O escritor Machado de Assis
O escritor Machado de Assis. Crédito: Reprodução

Machado de Assis: uma psicologia nova por meio da literatura

A diferença entre Freud e Machado se deve ao fato de Machado ter tomado, logo na origem, ainda bem jovem, o conceito de narcisismo como estrutura do ser humano

Tempo de leitura: 3min
Publicado em 04/05/2024 às 10h00
  • Adelmo Marcos Rossi

    É engenheiro civil (1980), com mestrado em Ciência de Sistemas (Tóquio, 1988-1990), funcionário da Vale por 20 anos (1980-2000), de onde saiu para se tornar empreendedor; graduou-se em Psicologia pela Ufes (2004-2010), com mestrado em Filosofia (2013-2015), com o tema Filosofia do Acontecimento, a partir do qual iniciou suas pesquisas sobre o Narcisismo

No livro “O Imortal Machado de Assis – Autor de si mesmo”, proponho-me demonstrar, empregando as palavras do próprio Machado, que ele teria criado, como afirma, uma “nova doutrina psicológica”, na qual, segundo o escritor, “reúno em mim mesmo a teoria e a prática”, que seria descoberta “por volta de 2222”. Aqui e ali ele vai deixando essas pistas.

O bruxo desvenda um mecanismo psicológico intrincado da linguagem: seu efeito retroativo de sentido, tal como se exemplifica na frase “só no fim desta fala compreendi que era ridícula” ("Eterno", 1887), em que o fim remete ao início.

Essa propriedade da linguagem é mostrada, pela primeira vez, na breve narrativa de três páginas, escrita pelo autor aos 19 anos de idade, "Três tesouros perdidos" (1858), em que apenas após ter perdido três tesouros, o Sr. F... adquiriu o juízo da perda.

A perda afeta o amor-próprio daquele que a sofre, o que, em Freud, é denominado “castração”: perder produz uma ferida no narcisismo.

A relação de inversão vem em consequência da própria conquista do narcisismo na infância, uma conquista que somente acontece após ter vivido a experiência, que vai de zero a cinco anos de idade: “Uma unidade comparável ao Eu não existe desde o começo no indivíduo; o Eu tem que ser desenvolvido” (Freud, O Narcisismo, 1914), o Eu não é biológico, mas uma conquista invertida relativamente à experiência.

É desse efeito invertido que provém a dificuldade na compreensão do narcisismo: é somente após viver a experiência que se tem uma imagem dela.

Considerando esse efeito reverso, o narcisismo foi tomado como princípio da psicologia literária daquele que se tornou o maior escritor brasileiro, que, além desse conceito, tomou outros como fundamentos para seu projeto literário: Petalogia, Caiporismo, travessia do Rubicão, Lanterna de Diógenes, Pílades e Orestes, Prometeu no Cáucaso, Similia similibus curantur, Posteridade, Originalidade, e outros, com paralelos na psicanálise de Freud.

Esse paralelo entre os dois pensadores não deve surpreender, visto que, desde a infância, todo ser humano, em sua formação, absorve, sem consciência dessa absorção, conceitos psicológicos presentes na cultura. A psicologia está presente na constituição de todo indivíduo sem que ele o perceba.

A diferença entre Freud e Machado se deve ao fato de Machado ter tomado, logo na origem, ainda bem jovem, o conceito de narcisismo como estrutura do ser humano, e com ele vislumbrou ser bem-sucedido na vida como escritor literário e chegar à posteridade, enquanto Freud iniciou pela medicina partindo dos sintomas neuróticos, e mais adiante, a partir de 1910, deparou-se com o narcisismo como conceito fundamental, e fonte das doenças, introduzindo-o, então, na psicanálise, em 1914, já com 58 anos, o que demonstra o quanto esse conceito subjetivo é difícil de ser apreendido, e escapado ao próprio Freud, considerado o médico da alma.

A originalidade de Machado, o que o facilitou em sua caminhada, foi a antecipação do narcisismo, que foi para ele a priori, tendo surgido a posteriori em Freud.

Este livro dá continuidade à minha pesquisa anterior, “A Cruel Filosofia do Narcisismo” (2021), no qual ressalto o tropeço tardio de Freud com o narcisismo, um conceito estrutural do ser humano.

PROGRAME-SE

Lançamento do livro “O Imortal Machado de Assis – Autor de si mesmo”

  • Autor: Adelmo Marcos Rossi
  • Data: 14 de maio
  • Horário: 19h
  • Local: Biblioteca Pública Estadual Levy Cúrcio da Rocha - Av. João Batista Parra, 165, Enseada do Suá, Vitória (ES), 29.050-375
  • Telefone: (27) 3137-9351
  • Edição do Autor
  • 456 páginas
  • Preço: R$ 120,00

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