”, completa.
Curiosas por natureza, crianças questionam, formulam suas próprias hipóteses e muitas vezes as colocam em teste, um processo que se assemelha muito ao método da pesquisa científica. Para o gestor da Escola Monteiro, Eduardo Gomes, é partindo dessa curiosidade e interesse que o ensino da ciência deve ser pautado.
"Quando pensam em uma hipótese qualquer, por exemplo, por que uma planta cresce no sol e não na sombra? Por que uma fruta é doce? Isso gera uma curiosidade e, através dela, partimos para o processo de pensar sobre a questão e consolidar uma resposta através de uma experiência de pesquisa", aponta.
Ele defende que a escola precisa se empenhar em criar formas de ensino que incentivem essa curiosidade e engajem o estudante no desejo de pesquisar e descobrir. Um exemplo são as atividades que estimulam a construção e a prototipação.
"Hoje sabemos que as aulas precisam ser apresentadas de uma forma mais engajadora. Temos um laboratório que chamamos de Espaço Maker, um espaço com diversos equipamentos para experimentação. Tivemos um projeto para a construção de um carrinho movido a ar, uma plataforma com rodinhas e uma bexiga. Isso fez com que os alunos pensassem sobre algumas questões — por que o do meu colega andou mais? O que fez o carro se comportar daquela maneira?”, conta.
É comum que alguns jovens tenham o primeiro contato com a produção científica apenas ao ingressar na universidade, estimulados por professores do ensino superior. Porém, se uma das chaves para ter jovens e adultos que acreditam na importância da ciência é incentivar desde cedo, é preciso fomentar a formação de futuros pesquisadores e investir em pesquisa ainda na escola.
Um exemplo é o Programa de Iniciação Científica Júnior – Pesquisador do Futuro, da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) em parceria com a Secretaria da Educação (Sedu), que destina mais de R$ 1 milhão para projetos de iniciação científica júnior nas escolas da rede pública.
O objetivo? Despertar a vocação científica de cada aluno, com a ajuda de um professor tutor que auxilia na execução das atividades do projeto. Além do suporte dos docentes, estudantes universitários também podem atuar como monitores, aproximando alunos nas mais variadas faixas de conhecimento e gerando intercâmbio de ideias e estímulo ao pensamento científico.
Para a diretora-presidente da Fapes, Cristina Engel, o programa é um instrumento de sensibilização e incentivo à pesquisa e ao ingresso no ensino superior. "Precisamos da curiosidade e da capacidade criativa desses jovens, pois serão eles que conduzirão o futuro da ciência e do desenvolvimento tecnológico do Espírito Santo. O PIC Jr é um investimento para hoje com o olhar no amanhã", frisa.
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