Alguns anos atrás, numa coluna sobre cultura, consegui reunir Milson Henriques e José Luiz Gobbi numa entrevista em que cada um fazia perguntas ao outro. Além disso, um relatava sua opinião sobre o outro. Milson descreveu Gobbi com essas palavras:
“Gobbi é antes de tudo um sonhador. De genética intelectualmente privilegiada, para nossa felicidade ele optou pelo teatro, esta arte que está cada vez mais vilipendiada e carente de renovação. Sem optar pelo mais fácil e comercialmente rentável, ele preferiu ousar, mas sempre respeitando e conservando a cultura teatral tradicional... que continue assim. A cidade de Vitória, que precisa tanto do vício da cultura, agradece.”
Essa parceria rendeu muitos frutos e foi responsável pelo grande sucesso “Hello Creuzodete”.
Mas a trajetória de Gobbi começou bem antes, nas mostras de Teatro Universitário, na Ufes, que tiveram seu início em 1976 e o término em 1980, com cinco edições anuais consecutivas. As mostras movimentaram os diretórios acadêmicos que, tradicionalmente, tinham sua atuação centrada na parte esportiva e uma participação política (de inúmeras facções) de resistência militar na época.
Gobbi dirigiu e atuou em “O Auto da Compadecida", um clássico de Ariano Suassuna, apresentado, televisionado e filmado em todo o Brasil, principalmente pelos grupos amadores de teatro.
Gobbi também montou “Como conquistar um Coronel sem fazer força", de Milson Henriques, uma comédia que despertou o interesse do público pela possível identificação de pessoas conhecidas da cidade com personagens da peça. Começa aí uma parceria que seria longeva e de muito sucesso.
Grande parte de sua carreira foi marcada pelo trabalho como diretor em peças como “A Rainha do Rádio (com Tião Sá), apresentada até na Europa, “Ed Wilson - o Bandido da Luz de Neon" (de minha autoria junto com Beto Costa), e a obra satírica “O Guaranizinho”.
Como Marly, personagem de "Hello Creuzodete", houve quase uma simbiose entre personagem/ator . Ele “encarnou” a personagem solitária e carente que refletiu o espírito de uma época moralista e machista que colocava as mulheres num papel secundário. O deboche e a ironia, aliados à comédia, denunciavam com uma linguagem popular esse estado de coisas.
Essa simbiose passou para a plateia capixaba nas suas 130 apresentações da personagem que saiu do papel nos anos 90, incorporou-se nos palcos e entrou no imaginário de uma época.
Nessa breve retrospectiva, dois aspectos se ressaltam:
1. Gobbi teve uma carreira como ator e diretor (e professor) de sucesso em que se destacam a crítica social, a inovação e a ousadia.
2. A constatação de uma vida dedicada à arte (ao contrário dos últimos anos de gestões culturais pífias, com teatros e museus culturais fechados ou inacabados como o Teatro Carlos Gomes e o Cais das Artes), com plateias lotadas e uma vida cultural intensa.
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Repetindo Milson: Vitória e Espírito Santo agradecem a Gobbi por toda essa dedicação e talento.
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