Jorge Sagrilo captou a imagem acima com a sensibilidade que lhe é peculiar, na qual a conjugação entre o sítio original e a ação humana compõem um belo repertório que transcende ao comum. Ganha um patamar de inexorável beleza: o divino, aquilo que não se explica, só se sente e eterniza-se no tempo.
A Ilha das Caieiras foi meu objeto de pesquisa do mestrado, e por lá andei inúmeras vezes, conhecendo cada canto, os moradores e suas tradições, no esforço de compreender essa complexidade da dinâmica inerente à paisagem urbana. A conjugação de valores e matéria num espaço único. As formas materiais da paisagem, inscritas na lógica de constante evolução, desafiam nossa capacidade de entendimento dos processos que as produziram.
Nessa perspectiva, a visão daquilo que nos apresenta, em um determinado momento como imagem, é dificultada pela aparente banalidade de um mundo concreto. Mas o olhar observador e perceptivo de Sagrilo bem soube refletir e reunir tudo isso numa única imagem.
A fotografia foi a ferramenta utilizada por ele para expressar a paisagem contemporânea e a ambivalência do seu cotidiano, capaz de gerar maravilhas, híbridos de natureza e cultura. Ou seja, a partir da percepção e da interação com o físico real, Sagrilo foi capaz de transformar e gerar uma imagem poética.
O fotógrafo que permite explorar poesia e técnica, ambos simultaneamente no ato de fotografar, eleva a condição de sua arte, ao expressar de forma sutil e apropriada o contexto da modernidade. Portanto, a sua fotografia passa a ser também uma crítica materializada da sociedade contemporânea.
Jorge Sagrilo produziu um acervo enorme de fotografias excepcionais. Podemos afirmar que, por meio de experiências cotidianas, os artistas e poetas não só compreendem o espírito de uma época, como respondem ao processo de mudança através de sua arte. Esteja em paz, Sagrilo, sua obra está registrada na memória afetiva e cotidiana dos capixabas e perdurará como legado valioso para as futuras gerações.
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