O livro “Viva a produção prazerosa – histórias das colheres de bambu”, de Alvaro Abreu, foi escrito durante o isolamento, no longo intervalo imposto pela pandemia da Covid-19 à rotina de cada um. Seu autor é um fazedor que acredita na maravilhosa capacidade humana de autorrealização a partir de uma produção baseada no compromisso de fazer bem feito: como profissional ou só por gosto, com ou sem remuneração.
O título do livro saúda essa sua crença, para logo anunciar os diferentes prazeres vividos em torno do objeto mais constante de sua diversificada produção. Motivo das histórias contadas com leveza e afeto, suas colheres de bambu nos levaram longe e trouxeram para perto velhos e novos amigos, reunindo com frequência nossa numerosa e animada família.
Como muitas pessoas de sua geração, Alvaro teve uma infância e adolescência em que a criação de seus próprios brinquedos e objetos de entretenimento foi bastante estimulada. As opções de consumo eram poucas e as brincadeiras exigiam criatividade. Aprendia-se fazendo: observando e copiando, criando e testando, corrigindo e usando. As disputas com os amigos provocavam a busca de soluções e sugeriam novos projetos. O sucesso de cada tentativa era garantia de satisfação e aumento da autoconfiança dos garotos.
O menino cresceu, virou nadador, fumou, virou fotógrafo, engenheiro e professor, casou-se comigo, virou pai, gestor público, infartou, virou empresário, colhereiro e escritor. Sempre escreveu, registrando reflexões e sentimentos. Mais adiante, virou avô e cronista.
Alvaro compreende o fazer criativo como uma viagem movida por pequenas e grandes emoções, num processo que se inicia com a vontade assumida de produzir algo e a necessária preparação de materiais e instrumentos. Que vai desde as escolhas e resultados dos primeiros movimentos ao mais esmerado acabamento do que se pretendeu produzir, podendo continuar em direção aos mais inesperados destinos.
Nos 14 capítulos do livro, ele compartilha suas ideias e vivências relacionadas às colheres. Fala sobre o encantamento pelos bambus, que redescobriu num período de ócio forçado, quase três décadas atrás, da sua paixão pelas ferramentas e de como se reaproximou do fazer manual. Descreve os métodos de trabalho que foi desenvolvendo e as emoções que sente desde os primeiros cortes em busca de uma forma básica, até receber os elogios e viver os desdobramentos que acabaram por firmar a sua identidade como colhereiro.
Do bambu vieram as colheres; delas, os contatos com amigos e interessados; desses contatos vieram os convites para mostras e oficinas, além de entrevistas, reportagens e ótimas histórias.
Suas histórias falam de encontros e de situações ocorridas na busca de meios para produzir, durante os processos de fazer e ao falar e mostrar o que fez. Muitas outras surgiram de contatos nas redes, alguns dos quais evoluíram para trocas de mensagens e até de presentes, materializando afinidades que brotaram do interesse pelas colheres e pelos bambus. Elas comprovam o entendimento de que o resultado de qualquer produção - seja ela para uso prático, para o aguçamento da inteligência ou para o encantamento dos sentidos - precisa ser oferecido ao público, pois são exatamente as variadas reações desse público que provocam as satisfações e as reflexões que alimentam a alma do autor.
Nos inúmeros enredos, a maioria dos personagens era de desconhecidos. Encontros imprevisíveis, sempre carregados de boas emoções, revelaram aprendizados oportunos, fraternas amizades, além de alguns desdobramentos inimagináveis. O maior exemplo deles é o livro de fotografias das colheres produzido por Hans Hansen, reconhecido fotógrafo alemão, em comemoração aos seus 50 anos de carreira.
A intimidade que se tem com colheres, a variedade dos formatos e tamanhos, a plasticidade do bambu e o impacto visual de composições em numerosos e diferentes conjuntos, têm tornado sua exposição muitas vezes impactante e atraente, como que convidando os interessados a observá-las mais de perto.
Durante as mostras, esses olhares atentos permitem perceber que algumas pessoas estabelecem relações de identificação com algumas das colheres. Provavelmente movidas por recordações de experiências afetivas, funcionais ou técnicas, expressam suas preferências, descobertas, ou, ainda, a inspiração para futuras iniciativas.
No livro, a escrita franca do observador focado e sensível, ilustrada com mais de 200 fotos, oferece ao leitor uma aproximação deliciosa das pessoas e objetos que protagonizaram suas histórias e dos lugares onde elas se passaram. E traz a esperança implícita de contribuir para que cada um, que ainda não encontrou, venha a descobrir sua própria “colher”.
LANÇAMENTO:
- Vitória
- Data: 26 de outubro (quarta-feira)
- Horário: das 17h às 21h
- Onde: Kiosque do Alemão, na Curva da Jurema
O LIVRO:
“Viva a Produção Prazerosa - histórias das colheres de bambu”, editora Mandacaru. 264 páginas coloridas, 17x24,3cm
Preço de capa: R$ 95
Venda online com frete grátis até 26/10: bit.ly/producaoprazerosa
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