Maria Ortiz nasceu e viveu em Vitória — durante a chamada União Ibérica, entre 1580 e 1640 — quando os espanhóis tiveram seus domínios estendidos para o Brasil. Os pais dela nasceram na Espanha e para cá vieram em 1601, com as facilidades que foram criadas para esse tipo de intercâmbio. Ele nasceu dois anos depois.
Primeiro, vamos entender um pouco aquele momento histórico. Ele estava marcado pelo fato do comando de toda a colônia, derivado da mesma União Ibérica, haver desarticulado todo o sistema de comercialização do açúcar brasileiro, que até então era apoiado em uma articulação entre os mercadores portugueses – que tinham monopólio da venda de toda a produção brasileira – e os holandeses. Os últimos faziam de fato as vendas e a distribuição para o mercado europeu.
Portanto, é preciso ficar claro que os holandeses eram sócios da economia açucareira do Brasil, já que investiam capital no transporte e em etapas da própria produção, mas os espanhóis estavam em guerra aberta contra a Holanda.
Porém, com a União Ibérica os espanhóis acabaram cortando as relações econômicas entre portugueses e holandeses, desarticulando esse arranjo que abrigava tantos interesses. A reação dos holandeses foi a criação da Companhia das Índias Ocidentais, que era de fato uma grande empresa comercial para a época. Sem acesso aos mecanismos comerciais que estavam estabelecidos, resolveram estabelecer uma colônia no Brasil.
A primeira tentativa se deu na Bahia em 1624. Logo depois, em 1625, foi a vez do Espírito Santo. Os holandeses atacaram Vitória com oito naus, que ficaram ancoradas na Baía de Vitória. O governo da capitania organizou a defesa. O acesso ao centro da vila se dava por uma ladeira íngreme e estreita onde hoje existe a Escadaria Maria Ortiz. No pé da ladeira havia um pequeno cais. Maria Ortiz, uma jovem de 21 anos, morava num sobrado no alto dessa ladeira.
A jovem capixaba utilizou sua grande capacidade de liderança para arregimentar pessoas do povo que não participavam das forças oficiais e organizar um reforço da defesa. Assim, quando os holandeses começaram a subir a ladeira foram surpreendidos por essa força popular que estava alojada nos sobrados. Foram despejadas pedras, paus, água fervendo, brasas, dejetos. Enfim, tudo o que estava ao alcance do improvisado grupo de defesa.
TEMPO NECESSÁRIO
Evidentemente que tais esforços não foram suficientes para a expulsão dos invasores, como diz a lenda, mas deu o tempo necessário para que as forças oficiais fossem se posicionando de forma a permitir a defesa de fato. Enquanto se travava a luta, a mesma Maria Ortiz exercia um notável papel de liderança, incentivando a todos ao combate. Tudo isso está contado por Nara Saleto no livro “Donatários, Colonos, Índios e Jesuítas”.
De fato, os holandeses foram rechaçados, mas tornaram a atacar a vila e as fazendas que haviam na mesma área. Foram derrotados com a participação da armada de Salvador Correa de Sá, que chegava ao Espírito Santo naquele momento. Mas não foram poucos os prejuízos que causaram.
POUCOS REGISTROS
Quanto à nossa jovem heroína, pouco se sabe dela depois disso, a não ser que morreu aos 43 anos aqui mesmo na ilha que ajudou heroicamente a defender. Por ser pessoa simples e sem títulos de nobreza, poucos registros temos dela. Aliás, pouco falamos de nossos heroísmos populares.
Quanto aos holandeses, foram expulsos da Bahia logo depois do ataque ao Espírito Santo. Mas dois anos depois em 1628 saquearam uma grande frota que transportava prata vinda do Peru para a Espanha. Com os recursos obtidos com esse saque preparam uma poderosa armada que conquistou Pernambuco, que tinha a melhor produção de açúcar naquele ano de 1630. Lá ficaram por 24 anos, e deixaram um grande legado para a história.
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