Guardo comigo especial relação afetiva com Colatina. É a cidade do meu primeiro beijo, terra onde estão sepultados a minha avó krenak e o meu pai, berço onde nasceu o meu casal de filhos. Meus pais migraram para Colatina em 1970, no início de minha adolescência. No final dela, embarquei para a vida universitária no Jornalismo e para a viagem sem fim na companhia da Literatura. Voltei para ser professor no Conde de Linhares e, por duas vezes, retornaria como secretário de Imprensa, nas décadas de 80 e 90.
O convite para a secretaria Municipal de Cultura e Turismo reacendeu a relação, reavivou lembranças. O prefeito Guerino Balestrassi, ex-aluno no Conde de Linhares, há muito se qualificara como bom amigo; e é conhecido por duas excelentes gestões na cidade, das quais saiu com mais de 90% de aprovação. Neste janeiro, então, reencontrei mais uma recepção calorosa: de amigos, de parentes e de um sol abrasador, marca registada do verão colatinense. Voltei no ano do centenário da cidade.
Colatina já não é uma menina, sua pose de agora é a de dama com trajetória bem vivida. Eu também não sou o adolescente migrado de Ecoporanga, tampouco o professor de 20 anos. A cidade consolidou-se como polo do Noroeste capixaba, é núcleo de atração comercial, de carreira universitária e de suporte no setor de saúde – é oxigênio num tempo asfixiado por devastadora pandemia. É o primeiro socorro, pulmão regional de dezenas e dezenas de vítimas da famigerada Covid-19.
Não é necessário ser especialista no ramo para saber que não está fácil para ninguém atravessar a crise instalada. Muito menos é fácil dar vida a uma secretaria cujo encanto não combina com distanciamento social – cultura e turismo são nichos da aglomeração. Alia-se à circunstância a certeza de que não dá sequer para imaginar o ano do centenário a transcorrer sem as merecidas celebrações. A vacina no horizonte é o alívio bem-vindo: em primeiro lugar, para salvar vidas; em seguida, para saudar com sinal verde a passagem do elenco de festejos e de feitos planejados para o Centenário.
Na pauta, estão as articulações da Academia de Letras e Artes de Colatina e da Associação de Folclore do Noroeste Capixaba, com sede em Colatina – a região tem 17 municípios e ao menos uma dúzia foi gerada de desmembramentos de Colatina. Conversas adiantadas com Ester Abreu e com Vanessa Pianca – respectivamente, presidente da Academia Espírito-Santense de Letras e presidente da Comissão Espírito-Santense de Folclore – já nos garantiram suporte para efetivação destas concepções.
No primeiro caso, abre-se caminho para se iniciar o projeto literário Coleção Escritos de Colatina, aos moldes do Escritos de Vitória, por mim idealizado na década de 1990; no segundo, a pretensão é marcar no calendário um Desfile Identitário Regional, reunindo anualmente em Colatina grupos folclóricos do Noroeste.
No cardápio, há receitas de festivais de gastronomia, de cinema, de música, de teatro, de circo, de violas e de concertinas, além de torneios de bocha em tabela com futebol. A reedição do projeto Cidade Leitora, a realização de saraus e de concursos literários. A criação de circuitos culturais com pisadas, cavalgadas, pedaladas e motocadas, como a Rota Graça Aranha, que fará parte do trajeto esporeado pelo expoente modernista Graça Aranha, partindo de Mutum de Boapaba até Paul. Outro circuito será conduzido de Baunilha a São Pedro Frio. O formoso distrito de Itapina terá Plano Diretor Cultural, contemplado com série de eventos.
Muitos dos projetos ou eventos têm interface com outras secretarias, porque andorinha só não dá conta do verão de Colatina. Muitos corações serão aquecidos com a Medalha do Mérito Distrital, dedicadas a personalidades das respectivas vilas. Voltará à baila a Comenda Dona Colatina, que já tem um destino mais que certo: a cientista Margareth Dalcolmo, colatinense e eleita Mulher do Ano 2020, uma unanimidade nacional. A sensação é a de que o Centenário será inesquecível – como se fosse um primeiro beijo!
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