Big Bat Blues Band em formação antiga
Big Bat Blues Band em formação antiga. Crédito: Divulgação

Big Bat Blues Band: 30 anos de blues em alta voltagem

Muitos são os projetos elencados pela banda capixaba para celebrar a data; afinal, não é fácil atingir essa marca em plena atividade e, mais do que isso, em permanente processo de evolução

Tempo de leitura: 6min
Publicado em 19/08/2023 às 01h00
  • José Roberto Santos Neves

    É jornalista e pesquisador musical

“Blues é tudo igual”; “tocar blues é fácil”; “as batidas são sempre as mesmas”. Esse tipo de comentário infelizmente ainda é comum por quem ainda não se familiarizou com o gênero musical nascido no Delta do Mississipi, no final do século XIX, derivado dos spirituals e das work songs, as canções entoadas pelos trabalhadores rurais nas plantações de algodão no sul dos Estados Unidos.

Expressão cultural de linhagem afro-americana, o blues se renovou ao longo das décadas, sendo apresentado de diversas formas por seus compositores, instrumentistas e intérpretes. De Robert Johnson a Stevie Ray Vaughan, muita água, amores fugazes e uísque rolaram debaixo dessa ponte musical, que continua gerando frutos com base no respeito à tradição, ousadia e inventividade.

Quem realmente ama e sente o blues possui uma relação de cumplicidade e devoção a esse gênero musical. É o caso da Big Bat Blues Band. Considerado uma instituição do blues no Espírito Santo, o grupo completa 30 anos de estrada mantendo a fidelidade ao gênero musical que abraçou no longínquo ano de 1993, quando os amigos Claudio França e Eugênio Goulart se uniram para compartilhar o amor por essa música secular que encanta gerações.

Muitos são os projetos elencados pela banda para celebrar a efeméride; afinal, não é fácil atingir essa marca em plena atividade e, mais do que isso, em permanente processo de evolução. Entre os planos da Big Bat – como é carinhosamente chamada pelos fãs – estão a gravação de um novo álbum e uma turnê comemorativa às suas três décadas de atuação.

A empreitada será literalmente tocada pela atual formação da banda, que, além do vocalista Eugênio Goulart, conta com Larissa Pacheco (vocal), Erikson Almeida (guitarra base/solo), Dori Sant'Ana (teclados), Tucca Cruz (baixo) e Bruno Zanetti (bateria).

Big Bat Blues Band
Big Bat Blues Band em formação atual. Crédito: Divulgação

Escola de blues

É bom lembrar que a Big Bat Blues Band pode ser considerada uma escola de blues pela qual passaram, se não falha a memória de Eugênio, algo em torno de 24 músicos, que contribuíram cada qual à sua maneira para a construção dessa história. A exemplo dos mais tristes versos do blues houve perdas nesse caminho, e a maior delas foi a morte do guitarrista e cofundador Claudio França, em março de 2022, em decorrência de um câncer. Mas a dor do luto se fez fortaleza para que a banda seguisse em frente, conforme conta Eugênio: “Se por um lado o falecimento do Claudio foi um choque, por outro foi um motivo para continuarmos com o trabalho. Com certeza ele gostaria imensamente que a gente não parasse, esse projeto era a vida dele”, revela.

Além da homenagem a Claudio França, os integrantes apontam outras razões para a longevidade da banda: a sua identidade musical, construída com base nas interpretações viscerais do blues; os três álbuns que compõem a sua discografia; e, naturalmente, o público que acompanha a Big Bat em todas as ocasiões. “O nosso público é uma das principais razões para a banda permanecer em atividade durante todo este tempo. A dedicação deste público à banda é impressionante”, confirma Eugênio.

Versatilidade

Quanto aos álbuns, esses merecem um parágrafo à parte, não só pela qualidade, como também pela versatilidade e a capacidade de adaptação da banda às mudanças. Se no primeiro disco, “Todo dia é dia de blues” (2006), o grupo manteve-se fiel à sonoridade dos anos 40 e 50; e no segundo, “Haze Hot Blues” (2012), flertou com o country e o rock, com a inclusão de vocais femininos; no terceiro álbum, intitulado simplesmente “#3”, a banda ampliou seus horizontes musicais ao juntar os elementos básicos do blues a ritmos aparentados como o soul, o gospel, o rhythm and blues e o rock’n’roll.

Todas as fases agradam aos músicos e ao público; se houvesse uma eleição para escolher qual o melhor disco, os três sairiam vencedores. “Nossos três álbuns são o resultado dessa autenticidade da banda. Eles são curiosamente distintos entre si, e acho que representam a evolução da banda em termos de composição, arranjo e definição de estilo”, observa Eugênio.

Juntamente com a sua discografia, a Big Bat Blues Band registra como capítulos importantes de sua história a participação no Festival Internacional de Jazz e Blues de Rio das Ostras (RJ), o Festival de Jazz e Bossa de Santa Teresa (ES) e o Manguinhos Jazz & Blues Festival (ES). Em Rio das Ostras, o grupo chegou com “a cara e a coragem” em 2005, apresentando-se inicialmente em espaços alternativos, até chamar a atenção da organização do festival e ocupar o palco da Concha Acústica, em 2012, onde repetiu o bis cinco vezes a pedido da produção do evento, com o show de lançamento do álbum “Haze Hot Blues”. O mesmo show foi apresentado no Teatro do Sesi e no Manguinhos Jazz & Blues Festival, onde a Big Bat possui cadeira cativa como uma das atrações mais queridas do público.

Participação internacional

Por sua vez, o terceiro álbum foi gravado no estúdio Funky Pirata, e mixado e masterizado em Nova York pelo produtor Eber Pinheiro. “Nesse trabalho também tivemos a participação do Itaal Shur, tocando órgão Hammond nas músicas do álbum. Ele é coautor, ao lado de Rob Thomas, do hit “Smooth”, gravado por Santana”, acrescenta Eugênio, lembrando que o músico norte-americano participou dos shows da banda em Vitória, em Itaúnas e no Festival de Inverno de Domingos Martins.

Houve também shows com referências do blues nacional, como o gaitista Jefferson Gonçalves, o guitarrista Big Joe Manfra e a banda Blues Etílicos, no qual, diga-se de passagem, a Big Band fez o público pedir bis – o que não é novidade para quem acompanha os longos e energéticos shows da banda.

Big Bat Blues Band
Eugênio Goulart, vocalista da banda Big Bat Blues Band. Crédito: Divulgação

A parceria com Jefferson Gonçalves migrou dos palcos para o estúdio: o renomado músico carioca participou do segundo álbum da Big Bat e convidou a banda a integrar o álbum “Belchior Blues”, lançado em 2012, reunindo canções do lendário compositor cearense, revisitadas por novos e velhos talentos do blues nacional. Nessa coletânea, disponível no YouTube, a banda capixaba estabelece uma conexão entre o Mississipi e o Ceará na releitura de “Fotografia 3x4”.

Com toda essa bagagem nas costas, a agora balzaquiana Big Bat Blues Band deixa suas dicas para quem quiser se formar na escola do blues: “A principal lição que a banda passa é a necessidade de sempre rever o passado da música para se criar ou recriar novas composições. A pesquisa e a formação de um repertório de estilos é muito importante na hora do trabalho de composição. E a banda mostrou durante este tempo que a técnica é importante, mas mais importante ainda é ter o sentimento na hora de tocar”, ensinam.

Já a trilha sonora deste texto fica por nossa conta: que tal ouvir “Destino América”, “Quem”, “Expresso do Blues”, “Não consigo nem mais dormir”, “By My Side”,”Out”, “You Can’t Cum Alone”, “My Mamma’s Buying (a Big House)”, “Amanda Blues”? Todas essas canções estão nas plataformas digitais e no canal da Big Bat Blues Band no YouTube.

Esse é o retrato de uma banda que se entrega ao blues com canções repletas de beleza e profundidade, amor e dor, relaxamento e tensão, encontros e desencontros, e que assume o desafio de se conectar com o novo mundo sem abrir mão da tradição. Vale a pena ouvir de novo, de preferência, com um brinde ao blues renovado!

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