O racismo é a principal consequência no tempo presente do passado escravista do Brasil e do Estados Unidos e, podemos defini-lo como um mecanismo de opressão e dominação, presente na formação e estruturação desses países. Ambos foram construídos sob o uso da exploração de mão de obra africana, destarte, possuem resquícios do passado escravista em sua atualidade.
Os caminhos percorridos pelos dois países para a abolição do escravismo foram diferentes. No país norte-americano, a exploração negra se encerrou oficialmente após a Guerra de Secessão. No Brasil, o fim da escravatura foi uma medida que atendeu a pressões externas de aliados econômicos, com a atuação do Movimento Abolicionista brasileiro.
No dia 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea, que acabou oficialmente com o escravismo no Brasil. No entanto, a abolição não representou o fim da condição, pois os ex-escravos precisariam alcançar a cidadania. Apenas acabar com o escravismo não foi fator suficiente para melhorar as condições de vida da população negra, que continuou a ocupar lugares à margem da sociedade.
São inúmeros os eventos de racismo na história dos dois países, em que militantes negros como Martin Luther King, Malcom X, Abdias do Nascimento, Sueli Carneiro, entre outros, destinaram suas vidas em prol da causa antirracista.
Mesmo passados tantos anos do chamado fim da condição de escravidão, os casos envolvendo morte de pessoas negras em ambos os países seguem acontecendo cotidianamente. É bem comum que essa situação, que tem origem, meio e fim no racismo, seja retratada pelo o uso da violência policial que é fruto do racismo estrutural presente nestas sociedades, desde a fundação.
Em 17 de julho de 2014, Eric Garner foi estrangulado por um policial branco em Nova York, por cerca de 19 segundos enquanto estava sendo preso, suas últimas palavras foram: “i can’t breathe”, em tradução livre, eu não consigo respirar. Essas mesmas palavras foram ditas por George Floyd em situação semelhante, no dia 25 de maio de 2020, quase seis anos após o primeiro caso.
Na semana anterior à morte de Floyd nos Estados Unidos, um garoto de 14 anos, chamado João Pedro, morador do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, foi morto a tiros de fuzis enquanto brincava no quintal de casa, ao mesmo tempo em que ocorria uma operação policial na comunidade em que morava. Antes de João Pedro, outras pessoas negras também foram mortas em “operações”, ou mesmo abordadas de forma truculenta pela polícia no Brasil.
Os casos em questão são inúmeros, como o da menina Ágatha Felix, de 8 anos, baleada nas costas enquanto voltava para casa com sua mãe, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. A morte do músico Evaldo dos Santos, alvejado com mais de 80 tiros de fuzil, após seu carro ser confundido com o de assaltantes, ou mesmo o espancamento sofrido por um jovem negro, morador da periferia de Salvador, ao ser considerado um marginal pelo penteado Black Power que utilizava, vale relembrar que este penteado é símbolo da cultura negra ao redor do mundo. São essas situações que nos provam a presença do racismo estrutural tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Segundo relatório produzido pela Rede de Observatórios da Segurança, pessoas negras configuram 75% das mortes pela polícia no Brasil. Vale mencionar que o número de homicídios no país é de 28 pessoas a cada 100 mil habitantes; entre os homens negros na faixa etária entre 19 e 24 anos, esse número ultrapassa a marca de duzentas mortes.
A pergunta que devemos nos fazer é, qual a razão para isso? De acordo com o relatório:
“Meninos negros das periferias aprendem a ter medo da polícia desde pequenos. Sabem que podem ser alvos de abordagens injustificadas, revistas humilhantes, prisões ilegais, agressões verbais, flagrantes falsos e algumas vezes espancamentos e morte, [...], pois o racismo é o motor do funcionamento pleno das instituições herdadas de um país escravista, de uma elite colonial, e essas instituições agem conferindo desvantagens e privilégios a partir da raça”.
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A existência do racismo de certa maneira molda as relações cotidianas da sociedade brasileira e estadunidense, e apenas superando esta prática podemos almejar uma sociedade melhor. Ou seja, mais do que apoiar e discutir a causa antirracista, é necessário promover ações em prol dela, pois como salientou a filósofa estadunidense Angela Davis: “Numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.
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