Trinta anos sem Kurt Cobain. Alguém à época de sua morte escreveu que o Nirvana foi os Beatles dos anos 1990. Projeções à parte, o fato é que Kurt Cobain foi gigante ao capturar com olhar poético a melancolia da sua geração, marcada pela confusa transição do mundo analógico para o digital.
Cantor e compositor de rara sensibilidade, era capaz de conjugar, em uma mesma canção, ira e delicadeza, dor e revolta (quem conhece “Lithium” sabe do que estou falando). Anti-herói do rock, Kurt pode ser considerado o expoente do grunge, o último grande movimento desse gênero musical que desde então parece viver em permanente crise de identidade.
Coincidência ou não, ele não resistiu à maldição dos 27 anos, saindo de cena na mesma idade de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones e Amy Winehouse, entre outras estrelas do rock.
É certo que Kurt Cobain deixou milhões de fãs no mundo todo, mas Vitória pode se orgulhar de ter gerado uma banda chamada Nirvana antes do lançamento de “Nevermind”. Corria o ano de 1990, e os adolescentes do Nirvana capixaba estreavam com pompa e circunstância no dia 13 de outubro, no Centro Cultural Carmélia M. de Souza, abrindo o show do The Rain, com direito a notinha na badalada Coluna Victor Hugo de A Gazeta.
O nosso Nirvana compunha canções autorais de estilo melódico e tinha em sua formação os saudosos Cheidid Mamari (vocal) e Fernando “Baboo” (bateria), além de Fábio Lyrio e Klaus Madeira (guitarras), e André “Smurf” (baixo).
Naquele tempo pré-Internet, em que a informação chegava ao Brasil com meses - às vezes anos - de atraso, ninguém na Capital capixaba ainda ouvira falar do Nirvana, muito menos do Subpop, selo independente de Seattle que lançara o primeiro álbum do trio, “Bleach”, em 1989.
Quando “Nevermind” explodiu como uma chuva de meteoros no pop mundial, em 1991, os jovens da Ilha do Boi foram obrigados a buscar outro nome para a banda que ensaiava na casa de Fabio Lyrio. Nascia ali o Skelter, momento no qual começo a fazer parte dessa história como baterista juntamente com o baixista Paulo Fantin. Quem quiser saber mais a respeito pode consultar o livro “Rockrise - A História de uma geração que fez barulho no Espírito Santo”.
Minha geração deve muito ao Nirvana e, especialmente, a Kurt Cobain, por sua obra inspiradora, a voz rouca, a guitarra ruidosa, a melodia perfeita, as letras ácidas e carregadas de tristeza e melancolia, porque já está mais do que provado que para a beleza se estabelecer na arte é necessário um bocado de tristeza, como cantou o nosso genial Vinicius de Moraes.
Grande Kurt. Hoje, em sua homenagem, ouvirei o antológico “Unplugged MTV” do Nirvana.
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