O maior pianista capixaba entre as décadas de 1950 e 1970 completaria hoje 97 anos. Trata-se do músico, maestro e arranjador Hélio Mendes, que embalou bailes, domingueiras e carnavais em clubes da Grande Vitória, no interior do Estado e em outras capitais brasileiras.
Nascido em Alfredo Chaves, Hélio era autodidata, aprendeu sozinho vendo e ouvindo as irmãs mais velhas Hely e Rosilda nas aulas de piano em casa. Suas referências foram Carolina Cardoso de Menezes, Dick Farney e Johnny Alf.
Hélio faz parte da rica história do Brasil de pianeiros, como eram conhecidos pianistas sem instrução formal até meados do século XX. Tocavam de maneira virtuosística a MPB, apresentavam-se em festas e ambientes menos nobres que as salas de concerto e, naturalmente, tocavam de um jeito diferente. Hélio tinha uma particularidade: a mão esquerda dominante, responsável pelo balanço, swing, ou groove característico de suas músicas dançantes.
Ao se mudar ainda jovem para o Centro de Vitória, onde morou o resto de sua vida, ele passou a ser orientado pelo maestro Ernesto Stroback e incorporou à sua música a influência do grande estilo da época, a bossa nova, sobretudo do ídolo Tom Jobim. Era seu gênero favorito nas apresentações, mas seu repertório também incluía samba, música romântica, bolero e rumba.
Sua grande oportunidade surgiu em 1942, aos dezessete anos, quando Hélio iniciou a carreira na orquestra do maestro Clóvis Cruz, músico de alto conceito, pai do compositor e maestro Carlos Cruz. A partir daí, a carreira deslanchou e o jovem músico não parou mais.
Hélio foi líder do Conjunto Hélio Mendes, composto por oito a doze grandes músicos capixabas, como Maurício de Oliveira (violão), Marinho Carlos (acordeão), Cícero Ferreira (pistão e voz), sua esposa Sônia Ferreira (vocal), Paulo Ney (guitarra), Moacir Barros (clarineta e sax), Edílio (contrabaixo), Moacir Lima (ritmista), Betinho (bateria), João de Deus (sax), entre outros. O Conjunto acompanhou nomes nacionais como Francisco Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Marlene, Angela Maria e Emilinha Borba, além do internacional Gregório Barrios.
Durante dezoito anos de carreira, lançou oito LPs e dois compactos duplos. A consagração foi a conquista do Prêmio Nacional Estácio de Sá de 1963 como Melhor Conjunto, no Theatro Municipal do Rio, mesma edição que premiou Elis Regina como Cantora Revelação.
Grande parte dessa história está na biografia “O piano e seu conjunto”, lançada em 2019 com apoio do Funcultura e da Secult-ES, também de minha autoria. Como parte do objetivo de resgatar sua memória, o lançamento teve a sonoridade do Conjunto Hélio Mendes resgatada pelos músicos Fábio do Carmo (violão), Bastian Herrera (piano) e Rodrigo Souza (bateria).
Hoje, mais uma vez, trago a lembrança do artista que viveu da música e tinha convicção da sua arte. Como ele dizia: o que é autêntico nunca morre. Assim sendo, Hélio nos deixou em 1991, mas o que ele fez é imortal.
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