A natureza da música é enigmática. Mas a música é a mais antiga e elementar das artes e sofreu alterações em suas apresentações no decorrer do tempo. Ela é considerada pelos românticos como a linguagem do sentimento e por Wagner como a “linguagem do coração humano”. Ela se encontra entre as várias práticas de magia de povos primitivos, representada como reflexo do recôndito do mundo. Se voltarmos nosso interesse para a cultura musical da Grécia Antiga, verificaremos que a palavra música tem a sua origem no termo grego “Techne”, que significa técnica, junto a “Mousikê”, musas. Isto é, como técnica ou a arte das musas, ou dos deuses.
A música era uma espécie de união entre os homens e as divindades. Na mitologia greco-romana, as deusas guiavam e inspiravam as ciências e as artes. Apolo, considerado um dos maiores deuses do Olimpo, era venerado como o deus da luz, da profecia, da cura, da juventude, da verdade, do tiro ao alvo, da peste, da poesia, das artes, e da música. Ele é frequentemente associado ao Sol, embora, mais precisamente, Hélios fosse considerado o deus-sol. Apolo tangia a harpa.
Ainda, na mitologia grega, podem ser citados outros mitos que executavam instrumentos musicais. Pan, representado com chifres e pernas de bode, deus dos bosques, do campo, levava em suas andanças uma flauta. Orfeu, poeta e músico, quando dedilhava as cordas da lira encantava animais e pessoas.
Sendo a música uma tão antiga arte e com mitos atuantes na essência musical, tocando respectivos instrumentos, e sendo considerada como o âmago de todas as coisas, poetas, filósofos, estéticos e músicos foram levados a escrever sobre ela. E, espelhada nos artífices (músicos, cantores e compositores), a música foi o motivo de obras do capixaba José Roberto Santos Neves, que gravou, como baterista, “Hidden Melody”, da banda The Rain, e “Todo dia é dia de blues”, da Big Bat Blues Band.
O crítico musical e jornalista José Roberto pertence à Academia Espírito-santense de Letras, onde ocupa a cadeira 26, e tem como antecessor o escritor Marien Calixte, jornalista, radialista e promotor cultural. José Roberto domina a arte da informação, da reflexão e do pensamento crítico e, como um excelente jornalista, repórter e amante da música, publicou as obras: “Maysa”, onde registra a vida da cantora Maysa Matarazzo, a musa de olhos verdes; “A MPB de Conversa em Conversa”, onde reúne 40 entrevistas com nomes famosos da música popular brasileira; além de “Rockrise” e “Crônicas Musicais e Recortes de Jornais”.
Em 2021 José Roberto lançou a obra “Os Sons da Memória”, e nela, em 464 páginas, marcadas com textos de entrevistas, comentários e gravuras, ele registrou sua leitura crítica de 40 discos que assinalaram época no Espírito Santo. Essa obra, pela extensa pesquisa, torna-se uma leitura obrigatória para o presente e para o futuro de quem procura conhecer cantores, compositores, regentes, letristas, bandas, orquestras instrumentais e arranjadores capixabas do século XX.
Segundo o autor, na obra “Os Sons da Memória”, ele busca “estabelecer como meta lançar luz sobre músicos cujos nomes corriam o risco de desaparecer na poeira do tempo, a despeito de sua relevante produção para o cenário capixaba”, e “ilustrar uma trajetória rica e diversa, que perpassa diferentes gêneros musicais”.
Em 2024, José Roberto, com vista ainda na memória musical, lançou a obra “Diários do Rock in Rio”, com 120 páginas, editada pela Editora Cândida, cujo teor, resumido na capa, ilustra o conteúdo: “Os bastidores e entrevistas da terceira edição do maior festival de música do mundo pelo olhar de um jornalista capixaba”.
Mas esse jornalista, se na obra “Os Sons da Memória”, de 2021, focou a preservação memorialista capixaba do mundo artístico musical, agora, em 2024, estendeu seu olhar para um maior horizonte, para relatar um fato ocorrido de 12 a 21 de janeiro de 2001. Porém, o início da divulgação para o “Rock In Rio por um Mundo Melhor” ocorreu em 20 de junho de 2000, e, segundo o autor, contagiando “rapidamente a juventude capixaba”.
O início do prólogo dá a notificação da importância do que será apresentado nas páginas seguintes: “O Rock In Rio é muito mais do que um megaevento: representa um marco geracional e comportamental no país. Foi através do Rock In Rio que o Brasil entrou definitivamente no mapa dos grandes festivais de música internacionais”.
Essa obra é leitura obrigatória para se ter um conhecimento de uma geração que “amou o rock”, para obter um modelo de uma obra jornalística, para sentir como esse estilo musical encantou a tantos jovens no início do século XXI e, para aqueles que viveram o momento, recordá-lo. Contudo, se com o estilo do rock se pretende ver uma novidade musical, pode-se depreender que, ainda, prevalece nesse ritmo o sentido primeiro da palavra música: “técnica das musas”.
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