Vivemos tempos em que a saúde mental enfrenta uma crise global sem precedentes. Nesse cenário de incertezas e exaustão, a arte se ergue como um fôlego necessário, um espaço onde a existência se reinventa, ganha cor e sentido. Longe de ser um luxo ou mero adorno, a arte é resistência, é coragem – uma forma de transfigurar a realidade e nos reconectar com o essencial.
Nietzsche dizia que a arte é a grande sedutora da vida, e essa visão ressoa com ainda mais força na contemporaneidade. Em uma cultura obcecada por produtividade e velocidade, a arte nos convida à pausa, ao mergulho sensível naquilo que escapa ao utilitarismo. Ela abre frestas na rigidez do cotidiano, criando novas possibilidades de ser e de estar no mundo. Como um portal para outras realidades, permite que nossas narrativas transcendam as fronteiras do óbvio, nos ensinando a sentir, a ver e a existir de maneiras antes inimagináveis.
Manoel de Barros, com sua delicada ousadia, traduz essa essência com precisão: “Tudo que não invento é falso”. A arte, mais do que refletir a vida, a recria – delira sobre ela, reinventa o que a rotina muitas vezes ofusca. Em sua potência criativa, devolve brilho ao que parecia opaco, ampliando as margens da experiência humana.
Os benefícios da arte para a saúde são amplamente documentados: dançar, pintar, ouvir música ou simplesmente contemplar uma obra podem reduzir o estresse, fortalecer vínculos sociais e nutrir o bem-estar. No Brasil, projetos culturais em comunidades e hospitais evidenciam seu papel transformador, revelando que a arte não apenas nos toca individualmente, mas também tece novos modos de convivência. Afinal, o mundo começa onde o pé pisa – e a arte nos ensina a pisar com mais leveza, com mais escuta e invenção.
No entanto, reduzir a arte a uma ferramenta terapêutica seria subestimá-la. Ela não existe para curar, mas para expressar o indizível, para dialogar com o caos e expandir os limites do possível. Não é um paliativo para a dor, mas uma afirmação vigorosa da vida em toda a sua complexidade. Provoca, inquieta, desloca certezas e nos faz habitar o mundo de forma mais autêntica.
Como exercício de transgressão e liberdade, a arte é um direito fundamental. Criar espaços para ela é garantir que a vida siga pulsando, mesmo diante das adversidades. Nietzsche, com sua lucidez cortante, nos lembra: “Temos a arte para não perecermos da verdade.” Que possamos honrá-la não apenas como um refúgio, mas como uma aliada essencial na construção de um mundo menos rígido – onde pensar diferente não seja um desvio, mas uma possibilidade.
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